Em todos nós desta casa, o amor pela família é incrivelmente grande. Isso sempre ficou evidente ao nos encontrarmos nos eventos familiares, aos domingos ou tardes da própria semana, em conversas agradáveis nos jardins da chácara de meus pais.
Recentemente, devastados pela perda de nosso chefe de família, meu pai Carlos Alberto, tal certeza se superou e se mostrou quase física, sobretudo na emoção de meus filhos em seu funeral.
Esse sentimento nobre que nutrimos uns pelos outros no clã em que fomos criados, tem sido o combustível para os momentos mais difíceis de nossas vidas e também servem como fluído encorajador para os grandes desafios.
Devido a perda de meu velho pai, que sempre gostou de expressar seus sentimentos pela escrita, estamos fuçando seus guardados e já conseguimos encontrar poemas, textos, crônicas, desabafos e mensagens mui especiais que passarei a publicar a quem interessar possa.
Fazendo isto, penso estar realizando um tipo de homenagem, mas ao mesmo tempo pondo ao dispor um pouco de sua sabedoria, sempre oriunda de uma vivência fantástica.
O primeiro texto, uma mensagem dele para sua mãe (dona Amor) falecida nos anos 60s e que lhe deixou profundas marcas. Esse texto, por si só, reforça o que afirmo sobre o amor familiar que trazemos.
Tudo neste mundo parece-nos ter sua última vez. Isto nos leva a refletir um pouco mais em
tudo e no mundo em que vivemos e, se formos buscar no fundo de nosso baú, vamos
encontrar referência a esta ou aquela citação como Paulo Sérgio encontrou sua
música, Nicholas Sparks como suporte a um de seus romances e isto nos remete a
situações inusitadas que envolvem nossos sentimentos, tornando muitas vezes uma
separação entre dois seres que se amam, um marco afetivo que jamais nos sairá
da memória.
Aí nos deparamos com o velho refrão de que “recordar é viver”, ou
trazer até nós recordações que nos lembram dias felizes, ou que nos fazem
sofrer duas vezes, ou ainda, que são um lenitivo para a gente, pois trazem até
nós, no presente, coisas que há muito se acham ausentes. Isto, logicamente, depende
de cada um de nós. Na verdade, buscamos
na saudade, momentos que nos satisfaçam e, muitas vezes encontramos sentimentos
de dor e tristeza.
Muitas vezes eu vi escritos maravilhosos sobre minha mãe e sobre
minha sogra, de autoria de meus filhos.
Eram verdadeiras apologias que me sensibilizaram bastante e que ao me
por a escrever sobre elas, necessito analisar o que direi, pois reconheço que
não o conseguirei tão loquazmente como eles o fazem.
Acredito que esta será também a última vez que as citarei em minhas
considerações. Ontem, vinte e dois de
março (2022), fez exatamente cinquenta e quatro anos que minha mãe faleceu e
levou consigo um “não sei o que” do íntimo de nossa alma que nos machucou de
uma forma que, até hoje sentimos verdadeiramente tristes e saudosos. Sentimos um amargo cruel do qual dificilmente
nos livraremos, pois tempo também é relativo e depende de quem a ele se refere
no momento. É como falar de um copo com
água pela metade que, segundo uns está quase cheio e para outros, se encontra
quase vazio.
Como eu disse, minha mãezinha faleceu no dia vinte e dois de março e
hoje, exatamente neste momento, nove horas da manhã, recordo-me assistindo à
missa de corpo presente que era celebrada para a alma de minha mãe em Nova Granada,
cidade em que mamãe morava, por ocasião desse evento. Foi talvez o momento mais
triste por mim vivido em minha vida.
Desse dia em diante, muita coisa mudou em minha vida, mas fica a
gratidão a ela tanto quanto à minha sogra que, na falta de outra avó, nos
ajudou a orientar nossos filhos e a cria-los com todos os atributos que
guardaram e cultuaram até os dias de hoje.
Falar sobre minha mãe não é assim tão fácil como se imagina. Honestamente, não encontro em nossa língua
palavras com as quais eu possa me referir a ela com os termos que ela
merece. Por essa razão eu me calo e sufoco
dento de mim todos os sentimentos que afloram em meu coração e que deveriam ser
ditos a ela. Por essa razão somente uma
coisa eu falarei a ela de todo o meu coração: “Mãezinha, minha querida, como a
minha vida poderia ter sido tão diferente, tenho certeza, se você tivesse
estado presente conosco. Você jamais
poderá saber a diferença que a falta de seu amor presente nos fez.
Saiba mãezinha, que o que acho incrível é a maneira com a qual meus
filhos, que não a conheceram pessoalmente, se retratam a você, pois percebe-se
neles uma forma de carinho todo especial quando eles a você se referem. Imagine então se eles a houvessem conhecido.
Só me resta dizer a senhora que, hoje estou com mais de oitenta anos
e batalhando há mais de dois anos contra uma doença inglória da qual, se Deus
me livrar de suas garras, ficarei grato, pois me permitirá conviver mais algum
tempo com minha maravilhosa família e, caso contrário, espero me reunir mais
cedo a você, como o quiser Deus.
Agora, em meu último adeus, como sempre, peço mais um favor: “Abençoa-nos
como sempre o tem feito e, fica sempre ligada à minha esposa, aos meus filhos e
aos quatro netos que eles nos outorgaram. Beijos e até breve”.
Carlos Alberto Gomes (Gomes de Castro)
São José do Rio Preto, 22 de março de 2022.
Saudades que será inextinguível...
ResponderExcluirNem me fale.
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