Marcelo Gomes
Poema ao meu avô José
No mergulho das lembranças mais serenas
Par de olhos
cintilando honestidade
Pele rota;
uma expressão da lida árdua
Roupa velha
desprezando a vaidade
Da origem,
pouco nobre, se inclinava
Ante ao
lema: de servir que ser servido.
Era um rei
usando a pele de um plebeu.
Tendo
terras, quis passar despercebido.
Da labuta só
parava pra aguardar,
Perdulário
da riqueza em alegria
Dedicando
toda a vida para a terra,
Os festejos
— sua prole reunia.
Pai austero
de semblante oriental
Como a rocha
junto ao mar que desafia
Pai zeloso
que acolhe o pobre enfermo
Como estrela
que constante lume guia
Conhecia as
leis da terra e das monções
Com esmero
preparava a plantação
Pelo afago e
dos cuidados recebera
Da mãe Gaia
a eterna gratidão
Cio da terra
na lavoura de café
Ouro verde
que o progresso acompanhou
Braços
fortes, dedicados, que cuidaram
Gentil solo
que a semente despertou
As videiras
trabalhadas e vistosas
Floração do
cafezal que exalava
Alvas flores
com seu manto um bom perfume
Doce vida
que das leivas germinava
Lindos
bosques, arvoredos, capoeiras
Preservados:
o fascínio ambiental
Das
nascentes cristalinas bela seiva
Mata a ânsia
do sedento e do animal.
E exibia com
esplendor conhecimento
Um agrônomo,
geólogo, botânico
Segurava com
seus calos sua família
Como um
Atlas segurava: um titânico.
Mas os deuses que figuram na história
São
quimeras, criações da humildade.
Meu avô, de
carne e osso, também falho
Sua queda
demonstrava humanidade.
O prelúdio
do retorno do trabalho
Sabiá que no
arrebol cantarolava
A enxada
junto aos ombros dos colonos
Exibia a
linda terra que sulcava
Percorrendo
aquelas sendas ladeadas
De paineiras
que estas sombras projetavam
Um artista
cujas tintas eram sonhos
Que na tela
da fazenda se expressavam
Artesão cujo
cinzel era uma enxada
Esculpia a
fértil terra bravamente
Fez da vida
a mais robusta ferramenta
Como o
cedro, seu exemplo é imponente
Do vermelho
da hematita oxidada
Germinavam
lindos frutos como filhos
De seus
campos de tombadas terras férteis
Se veriam
imigrantes em seus trilhos
Nova Espanha
desabrocha como um lar
Nos
recônditos do estado interior
Juventude
junto às praças namoradas
Nesta terra
meu avô encontra o Amor
Nas memórias
cujos frêmitos das mãos
Com orgulho
os seus calos exibia
Agitadas
eram mãos trabalhadoras
Mãos afáveis
que a todos estendia.
Se um afago
ao seu caçula não faltou
Se nas dores
e horas tristes nem um ai
Das sementes
que caíram em solo fértil
A melhor que
despertara foi meu pai
Como as
folhas outonais que se desprendem
Foi silente
redimir sem pejo e dor
Redimir com
mansidão os torpes erros
Tão sublime
por amar o próprio Amor
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