Carlos Gomes e Darci, 56 anos de casamento |
Nascido na primeira metade do século passado, ele foi seminarista, trabalhou na fazenda do pai, se matriculou para fazer medicina em Ribeirão Preto, se formou em Magistério, Estudos Sociais e Pedagogia. Vendeu livros, seguros, teve com a esposa sua própria confecção, sendo por fim diretor de escolas quando se aposentou.
Além
desse vasto currículo, escreve poesias e já publicou dois romances com
características bastante realistas e típicas de uma vida devotada à família e a
reminiscências de sua infância e juventude em Nova Granada, cidade do interior
de São Paulo.
Carlos
Alberto Gomes completou em outubro de 2021 seus 80 anos e há 3 vive uma batalha
feroz contra seu segundo câncer.
O
objetivo dessa entrevista é tentar aprender com sua vivência que misturou de
tudo. Desde as travessuras habituais de
criança arteira, até o assombro de tocar o próprio negócio no período mais
aterrorizante da Economia do país até então.
De
espírito progressista, passou incólume pelo Regime Militar e assiste, não sem
revoltas, as ameaças à democracia brasileira da atualidade.
Em
sua chácara em Guapiaçu, no paradisíaco condomínio que vive com Darci, sua
mulher, entre flores e pássaros, ao lado dela e de dois de seus netos, concedeu
essa entrevista em uma linda tarde de sábado, após um delicioso frango cozido.
AC
– Professor, fundamentalmente o que tem de mais diferente entre os anos dessa
nossa década em relação a década de seu nascimento?
Prof.
– Olha! Acho que se torna difícil elaborar uma comparação ou mesmo qualquer
tipo de mensuração em relação a esse seu questionamento. Veja bem que houve uma revolução total em
todos os setores da vida, tanto no aspecto familiar, quanto no que diz respeito
às sociedades hodiernas de todo o nosso planeta. Se você analisar o “quadro de
valores” de nossos pais em relação ao nosso, ficará por certo “de queixo caído”. E analisando o nosso tempo, em relação ao de
nossos filhos, ficará ainda mais surpreso quanto à rapidez com que tudo se
passou. Vocês que são mais novos, talvez
não se surpreendam tanto, pois ao tomarem assento na carruagem o fizeram com
ela já em desabalada carreira, ou velocidade, como queiram. Analise o que
chamamos, embora hoje quase não se nota, de “choque de gerações” entre o
relacionamento meu, talvez o de seus pais com vocês e verá quão difícil foi
para eles, pais, deglutirem o comportamento jovem na transição do advento dos
anos sessentas. Ali quase tudo virou de
cabeça para baixo. O que hoje para nós
significa o forte de nossos filhos (eita machismo!) ¨ficarem” com seus
namorados em comparação a esse hábito naquela época. Mas voltando à
generalização de sua pergunta, veja por si o que se passa hoje em todas as
relações sociais: religiosa, familiar, política, ética etc., isso sem entrar em
análise quanto ao nosso estado de direito democrático que atualmente vem sido
aviltado em nossa Carta Magna. Enfim,
hoje, a cada dez anos há uma evolução de séculos, comparados ao século passado.
AC
– Como o senhor espera, seja o mundo para os seus netos quando eles estiverem
com a idade que o senhor tem hoje?
Prof.
– Não só espero, mas rezo para que sejamos protegidos de alguns políticos que
surgem atualmente. Logicamente no
passado surgiram alguns em determinados países, mas como não nos atingem
diretamente, pouco ligamos. Hoje temos
um perigo enorme que chega até nós empalando em nossa bandeira e
acompanhando-os chega também uma enorme carga de armas e artefatos
bélicos. Num futuro bem próximo, pode
isto se converter num perigo eminente.
Há que se estabelecer sistemas educacionais que nossos governantes nos
protejam com efetivo sistemas de segurança e saúde. Infelizmente nossa
sociedade está em perigo. Nosso país
encontra-se em mãos de um presidente doente que já devia estar excluído de
nossa política. Mais do que nunca havemos de crer em nossas Forças Armadas caso
o perigo aflore e aumente o risco nosso, de nossas famílias e toda a nossa
sociedade. Que a Educação, Saúde, Segurança e amor sejam um antídoto eficiente
contra as mentes insanas que hoje abundam em nosso país.
AC
– Sua ida para o seminário se deu em tenra idade. O senhor encara isso como um
erro de seus pais? O senhor carrega
alguma revolta, ainda que contida, de ter sido apartado de casa e dos amigos
naquela altura?
Prof.
– Quanto a essa separação da família prematuramente não a vejo assim tão
drástica. Fui coroinha desde os seis
anos e pertencia a uma família efetivamente católica, principalmente minha mãe
e mais explicitamente uma irmã: a Albina, que segundo seu médico do leito de
morte, não era uma mulher que ele tratava, e sim uma “santa”. Tinha onze anos, fui para o seminário menor
onde fiquei três anos. Percebi logo cedo
não ter vocação para tal vida e saí.
Para mim foi quase que natural essa etapa de minha vida.
AC
– E essa volta pra casa depois dessa experiência? Foi difícil ou o senhor quis “tirar o
atraso”? Dá pra contar qual foi a maior travessura?
Prof.
– Dos meus 6 aos 14 anos de idade tive de fato um período em tanto turbulento
no que aprontei muitas artes. Muitas
delas me expuseram a sérios riscos como quedas de árvores, telhados, caminhões
em movimento e por aí afora. Isso
mereceu uma compilação que denominei de “Minhas Reminiscências” que formaram
uma coletânea de fatos que encadernei e fazem parte de minhas escritas que
constam de 3 livros, 2 publicados pela Editora Scortteci – São Paulo, 1
terceiro, um compêndio com as reminiscências, outro com poesias e 1 outro ainda
com “Críticas e Contos”. Quanto a maior arte, pelo perigo ao qual expus as
meninas, foi eu ter entrado na boleia do caminhão, que geralmente meu pai
estacionava em frente de casa, cuja rua era traçada com um declive bastante
acentuado e enquanto minha irmã, amiguinhas e outras sobrinhas e primas
brincavam na carroceria, eu soltei o freio de mão e saltei para fora, deixando
o caminhão descer rua abaixo. Por sorte
o vizinho viu e correu atrás e entrando na cabine, brecou-o. Meu pai chegava
nesse momento e, tendo conversado com o vizinho, deu-me uma surra tão grande
que me levou a ficar de cama uns 3 dias.
Reconheço que foi pouco, mesmo não pensando assim na época do ocorrido.
AC
– Falta energia nos pais de hoje perante seus filhos?
Prof.
– Eu não diria nesses termos. Na
verdade, em alguns lares, o que falta é atenção por parte dos pais. Mas isto também se passou conosco. Reconheço
hoje, que indubitavelmente, na idade em que meus filhos talvez mais precisassem
de minha presença eu pensava somente em trabalhar. Tive a sorte, felicidade, de eles serem como
são. Como considero o caráter como uma das
maiores qualidades do ser humano e nesse quesito tê-los como excelentes, me dou
por satisfeito. São extremamente
humanos, caridosos e ilibados em relação ao contato com os demais
semelhantes. Como os amigos dizem que
eles são frutos do exemplo e convivência com os pais, eu e a esposa somos
felizes.
AC
– O senhor foi professor e diretor de escola.
Quais as maiores diferenças entre os alunos que o senhor assistiu por
último, daqueles que o senhor abraçou no início da carreira?
Nesse
quesito eu sou suspeito para falar. Eu
consegui, além do trabalho pedagógico, ser amigo dos alunos. E olha que eu era enérgico para com eles. Eu
sempre preparei minhas aulas em cima de textos por mim elaborados. Nos textos, sempre inseri tudo que ensinaria
naquela semana e ou quinze dias. Como
diretor eu, nos intervalos (recreio) circulava pelos pátios e sempre tinha um ou
outro aluno que pedia para conversar comigo.
Geralmente o problema era de âmbito familiar. O mesmo ocorria com pais. Após reuniões de pais e mestres não raramente
havia pais que pediam para eu conversar sobre os filhos. Tinha inclusive cópias de cartas que me foram
enviadas por alunos.
AC
– O senhor também gosta de escrever. A experiência como vendedor de livros
influenciou isso?
Prof.
– Se formos analisar bem, talvez cheguemos a essa conclusão. Essa profissão de
vendedor de livros exercia como “bico” para complementar o salário. Não é segredo que no Brasil o professor é
muito mal remunerado e como estava sempre cercado de livros, eu os folhava e
passei a adquirir o hábito de lê-los.
Também sequer os nossos professores têm o hábito da leitura. Daí, acabei por escrever. A princípio era mais um hobby, mas foi se
firmando e se arraigou passando a fazer parte de meus hábitos cotidianos.
AC
– Qual o seu escritor preferido? E
poeta?
Prof.
– Na verdade eu li bastante Machado de Assis, Jorge Amado, Carlos Drumond,
assim como Fernando Pessoa e poesias do final do século 19. Sempre gostei de
poesias com rimas o que exerceu tanta influência que justifica meu estilo de
poesias nas quais as rimas são constantes. Até os 14 anos eu nunca havia lido
um livro senão os pedagógicos e cujas obras até bem pouco as recordava
plenamente. Foi assim que, aos 14 anos
ganhei um livro de meu avô paterno. Ele
viu-me passando pelo jardim e me abordou, sempre com o mesmo chavão:
“Dom Carlos de Bragança,
Filho de Luis Primeiro;
Pagas a honra que roubaste
À filha do jardineiro”.
E,
chamando-me disse: “Hoje encontrei entre meus pertences este livro. Quero que o leia porque gostei muito de sua
história.” Agradeci, examinei-o e fui para casa. O autor nunca ouvira mencionar o nome: Gilda
de Abreu. Três dias depois resolvi
lê-lo. Era um romance de ficção que abordava o tema da escravatura. Isso deve ter me influenciado tendo em vista
que muitos foram os outros que li, tanto romances, quanto poesias acerca do
tema sobre escravos. Uma poesia que muito me agradou na época foi justamente
“Mauro, o escravo”. Um verdadeiro romance em versos de Fagundes Varela. Sempre fui um afortunado que, possuidor de
boa memória, conseguira relembrar sempre fatos de meu conhecimento. Infelizmente, no início deste novo século fui
acometido por um câncer na próstata e cuja luta foi suavizada pela cirurgia em
novembro de 2004. Em 2012, foi-me
diagnosticado agora nos pulmões e brônquios.
Nova luta até que em 2018 pareceu-me ter retornado agora no abdómen. Se
assim o quiser Deus, venceremos novamente.
Porém, a luta ferrenha, quantidade de medicamentos ingeridos, desgastes,
enfim, uma verdadeira miríade de fatos, conseguiu me debilitar. Há mais de 10 anos que não escrevo uma obra
completa. A memória também não é mais a
mesma, mas vamos seguindo. Além dos livros editados: Ainda Resta uma Luz e
Tramas do Destino, do primeiro só resta um exemplar, do segundo restam uns
trinta em estoque. Falta ainda o Recanto dos Pássaros, propriamente no
prelo. Talvez algum dia venha
publicá-lo. Nem sempre me encontro em condições de, como agora, colaborar com
quem quer dialogar comigo. Não esqueça que devo considerar, além de minha
enfermidade, a idade que inexoravelmente, não para de avançar no tempo.
AC
– Já que se falou em “carreira” aqui, o senhor tem algum sonho que não
realizou?
Prof.
– Sinceramente eu acredito que não. Não
que seja conformista em excesso, mas acredito que sempre tive mais do que
poderia imaginar. A terceira idade me atingiu antes que eu pudesse
esperar. Talvez já cansado e com vontade
de curtir minha família.
AC
– Professor, qual a importância do casamento na vida de uma pessoa?
Prof.
– Olha, não gosto de discutir comparações entre casamentos, mas uma coisa posso
garantir, ninguém em sã consciência deve se sujeitar à solidão quando atingir a
velhice. Lembro-me de um fato havido em
novembro de 1959, em Ribeirão Preto, onde estudava naquela oportunidade, em
plena praça Quinze. Aguardava a chegada de um colega para ir até
o Pinguim. De repente, chamou-me a
atenção um senhor que estava em um dos bancos da praça. Pareceu-me que chorava. Fui até ele e indaguei se precisava de ajuda,
se passava mal e se precisava de assistência.
Ele solicitou-me que sentasse a seu lado e disse-me: “Estamos próximos
do natal. Eu tenho sessenta anos e sou aposentado. Sempre me exultei em ser dono do próprio
nariz e não precisar dar atenção a ninguém.
Só tinha uma irmã como parente e seu marido como cunhado. Era viajante e levava um “vidão”. No início deste ano, foram-se os dois em um
acidente. Agora sou sozinho. Veja quanto ânimo das pessoas. Todos estão felizes a esperar o Natal.
Trocarão presentes e saborearão ceias deliciosas. E eu? Você ao que parece é
estudante e até o fim do mês irá para junto da família. Abraçará amigos que até isso não tenho. O
amargor de ficar sozinho, morando em um hotel, só nos dá a certeza de que, em
breve, meu corpo será encontrado sem vida, num quarto do hotel. Me perdoe, mas é bom que eu desabafe”. Para
encurtar a conversa, que pena, meu! Ele falava e chorava. Eu, ouvia e chorava a seu lado. Desde aquele dia, passei a ter pena dos
solteirões e principalmente dos que se ufanam felizes por isso. Foi um dos meus melhores natais, esse de
1959. Hoje, com filhos e netos a meu
lado, além de minha esposa, agradeço aos céus minha situação. Sou feliz.
AC
– O senhor se considera realizado no seu casamento?
Prof.
– Olha! Já o disse a instantes atrás algo que por si só me faz feliz. Mas, completando eu diria que sou
realizado. Talvez por mérito muito maior
de minha esposa e filhos do que propriamente por mim. Não casamos para obter coisas que nos agradam
e sim, para encontrar a alma gêmea que conosco poderá também ser feliz. Aí
podemos completar nossa felicidade pois, à medida que fazemos a felicidade de
nossa esposa e filhos, aí encontramos nossa plena felicidade. Quando conseguimos atingir este patamar e
termos ao lado a esposa e filhos criados, principalmente com netos, não tenha
dúvidas que nos sentiremos realizados.
Daí meu jargão:
Eu muito lutei nessa vida,
Pra ter um grande tesouro,
E o consegui nesta lida,
Meus filhos que valem prata,
Meus netos que valem ouro.
AC
– Sua esposa é prendada. Pianista, desenhista, estilista, artesã... qual o
talento dela que mais lhe agrada?
Prof.
– De fato ela tem muito mais prendas do que você acaba de citar, pois ela
possui um talento muito maior. O de conseguir transmitir ao esposo, filhos e
netos, o amor inigualável que ela traz em sua alma. Sua alma transborda de amor que, a vida toda
nós procuramos absorvê-lo totalmente.
Seu amor é desprovido de quaisquer interesses ou segundas intensões. Seu amor é o combustível que nos leva à
felicidade plena e alerta para a vida também feliz. Nada mais necessitamos senão isso para que nos
completemos.
AC
– O senhor perdeu uma filha recém nascida. Na época esse episódio afetou sua
família além da emoção da perda? Sobretudo na questão da convivência?
Prof.
– Sinceramente devo confessar que não há como não afetar a família, visto que
éramos um casal cujo filho que possuíamos quando ela (era uma menina) nasceu, o
garoto ainda não completara um ano e nós ainda inexperientes. Jamais poderia
dizer o que o futuro nos reservava.
Ademais, ela era linda demais. Perfeitamente modelada para nossa
felicidade. Infelizmente a perdemos. Devo
confessar que eu, particularmente eu, jamais indaguei algo sobre o ocorrido,
nem nunca questionei sobre o que o fato ocasionara com minha esposa. Sabia o que se passava comigo e me machucava
pensar que poderíamos tê-la perdido por uma falha minha. Pensei muito sobre
isso, mas felizmente, o tempo foi benevolente comigo e me acalmei. Não acredito que tenha modificado nada a não
ser que chegara o tempo de eu procurar confortar minha esposa. Mas penso que se deu o inverso. Minha esposa, nas horas difíceis sempre foi
mais “cabeça” que eu. Aliás, até hoje é
assim.
AC
– Com dois filhos já de meia idade, o que o senhor gostaria de ter sugerido a
cada um de fundamental uma única vez e não o fez?
Prof.
– Já lhe disse anteriormente sobre o relacionamento entre pais e filhos que
sinto muito por me conscientizar de que quando meus filhos mais precisavam do “pai
amigo”, este se preocupava em se realizar profissionalmente e viajava
constantemente. Nessa época acredito que
muita coisa eu deveria ter dito a eles como, por exemplo: “Seu papai é seu
maior amigo. Se precisar, fale comigo”.
AC
– Quais as principais diferenças entre um e outro, se é que existem, uma vez
que criados da mesma casa e com o mesmo afeto?
Prof.
– Olha, acredito que um mesmo alambique jamais produza, além da qualidade
natural de excelência, duas remessas totalmente iguais em qualidade e teor de
suas substâncias. Cada qual foi criado
de uma forma tal que, ainda que gêmeos univitelinos, terão uma diferença
flagrante: “As impressões digitais”. O
amor de pai e mãe, graças a Deus, jamais atenta para as diferenças individuais
de seus filhos em quaisquer quesitos. Na verdade o que nos importa é o caráter
e amor que possuem. Não posso toda vida
querer fazer entender que não possuem diferenças. Nos quesitos mais importantes
acredito serem iguais. O que os distingue, para mim, por exemplo é o Gênio em
que um se exalta mais do que o outro. Ambos são pais super amorosos. São ambos possuidores de um coração
enorme. São filhos extremosos, irmãos
que se dão muito bem, mas o que mais me interessa como pai é que quaisquer pais
poderiam ficar felizes se tivessem os filhos na situação como a minha. Idoso, com uma doença difícil em que
debitamos a cura nas mãos de Deus, mas podendo estar tranquilos como eu. Posso
morrer tranquilo, aliás já me preparei para isso, pois sei que tanto um quanto
o outro, caso eu parta, digamos prematuramente, o termo melhor seria, possa em
breve, partir sereno sabendo que a esposa teria todo o carinho, cuidado e
assistência de um ou do outro. Sim,
posso partir feliz.
AC
– Em que o senhor espera, as vidas sua e de sua mulher mais causem impacto na
formação de seus quatro netos?
Prof.
– Acredito que seria nosso exemplo de amor, abnegação e entrega total à
família, caráter íntegro e profundo sentimento religioso. Aliás esta minha luta pela cura do meu câncer
me levou a modificações tão profundas que fortaleceram a herança adquirida em
meu tempo de seminário e a convivência com a maravilhosa família que me
outorgou Deus. Pai, mãe e irmãos simplesmente maravilhosos. Espero que meus
netos sigam o exemplo de seu pai, de seu tio (irmão de seu pai) e dos
avós. Felizmente, sem querer dar uma do
amigão, diria: “Quero que eles continuem sendo o que são. Já o disse.
Se (respectivamente) seu pai e tio são pratas, os quatro são o outro”.
Gostaria que estudem bastante, se despojem de qualquer atitude discriminatória
e tenham sempre estampados em suas faces, amor, caridade e caráter ilibado.
AC
– Sem ser filhos, casamento etc., qual seu maior feito na vida em termos de
realização? E arrependimento?
Prof.
– Dificilmente atentamos para nossas qualidades individuais. O que posso dizer é que sempre procurei
respeitar meus semelhantes, amar incondicionalmente a todos, ainda que tenhamos
nossos defeitos. Sei que deixarei
saudades a quem me entendeu. Apesar de
nossas deficiências espero ter sido bom pai e principalmente espero merecer o
perdão de minha esposa pelas horas em que não consegui fazê-la feliz. Se for
verdade que nos sentimos felizes à medida em que fazemos nosso cônjuge feliz,
ficarei muito tranquilo pois, nessas circunstâncias acredito que minha nota
nesse quesito será altíssima. Quanto ao
arrependimento por hábito, derrubei a ponte após atravessá-la.
AC
– Há quase vinte anos o senhor enfrentou um câncer cruel. Uma cirurgia pesada, no entanto, mudou completamente
sua vida e sua cabeça, mas o curou. Após
vencê-lo, como foi reviver agora o problema?
Prof.
– Se por um lado isso colaborou para saber como agir e poder encarar a situação
com esperança e coragem, por outro, nos traz amargura por saber de ante mão a
luta que terei que travar. Espero que
não seja inglória. Não é fácil viver num
turbilhão de dores e perceber já mais difícil a luta. Agora a idade está mais
avançada e com ela, aumenta nossa necessidade de lutar. O primeiro que venci já está tão distante que
me parece que o ignoro. Todavia, o que
nos pesa são as sequelas advindas desses tratamentos, alguns bastante
traumáticos.
AC
– Pra que essa luta e enfrentamento mais tem servido?
Prof.
– Para fortalecer nossa resiliência e nossa crença em um Deus verdadeiro.
AC
– Se o senhor pudesse negociar com Deus o que trocaria pela recuperação
imediata da saúde?
Prof.
– Jamais me proporia a negociar e sequer proporia tal coisa. Prefiro conversar com Ele e pedir –lhe diretamente
que me cure. As duas primeiras vezes Ele
me atendeu. Quem sabe em sua bondade e misericórdia o faça novamente?
AC
– Quando está na sessão de quimioterapia, diante de outros convalescentes como
o senhor, há algo que gostaria de dizer a eles?
Prof.
– Não acredito que haveria como. Rezo em
silêncio para cada um deles, como o faço para mim. Talvez lhes dissesse: Tenham fé. Acreditem nEle e Ele os atenderá. Coisas assim.
AC
– E em termos de mundo. O que espera
para o planeta das próximas gerações?
Prof.
– Para mim não há nada que possa querer.
Espero que as próximas gerações saibam como preservá-lo respeitando-o e
que eles próprios saibam agir em harmonia para o bem de todos.
AC
– Qual cenário o senhor vê para a política nacional nos próximos cinco meses?
Prof.
– Vejo um presidente almejando sua reeleição, mas antevejo, se Deus quiser, ele
saindo derrotado e preso para exemplo aos que, loucos e inconsequentes como
ele, não venham colocar em risco nossa democracia e nosso Estado Democrático de
Direito.
AC
– Que suas palavras sirvam de aconchego para todos os netos sem avós, filhos sem
pais e pais que precisam de exemplos para seus filhos. Muito obrigado por essa
rica entrevista. Que Deus o abençoe e
fortaleça.
Enquanto
a entrevista se deu, não faltaram lágrimas da esposa e a atenção total de seus
netos presentes.
A
foto ressalta a beleza do lugar e o laço insolúvel desse casamento de mais de
56 anos.
Entrevista maravilhosa!! Tio Carlos é uma pessoa especial!
ResponderExcluirMesmo não estando bem, transmitiu só coisas boas!! Um grande abraço!