Eu queria consultar algum profissional de psicologia, ou área afim, para falar de forma muito séria sobre as perspectivas de Ano Novo.
Sim, pois fico pensando o que o dia 1º de janeiro tem de diferente com relação ao dia 31 de dezembro. O que muda, realmente, com os relógios virando seus ponteiros?
Não seriam todos os dias semelhantes e portadores das mesmas oportunidades de mudanças ou acontecimentos que esperamos de um "dia de ano"?
Acontece que já vi, em algum lugar, que uma boa quantidade de pessoas pensando e desejando, ao mesmo tempo, que algo aconteça, acaba por criar as condições objetivas para tal.
Não pela força de seu pensamento, mas porque, pelo próprio pensamento carregar consigo a predisposição de alterar comportamentos, estar mais abertos a conselhos e enxergar de forma diferente alguns acontecimentos, realmente algo acontece.
Sendo isso verdade, os votos de paz, fraternidade, justiça, amor, realizações, sucessos e outros tantos, podem de forma análoga, se concretizarem. Mas e aí? Será verdade?
Estamos batendo às portas de mais um período de 365 novos dias. Não sabemos, de maneira alguma, o que vai acontecer aqui ou ali. O que precisamos, contudo é fazer a nossa parte para garantir o melhor daquilo que depende de nós mesmos.
O novo período, batizado 2015, promete.
No mundo político, o governo se redesenha. Particularmente, não gostei muito do esboço que se apresentou até o momento. Mas não será isso tudo uma estratégia para começar governando e alterar roteiros daqui há pouco? Fico fantasiando isso para poder justificar minha convicção de que fiz uma boa escolha ao votar novamente em Dilma.
No mundo dos negócios, há que se ter muita garra. O ano traz consigo um primeiro semestre perturbador na economia. Em toda parte se lê e se ouve que as coisas começam a demonstrar diferenças. Aparentemente, este foi o Natal, do ponto de vista comercial, mais fraco dos últimos 11 anos e ainda nos caberá pagar algumas contas relativas a crise de vizinhos ao norte. Mas não prego o desânimo. Em situações extremas, pelo menos no que tange aos setores em que atuo, só vejo grandes oportunidades.
No mundo espiritual, ocorre uma revolução na Igreja Católica. O Papa Francisco tem se revelado um homem muito a frente de seu tempo. Corajoso e cristão no verdadeiro sentido da palavra, altera posições ultrapassadas, chama a atenção de seus cardeais em público, pede desculpas pelos atos cometidos pelo Vaticano e seus componentes e de quebra, se abre à ciência.
E por aí vai.
Individualmente, a maioria de nós também promete mudanças. Seja nos hábitos alimentares, seja no fato de buscar mais progresso cultural, espiritual, financeiro etc.
Eu mesmo faço isso todo início de ano... Me comprometo a ler mais, a participar mais da vida escolar de meus filhos, ir mais ao teatro e cinema, fazer uma viagem para um lugar desconhecido, namorar mais com minha mulher, estar mais com meus pais e irmão, orar mais e fazer exercícios. Quase sempre consigo levar tudo à cabo até meados de março, quando então as coisas começam a voltar ao normal.
E você? Tem seus compromissos de Ano Novo?
domingo, 28 de dezembro de 2014
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
"De pé, oh vítimas da fome..." - Trecho do hino A Internacional
Não sei se
posso ajudar, mas queria meter meu “bedelho” numa discussão que estou
assistindo no facebook sobre comunismo, socialismo, capitalismo etc.
Como sempre
acontece, as pessoas têm o hábito de usar como exemplos falhos do comunismo, ou socialismo, países como
Cuba, a extinta União Soviética, a China ou a Coréia do Norte.
Antes de
tudo eu gostaria de comentar um pouco sobre os autores das ideias que fizeram
boa parte da população mundial, lutarem pela distribuição das riquezas, pela
justiça social e outros avanços, nas várias revoluções socialistas que tiveram
lugar na história.
Marx e
Engels com O Capital fizeram uma avaliação detalhada da sociedade capitalista,
redundando numa nova visão de mundo baseada na luta de classes.
O Manifesto
Comunista, que serve de fonte para todos os partidos que se dizem de esquerda, reúne
o que seriam os fundamentos de uma luta pelo fim da opressão de uns sobre
outros, tendo por opressores os proprietários dos meios de produção e que
empregam o trabalhador assalariado e por oprimidos os que não tendo meios
próprios de produção, vendem sua força de trabalho em troca de um mínimo para
tocarem suas vidas.
Em outras
palavras, buscam os comunistas, constituírem uma classe trabalhadora
(proletária) que tenha direito a conquistar o poder político e por consequência,
democratizar os meios de produção.
Só por isso,
fica claro que não existiu neste mundo, até o presente momento, nenhuma experiência
verdadeiramente comunista.
Mas ainda
tem mais. Para a obtenção deste objetivo
principal é necessária a derrubada de todos os limitadores do livre pensamento,
quais sejam os dogmas, as verdades eternas, a dominação midiática e tudo o mais
que impede a formação e ampliação da consciência desta classe trabalhadora. Coisas que não ocorreram em nenhum lugar da Terra.
Sobre
socialismo, visto como uma etapa anterior ao comunismo, penso que ninguém
conceitua melhor que o escritor Oscar Wilde: “A vantagem principal da consolidação do
Socialismo está, sem dúvida, no fato de que ele poderia nos livrar dessa
imposição sórdida de viver para outrem”.
Ao buscar o
fim da propriedade privada, não só os latifúndios ou fábricas passariam ao
controle do Estado, mas diversas instituições controladoras perderiam um pouco
sua “razão de ser”.
Sendo assim,
não dá pra pressupormos que o socialismo chegue naturalmente. Provocador e promotor de rupturas, o
socialismo precisa ser construído.
Desde que o
Capitalismo passou a vigorar, foram muitas as tentativas de revoluções
socialistas, todas elas caracterizadas pelas condições objetivas de onde estavam
centradas.
Contudo é
impossível se conceber, de maneira correta, a Revolução Socialista, se ela não
for precedida de uma população organizada com clareza e conhecimento para
determinar os rumos políticos desta sociedade.
Mais uma vez
me forço a dizer que também não conhecemos neste mundo nenhuma experiência real
de socialismo.
O que nos
cabe perguntar é: Por que a sociedade tem tanto medo de socialismo ou comunismo,
se é composta, por sua maioria de pessoas que seriam beneficiadas?
A resposta
não é difícil.
Em todo o
mundo, há um número muito limitado, de cerca de 1% da população mundial que
dominga e detém 80% das grandes riquezas (capital, meios de produção etc.).
Fortes e
poderosos, eles não desejam nunca perder este poder e esta força. Assim, cercam-se de todos os mecanismos que
podem para evitar qualquer ameaça ao seu “lote” do “bolo mundial”. Não tem pátria, não tem raça e não tem religião. São apenas os "dominadores" que usam pátria, raça, religião e outras diferenças, para exercerem seu domínio absurdo e inaceitável.
Criam uma
casta de “nobres”. Mas bem inferior. Ricos que os
paparicam e sonham em ser como eles. Vivem de suas migalhas. Vice-poderosos que ajudam a distrair as “hordas” em caso de algo dar
errado, levando a culpa. Na sequencia, constituem governos que criam, julgam e executam leis que os mantém protegidos e com “direitos”
garantidos.
Logo na “camada”
seguinte, vem a força policial, sempre consciente ou inconsciente, defensora
dos postulados mantenedores do “status quo”.
Religião é
outro marco. População dócil, carente de
salvação e misericórdia, não incomoda... não atrapalha e não se vinga à espera da justiça eterna que virá algum dia.
O controle
da educação é outra grande estratégia.
Ao manipular os meios de comunicação, afastam o poder de pensamento e
análise de todos, enquanto os distrai com jogos, entretenimentos vazios, numa
versão estratosférica de “pão e circo” dos antigos romanos.
A classe
média, confusa e sonhadora, tem sua consciência trabalhada pelas castas acima.
Contribui muito para isso a imprensa, que a classe média consulta a todo momento nos telejornais e jornais impressos (inclusive revistas) promotores, quase 100%, de inverdades, da
incerteza e do medo. O jornalismo já foi
chamado de “o quarto poder”, mas hoje há quem o enquadre como “o primeiro”.
Diante desta
“cascata” de proteção aos pouquíssimos poderosos e da contra-propaganda permanente contra o comunismo e o socialismo, que inclusive ridiculariza e empobrece quem pratica parte de seus postulados, como fazer as pessoas compreenderem os benefícios e vantagens desta visão avançada?
Nesta época
de “internet” e de boa comunicação podemos nos livrar um pouco das amarras
acima. Mas não o faremos se ficarmos
olhando de longe. Escrever, debater e se envolver no processo político é uma das armas a utilizarmos.
Há algum
tempo, bastava a “eles” combaterem os políticos de esquerda pelas ideias
baseadas em Marx e Engels. Agora, apelam para a destruição definitiva de
toda a classe política para garantir. Fazem a sociedade crer que o mundo será
melhor se ficar livre dos políticos, afastando assim do exercício da política todos os que se
acreditam “de bem”, deixando espaço para os que não se importam em participar
da súcia em que se tornaram os partidos e as instâncias de poder.
Os gregos
afirmavam que a política está no centro da construção da sociedade. Assim sendo, se quisermos humanizar a
sociedade, não podemos excluir a atividade política.
A questão é
que, a atividade política precisa se respaldar na orientação e consciência de
classe daqueles que estão, completamente fora do processo de poder
estabelecido, ou seja, os trabalhadores (proletários) que vivem na ponta mais
baixa e esmagada da pirâmide que citei acima.
domingo, 7 de dezembro de 2014
Saindo do Fundo do Poço
Uma das coisas que mais me trouxe orgulho foi a publicação, pela Editora Paulinas, de meu modesto trabalho "Saindo do Fundo do Poço", em meados de 1999.
Como eu costumo chamar, um bate-papo sobre o mau humor, o desânimo e quem sabe, sobre a preguiça.
Ao longo da minha vida, tive uns episódios que nunca soube muito bem explicar.
Com o passar do tempo, algumas reportagens e conversas, acabaram por me mostrar que aquilo era mais normal do que eu pensava. Tratavam-se de pequenos sintomas de "depressão".
Hoje muito em voga, o termo em minha adolescência era ainda meio desconhecido e para os pais de todo mundo, recebia o nome de "frescurite".
Frescurite era o medo de ficar sozinho, mas também o fato de se sentir sozinho no meio de muita gente. Era o desânimo em fazer as coisas, mas a vontade de ve-las feitas. Eu mesmo pensei e não foram poucas vezes... "Devo estar com poucos problemas, então os crio".
Mas era também tristeza sem motivos e medo de tudo sem motivos. Horror descontrolado e falta de confiança em si mesmo. Achar que, em qualquer momento, aqueles a quem mais amamos não estarão mais por perto e inclusive pensar que a própria vida está por um fio, sem que estejamos doentes, sem nada.
Não era só eu. Diversos amigos se confessaram com o problema. Uma querida amiga, aos 16 anos, talvez por isso, se suicidou de forma inacreditável (era muito sorridente, simpática e rodeada de amigos). Fomos todos jogados frente ao espelho. Precisavámos falar a respeito e com gente que sabia do que se tratava.
Os anos 80, não eram ainda muito abertos para papos descontraídos com os pais. Muitos não falavam com os seus sobre sentimentos e coisas assim. E embora meus pais sempre foram muito carinhosos e presentes, conversar com os amigos parecia ser mais prático.
Enquanto eu ficava nessa, minha mãe tinha altos ataques de depressão, coisa que só depois vim saber. E também meu irmão mais novo, que enfrentava em silêncio. Tudo teria ficado tão mais simples se tivéssemos falado sobre.
No meu caso, no entanto, precisou que a coisa começasse a ficar feia pro meu lado, para que eu fosse realmente atrás de alguma informação mais precisa.
Certa feita, dirigindo em uma avenida movimentada da cidade, detive-me no semáforo. Tudo bem até então. Mas quando o sinal abriu, descobri que não sabia mais dirigir. Na verdade estava em pânico. Não avancei e acabei causando um pequeno transtorno no trânsito. Mas com um pouco de calma, consegui estacionar o carro até a calçada, descer em uma lanchonete, ligar para o meu pai (na época ainda não havia celular) e me acalmar para poder voltar para casa.
Na igreja, talvez, o episódio mais engraçado (se não fosse trágico). Achei que, em meio ao culto, gritaria para todos que eu estava com o "demônio" no corpo. Com medo de transparecer e sabendo que não devia realizar nem um movimento brusco, fui caminhando aos poucos e de costas, até sair do templo. Ufa!
O medo irracional de achar que vou pular de prédios, pontes e qualquer outro precipício, me acompanha até hoje. Quase sempre durmo longe de janelas nos hotéis e não muito tempo atrás, tive que ligar para minha mulher enquanto atravessava um viaduto a pé.
Sim, penso em todo instante naqueles que vou enterrar. Penso também nos perigos que rondam minha casa, meus filhos e a mim próprio. Penso também nas doenças agressivas e quase mensalmente tenho falta de ar, aumento inexplicado de pressão e a certeza de que "não vou passar daquela noite".
Mas tudo se acalma em seguida.
Por coisas como estas, vividas desde os meus 14 anos, fui prestando a atenção nas pessoas. E quando falava com elas, via que tudo era muito igual.
"Quando vai anoitecendo, eu rezo para chegar visitas. Odeio ficar em casa só com meus pais". - dizia um amigo.
"Odeio estudar, odeio trabalhar, odeio ficar em casa, odeio ir ao cinema..." - destampava outra amiga.
Passamos então a fazer uma espécie de "círculo" e em breve, todo mundo chorava seus problemas... alguns de verdade e outros, apenas dramas sem sentido (estes sim, os deprimidos de verdade).
Fui juntando os cacos, pensamentos e de repente eu tinha uma pequena palestra para falar no grupo de jovens da Igreja, que evoluiu para outros cenários e que evoluiu para uma tentativa solo de fazer palestras.
De tanto revirar o assunto, consegui um folheto que fora distribuído no metrô de Nova York com a seguinte manchete em letras garrafais: "DEPRESSÃO MATA. LIVRE-SE OU FALE SOBRE ELA".
Dali pra frente entendi que devia conhecer melhor esta "bandida".
Vendo minha mãe e meu irmão, além de outras pessoas conversarem nos domingos em família ou rodas de amigos, sobre seus sofrimentos, encontrei uma diferença entre eles e eu.
Por algum motivo, eu conseguia me recuperar no dia seguinte, em instantes ou de algum modo. Com eles, os episódios pareciam durar semanas, meses, anos... (Para entender melhor vide observar entrevista recente do Padre Marcelo Rossi sobre o assunto que o deixou bastante debilitado).
Quem sabe, aquilo que eu fazia, pensava ou lia, eram as ações que me ajudavam a superar?
Comecei uma série de apontamentos que foi parar nas mãos de um grande amigo. O padre e parapsicólogo Miguel Lucas (já falecido). "Por que não faz um livro? Tenho amigos na Paulinas e vou lhe dar o contato." - incentivou-me.
Tentei uma última palestra por conta própria em um hotel da cidade, ajudado por uma prima, que a organizou. Não foi um "bum" de sucesso, mas alguém da Paulinas na cidade a ouviu e quando falei sobre a dica do padre, também me recomendou escrever.
Em pouco tempo, havia mandado um manuscrito que virou este pequeno livro.
A Paulinas o levou para a Feira de Livros de Frankfurt e hoje ele se encontra na sua 5a edição. Não sei exatamente quantos foram vendidos e já perdi as contas dos tantos e-mails e cartas que recebi de leitores que se disseram ajudados.
Também recebi convites para palestras e mesmo para visitar pessoas. Acompanhei alguns relatos bastante chocantes, para confessar.
Sei que não é nada de muito especial, não sou douto no assunto e nem especialista em psicologia ou comportamento humano. Mas dentro de minha vaidade, não posso deixar de falar com orgulho que minhas palavras, acabaram por fazer algum efeito aqui ou ali.
O livro também acabou valendo algumas matérias de jornal local ou mesmo de outras cidades, onde fui palestrar e lançar o "Saindo do Fundo do Poço". Em uma delas falei num ginásio de esportes lotado. Minha mulher me acompanhou.
A reportagem que anexei a este texto, foi uma entrevista que concedi à Rede Vida de Televisão em 1999, logo após o lançamento. Não estava muito preparado para ela, e não a tenho inteira. Mas sei que me trouxe a felicidade de uma carta que, embora não tenha mais, não será esquecida.
Uma moça do Estado da Bahia, que logo após a entrevista, comprou o livro e me enviou algo como: "Obrigada Carlos... Talvez a partir desta leitura, eu tenha condições de enfrentar por mais alguns meses a vida, da qual já desistira". Ela contava de como estava perturbada e como pensava, diariamente em dar fim aos seus dias.
Durante um bom tempo aquela pessoa esteve em minhas orações. Espero sinceramente que tenha superado.
Quanto a mim... Bem, ainda amarro as janelas quando fico em torres altas. Ainda vou dormir, algumas noites, sem saber se vou acordar... Uma neurose... Mas minha vida tem sentido e todos os dias eu não deixo de declarar o quanto sou feliz.
Como eu costumo chamar, um bate-papo sobre o mau humor, o desânimo e quem sabe, sobre a preguiça.
Ao longo da minha vida, tive uns episódios que nunca soube muito bem explicar.
Com o passar do tempo, algumas reportagens e conversas, acabaram por me mostrar que aquilo era mais normal do que eu pensava. Tratavam-se de pequenos sintomas de "depressão".
Hoje muito em voga, o termo em minha adolescência era ainda meio desconhecido e para os pais de todo mundo, recebia o nome de "frescurite".
Frescurite era o medo de ficar sozinho, mas também o fato de se sentir sozinho no meio de muita gente. Era o desânimo em fazer as coisas, mas a vontade de ve-las feitas. Eu mesmo pensei e não foram poucas vezes... "Devo estar com poucos problemas, então os crio".
Mas era também tristeza sem motivos e medo de tudo sem motivos. Horror descontrolado e falta de confiança em si mesmo. Achar que, em qualquer momento, aqueles a quem mais amamos não estarão mais por perto e inclusive pensar que a própria vida está por um fio, sem que estejamos doentes, sem nada.
Não era só eu. Diversos amigos se confessaram com o problema. Uma querida amiga, aos 16 anos, talvez por isso, se suicidou de forma inacreditável (era muito sorridente, simpática e rodeada de amigos). Fomos todos jogados frente ao espelho. Precisavámos falar a respeito e com gente que sabia do que se tratava.
Os anos 80, não eram ainda muito abertos para papos descontraídos com os pais. Muitos não falavam com os seus sobre sentimentos e coisas assim. E embora meus pais sempre foram muito carinhosos e presentes, conversar com os amigos parecia ser mais prático.
Enquanto eu ficava nessa, minha mãe tinha altos ataques de depressão, coisa que só depois vim saber. E também meu irmão mais novo, que enfrentava em silêncio. Tudo teria ficado tão mais simples se tivéssemos falado sobre.
No meu caso, no entanto, precisou que a coisa começasse a ficar feia pro meu lado, para que eu fosse realmente atrás de alguma informação mais precisa.
Certa feita, dirigindo em uma avenida movimentada da cidade, detive-me no semáforo. Tudo bem até então. Mas quando o sinal abriu, descobri que não sabia mais dirigir. Na verdade estava em pânico. Não avancei e acabei causando um pequeno transtorno no trânsito. Mas com um pouco de calma, consegui estacionar o carro até a calçada, descer em uma lanchonete, ligar para o meu pai (na época ainda não havia celular) e me acalmar para poder voltar para casa.
Na igreja, talvez, o episódio mais engraçado (se não fosse trágico). Achei que, em meio ao culto, gritaria para todos que eu estava com o "demônio" no corpo. Com medo de transparecer e sabendo que não devia realizar nem um movimento brusco, fui caminhando aos poucos e de costas, até sair do templo. Ufa!
O medo irracional de achar que vou pular de prédios, pontes e qualquer outro precipício, me acompanha até hoje. Quase sempre durmo longe de janelas nos hotéis e não muito tempo atrás, tive que ligar para minha mulher enquanto atravessava um viaduto a pé.
Sim, penso em todo instante naqueles que vou enterrar. Penso também nos perigos que rondam minha casa, meus filhos e a mim próprio. Penso também nas doenças agressivas e quase mensalmente tenho falta de ar, aumento inexplicado de pressão e a certeza de que "não vou passar daquela noite".
Mas tudo se acalma em seguida.
Por coisas como estas, vividas desde os meus 14 anos, fui prestando a atenção nas pessoas. E quando falava com elas, via que tudo era muito igual.
"Quando vai anoitecendo, eu rezo para chegar visitas. Odeio ficar em casa só com meus pais". - dizia um amigo.
"Odeio estudar, odeio trabalhar, odeio ficar em casa, odeio ir ao cinema..." - destampava outra amiga.
Passamos então a fazer uma espécie de "círculo" e em breve, todo mundo chorava seus problemas... alguns de verdade e outros, apenas dramas sem sentido (estes sim, os deprimidos de verdade).
Fui juntando os cacos, pensamentos e de repente eu tinha uma pequena palestra para falar no grupo de jovens da Igreja, que evoluiu para outros cenários e que evoluiu para uma tentativa solo de fazer palestras.
De tanto revirar o assunto, consegui um folheto que fora distribuído no metrô de Nova York com a seguinte manchete em letras garrafais: "DEPRESSÃO MATA. LIVRE-SE OU FALE SOBRE ELA".
Dali pra frente entendi que devia conhecer melhor esta "bandida".
Vendo minha mãe e meu irmão, além de outras pessoas conversarem nos domingos em família ou rodas de amigos, sobre seus sofrimentos, encontrei uma diferença entre eles e eu.
Por algum motivo, eu conseguia me recuperar no dia seguinte, em instantes ou de algum modo. Com eles, os episódios pareciam durar semanas, meses, anos... (Para entender melhor vide observar entrevista recente do Padre Marcelo Rossi sobre o assunto que o deixou bastante debilitado).
Quem sabe, aquilo que eu fazia, pensava ou lia, eram as ações que me ajudavam a superar?
Comecei uma série de apontamentos que foi parar nas mãos de um grande amigo. O padre e parapsicólogo Miguel Lucas (já falecido). "Por que não faz um livro? Tenho amigos na Paulinas e vou lhe dar o contato." - incentivou-me.
Tentei uma última palestra por conta própria em um hotel da cidade, ajudado por uma prima, que a organizou. Não foi um "bum" de sucesso, mas alguém da Paulinas na cidade a ouviu e quando falei sobre a dica do padre, também me recomendou escrever.
Em pouco tempo, havia mandado um manuscrito que virou este pequeno livro.
A Paulinas o levou para a Feira de Livros de Frankfurt e hoje ele se encontra na sua 5a edição. Não sei exatamente quantos foram vendidos e já perdi as contas dos tantos e-mails e cartas que recebi de leitores que se disseram ajudados.
Também recebi convites para palestras e mesmo para visitar pessoas. Acompanhei alguns relatos bastante chocantes, para confessar.
Sei que não é nada de muito especial, não sou douto no assunto e nem especialista em psicologia ou comportamento humano. Mas dentro de minha vaidade, não posso deixar de falar com orgulho que minhas palavras, acabaram por fazer algum efeito aqui ou ali.
O livro também acabou valendo algumas matérias de jornal local ou mesmo de outras cidades, onde fui palestrar e lançar o "Saindo do Fundo do Poço". Em uma delas falei num ginásio de esportes lotado. Minha mulher me acompanhou.
A reportagem que anexei a este texto, foi uma entrevista que concedi à Rede Vida de Televisão em 1999, logo após o lançamento. Não estava muito preparado para ela, e não a tenho inteira. Mas sei que me trouxe a felicidade de uma carta que, embora não tenha mais, não será esquecida.
Uma moça do Estado da Bahia, que logo após a entrevista, comprou o livro e me enviou algo como: "Obrigada Carlos... Talvez a partir desta leitura, eu tenha condições de enfrentar por mais alguns meses a vida, da qual já desistira". Ela contava de como estava perturbada e como pensava, diariamente em dar fim aos seus dias.
Durante um bom tempo aquela pessoa esteve em minhas orações. Espero sinceramente que tenha superado.
Quanto a mim... Bem, ainda amarro as janelas quando fico em torres altas. Ainda vou dormir, algumas noites, sem saber se vou acordar... Uma neurose... Mas minha vida tem sentido e todos os dias eu não deixo de declarar o quanto sou feliz.
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