quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Avatar, o Imperialismo e o pauperismo no século XXI
“A expansão é tudo. Se eu pudesse, anexaria os planetas.” (Cecil Rhodes, 1895)
Falava o milionário Cecil Rhodes, em 1895, que para salvar os 40 milhões de habitantes do Reino Unido de uma mortífera guerra civil os políticos imperialistas deveriam apoderar-se de novos territórios para enviar o excedente da população. “O império, sempre tenho dito, é uma questão de estômago. Se quereis evitar a guerra civil, deveis tornar-vos imperialistas.” E assim de 1850 até a Primeira Guerra Mundial, mais de 40 milhões de pessoas foram “exportadas” da Europa, o que equivaleu mais de ¼ da força de trabalho. Hoje, esta solução, parece não ser mais possível. Quem assistiu ao filme Avatar percebeu como os EUA são cientes das suas ações imperialistas no mundo. Seria Pandora a região amazônica? Seriam Oaxaca e Chiapas no México? Na realidade, estamos, neste século, diante de novos desafios e de velhos dilemas. Ao velho dilema pauperismo a sociologia chama de “exclusão social”. Antes, na década de 1970, intelectuais brasileiros entendiam que a “exclusão social” constituía, de fato, um grande exército de reserva de força de trabalho. Este exército disponível era funcional e vital para o processo de acumulação de capital. Francisco de Oliveira (1976) e Lúcio Kowarick (1975), por exemplo, compreendiam a “marginalidade social” como uma forma peculiar de inserção da população na divisão social do trabalho. As economias pré-industriais da América Latina - em sua grande maioria- foram geradas pela expansão do capitalismo mundial. Constituíam uma espécie de reserva de "acumulação primitiva" do sistema econômico global. O "subdesenvolvimento", ou seja, o pauperismo era entendido como um problema histórico que estava diretamente relacionado com a dependência econômica e política, submissão dos países periféricos à acumulação imperialista do capital mundial. No Brasil, por exemplo, as lutas reformistas e desenvolvimentistas foram derrotadas. E o imperialismo - o processo de acumulação de capital por meio da expropriação da força de trabalho, destruição da terra e dos recursos naturais - avança no século XXI de uma forma avassaladora (Arrighi, G. 2008). Os 57% dos trabalhadores da América Latina, os 40% da Ásia e os 90% da África que estão no chamado "mercado informal" não podem ser chamados de exército de reserva; uma vez "excluídos" já não são reservas de nada, não há um sistema econômico capaz de absorver essa grandeza de desempregados (Davis, M. 2006). Esses seres humanos são “inúteis para o mundo” capitalista, são "inempregáveis"; a política de Renda Mínima de Inserção Social não é capaz de resolver o desemprego estrutural na França (Castel, Robert, 1998). E mesmo assim a generalização do progresso capitalista dos países centrais é impossível, a natureza seria destruída várias vezes. O Observatório Urbano das Nações Unidas (ONU) alerta que em 2020 a pobreza no mundo atingirá aproximadamente 45% do total dos habitantes das cidades. Os "Planos de Ajustes Estrutural", a acumulação financeira e a automação dos processos produtivos têm, de fato, jogado a maioria da força de trabalho mundial no desemprego, o que aumenta os seres humanos que vivem estagnados no "inferno da indigência". Como dizia K. Marx (1980), o pauperismo constitui o asilo dos inválidos da população ativa e o peso morto do exército industrial de reserva, as mesmas causas que aumentam a força expansiva do capital e a riqueza ampliam a força de trabalho excedente, esta é a "Lei Geral e Absoluta" da incessante acumulação capitalista. Portanto, como superar, no século XXI, o pauperismo mundial sem destruir o planeta terra? Será suficiente a gestão da pobreza via política compensatória “sócio-neoliberal”? A bolsa-família, a “ideologia do empreendorismo” e da “economia solidária” responderão, de fato, ao desemprego estrutural? Segundo a Organização Internacional do Trabalho a crise estrutural do capitalismo mundial adicionará 50 milhões de seres humanos aos 190 milhões de desempregados existentes. É possível construir no mundo a cidadania e realizar a fraternidade, igualdade e liberdade? O que fazer para superar o pauperismo?
Felipe Luiz Gomes e Silva
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