sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
O que se pode visualizar, hoje, em relação às eleições para a Presidência da República no ano que vem?
Por Ricardo Antunes
Comecemos pela candidatura Dilma Rousseff, do PT. Parida pelo lulismo, a mãe do PAC é uma candidata cinzenta. Capaz de aglutinar um leque de interesses econômicos poderosos, das finanças ao agronegócio, passando pela indústria pesada, Dilma é uma concorrente submersa no desconhecido.
Burocrata competente que tromba mais que articula, jamais participou de uma campanha. A capacidade que terá de herdar os votos de seu criador, ninguém sabe. Como também não se sabe se este tem capacidade de transferir seu cacife eleitoral à sua criatura. E foi encontrar no PMDB seu aliado preferencial, partido que há décadas vem chafurdando numa programática que é a mais pura pragmática.
A candidatura Dilma ainda espera, à direita, o vagalhão que vem do PP de Maluf ao PTB de Collor, com a chancela de Sarney e outras siglas de aluguel. À esquerda, tem apoio certo do PC do B e espera os desdobramentos do PSB de Ciro Gomes.
Mas o espectro Lula viu florescer duas ramificações não programadas. De um lado, Ciro Gomes, baseado no Ceará e recém-bandeado para São Paulo, tempera um voluntarismo com as práticas das (novas?) oligarquias do Nordeste. É capaz de pinçar termos “gramscianos” para preservar a nossa “questão meridional”.
Poderá ser a alternativa de Lula no caso de um fracasso de Dilma, mas também poderá sair de cena para não confrontar o nosso semibonaparte cordato, que comanda pela simpatia, mas não gosta de muita ousadia.
Restará a opção São Paulo. Porém, a transferência de seu título eleitoral para uma cidade eleitoralmente provinciana e bastante conservadora pode ter sido seu mais grave erro político, maior ainda do que a andança que já fez entre tantos partidos.
A outra novidade é a provável candidatura de Marina Silva. Mulher batalhadora, exemplo emblemático dos que vêm “de baixo” e conseguem quebrar alguns grilhões, mas que não soube romper com o governo do PT quando devia. Foi conivente com a aprovação dos transgênicos e viu arranhada a sua trajetória ao ficar seis anos no governo Lula.
No PV, tem à sua esquerda o Peninha e à direita o Zequinha Sarney. Defende a sustentabilidade numa sociedade cada vez mais insustentável. Não quer ferir a ordem, mas amoldar-se a ela. Se vier a surpreender, não será fácil saber se encontrará ancoragem no seu berço original, o PT, ou se flertará com o PSDB. Mas, se até aqui o quadro parece pelo menos pontilhado, no tucanato tudo é sempre indefinido. O PSDB tem um leque de apoios materiais poderosos, tão amplo quanto os da candidatura do PT, mas com certa ênfase nos setores industriais e produtivos.
Tem também a possibilidade de lançar a sua chapa eleitoralmente mais forte dos últimos anos: Serra e Aécio, dois colégios eleitorais poderosos. Mas, como no PSDB só há príncipes, essa chapa não deverá vingar. Melhor para o país, que poderá assim se livrar do privatismo ilimitado do tucanato. Só como ilustração: enquanto Serra é o rei do pedágio privatizado em São Paulo, Aécio gesta a privatização até no cárcere mineiro.
Juntos, não será nada fácil, e os Correios, bancos e universidades públicas devem pôr suas barbas de molho. Só por isso, essa chapa é do encanto de parcela poderosa dos “de cima”, respaldada pelo caiado e fraquejado DEM, cuja sigla é um claro antípoda de sua longa história como PFL, Arena ou UDN.
Nas esquerdas, PSOL, PSTU e PCB não podem ter outra ambição senão fazer forte contraponto, sem nenhuma ilusão eleitoralista. Mas não será fácil. No PSOL, fala-se abertamente em apoio a Marina Silva, como forma de pingar votos e, com isso, “aumentar” a bancada parlamentar do partido. Há também os que defendem a candidatura de Heloísa Helena com raciocínio similar. É o velho PT incrustado no PSOL. Depois de seu melhor momento eleitoral em 2006, quando conseguiu mais de 6 milhões de votos -numa conjuntura marcada pela corrosão do PT e seu governo-, o que era novo corre o risco de envelhecer precocemente.
A pré-candidatura de Plínio de Arruda Sampaio é, então, emblemática: poderá ser “vitoriosa” se quebrar o tom monocórdio das demais candidaturas, fizer a polêmica de fundo com Marina e esboçar uma alternativa socialista, gerando algum interesse real nos “de baixo”. Será, de fato, uma anticandidatura.
RICARDO LUIZ COLTRO ANTUNES, 56, é professor titular de sociologia do trabalho do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e autor, entre outros livros, de “Infoproletários: Degradação Real no Trabalho Virtual” (Boitempo), em co-autoria com Ruy Braga.
*Este texto foi publicado originalmente na Folha de S.Paulo, na sessão Tendências e Debates
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Proletarier aller Länder, vereinigt Euch!
FOTO - BRASIL DE FATO Nilson Dalleldone nilsondalledone@gmail.com Edição do riso A OTAN caiu numa armadilha... Divirta-se! A Rússia ridicu...
-
Não sei se o autor autoriza eu usar seu texto, mas vou citar a fonte. Seus textos são tão convidativos à leitura e promotores de reflexão, ...
-
Em todas as eleições, sobretudo ao conversar com algumas pessoas nas ruas sobre as opções de votos, não é raro ouvirmos frases como: “Co...
-
Se tem uma coisa que eu não posso negar é a presença da Graça sobre minha vida. Sempre. Do meu nascimento até hoje, não houve um só inst...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por contribuir com sua opinião. Nossos apontamentos só tem razão de existir se outros puderem participar.