Sempre que sou convidada a falar de meio ambiente faço referência à necessidade de instituirmos políticas públicas de meio ambiente. Esse mantra encontra justificativa na contraposição a algo falacioso em que querem que acreditemos: que a preservação ambiental é possível a partir de mudanças individuais.
Confuso? Então vamos trazer
alguns exemplos para ajudar na reflexão que proponho nesse texto.
Um dos problemas provocados pelas
mudanças climáticas é a alteração dos ciclos hidrológicos, e aqui em São José
do Rio Preto temos ano a ano lidado com estiagens mais prolongadas. Se chove
menos temos menos água disponível para consumo. Sendo assim, é razoável pensar
que precisamos racionar o consumo. Campanhas orientando a população a não regar
plantas, não lavar calçadas, para que diminuam o tempo no banho, reduzam o uso
da máquina de lavar, etc., são veiculadas nas mídias. Tudo certo, mas tem um
probleminha. Os maiores consumidores de água no Brasil, segundo a Agência
Nacional de Águas (ANA) são a indústria e o agronegócio, que juntos são
responsáveis pelo consumo de 70% da água doce disponível. Então, é razoável
considerar que, ainda que toda a população de Rio Preto decida reduzir a níveis
mínimos o uso/consumo de água, ainda assim, a economia de água gerada ficará
aquém do necessário para evitar um colapso hídrico.
Seguindo com nossa reflexão,
quando pensamos na emissão de CO2 na atmosfera lembramos da queima
de combustíveis fósseis, que produz o efeito estufa, que, por sua vez,
contribui para as mudanças climáticas. Se todos nós parássemos de usar nossos
carros e motos menos CO2 seria lançado na atmosfera, porém cerca de
85% do combustível fóssil queimado é para produzir energia gasta pela
indústria/agroindústria.
Com esses dois exemplos creio que
começa a ficar claro que atitudes individuais, mesmo que sejam adotadas por
todos os indivíduos de uma sociedade, são insuficientes para impedir o avanço
da crise climática e seus eventos extremos.
A ideia de que cabe ao indivíduo
e não às corporações a responsabilidade por estabelecer padrões adequados de
consumo dos recursos naturais é, no mínimo, equivocada. Antes do indivíduo, a
indústria que lucra com a exploração dos bens naturais, que mesmo diante de
crises produz bens na lógica da obsolescência programada, que limita sua vida
útil para manter o consumo contínuo e crescente, cabe a essa indústria rever
padrões de produção no que se refere ao uso dos recursos naturais.
Podemos citar também os resíduos
sólidos e a pressão para que as cidades implantem programas de coleta seletiva.
Para além da cobrança sobre o consumidor, que deve se responsabilizar pela
destinação adequada do seu lixo, vemos novamente as indústrias, que são as
maiores produtoras de lixo, sendo deixadas em segundo plano. Ou seja, coloca-se
o indivíduo no centro da causa e solução do problema, e deixa-se de lado o que
de fato precisa ser pensado, que é o sistema produtivo: quem produz, o que
produz, quanto produz e pra quem produz.
Diante do desafio de reverter as
condições que alimentam a crise climática, acreditar que basta que
individualmente se faça a escolha certa é, além de tudo, desconsiderar que em
sociedades tão desiguais como a nossa nem sempre é possível fazer escolhas. Enquanto
a classe média pode optar por roupas ecológicas, alimentos orgânicos, deslocar
de bike ou mesmo a pé até locais de seu interesse, a maioria da população
brasileira, e em Rio Preto não é diferente, não tem escolha. Consome o que
pode, quando pode.
Se você chegou até aqui, espero
que agora entenda porque falo tanto em políticas públicas de meio ambiente.
Justiça ambiental se conquista com justiça social e regulação do capital. Antes
de pedir a uma dona de casa que não regue suas plantas, pense em dizer para a
indústria que ela está obrigada a promover novas tecnologias para uso e consumo
dos recursos naturais, e que é obrigada a produzir bens duráveis, reduzindo o
consumo e a geração de lixo.
Só com políticas públicas de meio
ambiente assertivas e controle social conseguiremos avançar!
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