Nilson Dalledonenilsondalledone@gmail.com
Dissuasão nuclear significa que seu inimigo sabe que, no caso de qualquer ato mal calculado, você aperta o botão do Juízo Final. Em 06 de maio de 2024, o Presidente V. V. Putin deu ordem para iniciar a preparação das armas nucleares não estratégicas para combate, diante da ameaça de desembarque de tropas europeias da OTAN, na Ucrânia.
O Estado Maior da Federação Russa, por ordem do Comandante em Chefe das Forças Armadas, começou os preparativos, para realizar exercícios com unidades de mísseis do Distrito Militar Sul, para cumprir missões de combate, segundo informa o Ministério de Defesa da Rússia. Os exercícios têm a finalidade de aumentar a preparação e prontidão de forças nucleares não estratégicas e de manter a capacidade de combate tanto do pessoal como dos equipamentos, para entrar em operação a qualquer momento, numa situação de aumento constante das tensões com o Ocidente imperialista, em consequência do conflito na Ucrânia.
Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, informou que exercícios com armas nucleares não estratégicas têm relação direta com as declarações de governantes ocidentais de enviar tropas à Ucrânia. A Federação Russa, em diversos momentos, avisou que a resposta seria um ataque nuclear preventivo e devastador, conforme as doutrinas militares ocidentais dos tempos da Guerra Fria que, agora, são possíveis graças às armas hipersônicas russas e a evidente vantagem do arsenal nuclear russo.
A doutrina militar da Federação Russa, até há bem pouco tempo, determinava que a Rússia não realizaria o primeiro ataque, exceto a partir de determinado umbral de risco ao país, sendo continuidade da política militar da extinta União Soviética. Mas, recentemente, V. V. Putin advertiu os países europeus, membros da OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte -, de que nem teriam tempo de invocar o Artigo 5 da Carta dessa organização, em caso de confronto real.
É possível supor que está sobre a mesa um plano de ataque de tal magnitude, em tal velocidade e, principalmente, tão definitivo que não haveria tempo, para qualquer reação do Ocidente imperialista. É provável que o conceito de “guerra nuclear limitada” ou o conceito de “primeiro ataque nuclear”, tão estudados pelos EUA, após o fim da Guerra Fria, para desarmar seus inimigos com um ataque inicial contra suas forças nucleares e, ao mesmo tempo, conseguindo conter um contra-ataque com seus sistemas antimísseis, como o THAAD e AEGIS, assim como usando as tecnologias furtivas de ataque com os aviões F-117 Nightrock, o B-2 Spirit, o F-22 Raptor, o F-35, apontavam para essa estratégia, supondo que a Rússia, a China Popular, a Coreia do Norte e o Irã e qualquer outro país hostil não conseguiriam desenvolver contramedidas efetivas. Grave engano da alta burguesia norte-americana e de seus funcionários do Pentágono!
No imaginário norte-americano e de seus aliados menores, numa primeira opção, seria possível um ataque de contraforça dirigido exclusivamente contra as forças nucleares inimigas e seus ativos militares mais importantes. Em outra opção, num ataque de contraforça estendido, aniquilaria todas as forças convencionais do inimigo, toda sua infraestrutura militar e civil. Numa terceira opção, um ataque de contravalor limitado seria dirigido aos centros de poder político e social. Numa quarta opção, a guerra nuclear seria total, com aniquilação completa do inimigo.
Teoricamente, os EUA, superiores tecnologicamente, poderiam lançar um ataque nuclear inicial e seletivo de forma furtiva, desarmando seu inimigo ou aniquilando-o completamente, conforme exigisse a situação e, ainda, impedindo o contra-ataque principal. Ocorre que essa teoria perdeu a validade, porque os EUA perderam a vantagem tecnológica.
É preciso entender que um país, além de seu arsenal nuclear, deve ter vetores de ataque. Um artefato nuclear não tem nenhum valor, se não houver possibilidade de entregá-lo em território inimigo. Então, um avião de combate, um bombardeiro, um míssil balístico intercontinental e, inclusive, uma arma hipersônica, onde a Federação Russa tem uma vantagem gigantesca sobre a OTAN, em seu conjunto, são fundamentais.
Quando V. V. Putin fala de um ataque que não daria tempo de reação aos aliados da OTAN, não está brincando. Um ataque nuclear inicial russo contra a OTAN europeia, a partir da Bielorrússia e Kaliningrad, com mísseis hipersônicos Kinzhal, permitiria desarmar a quase toda OTAN europeia em 10 (dez) minutos, tornando um primeiro ataque russo um grande êxito militar. Na linguagem militar da OTAN, seria um ataque de contraforça estendido, sendo seu objetivo hangares e pistas de caças e de bombardeiros encarregados de entregar a dissuasão nuclear da OTAN, suas bases navais, os silos baseados no continente europeu, as principais bases militares, complexos de defesa antiaérea e sistemas mais convencionais, como os ICBM, liquidando qualquer ativo militar que torne viável um contra-ataque, incluindo instalações de infraestrutura crítica, sem ter de tocar em áreas populosas. Um ataque, nessa escala, não seria de aniquilação, possibilitando, ainda, alguma resposta vinda de submarinos estratégicos britânicos e franceses que poderiam lançar um ataque nuclear, arriscando escalar o conflito. Entretanto, essas armas se baseiam nos mesmos princípios das norte-americanas, sendo muito antigas e de efetividade duvidosa.
Numa guerra nuclear, não há garantia de coisa alguma, mas a Federação Russa, para se contrapor a um ataque nuclear limitado, possui sistemas hipersônicos, como o sistema A235 Nudol e S-500, complementados por sistemas antibalísticos como o S-400 e o S-300, que mesmo não tendo efetividade total, conseguem proteger até 95% dos objetivos dentro da Federação Russa. Considerando que a OTAN não possui armas hipersônicas, simplesmente não haveria outro contra-ataque mais efetivo.
Num cenário como esse, os EUA não se sacrificariam pela Europa e, provavelmente, fariam um acordo com a Federação russa para desescalar o conflito, dando garantias para a situação não se tornar ainda pior. Seja como for, esse nível de confronto, já criaria um cenário quase apocalíptico, constituindo um ataque de último recurso, em toda a extensão do significado dessa palavra, mas ainda assim considera-se viável, mesmo que muito improvável, enquanto a OTAN europeia não cruzar a última linha vermelha, crendo que poderia derrotar a Rússia numa guerra convencional. As palavras de V. V. Putin são um aviso, mas antes são um convite para a reflexão, já que num cenário de guerra como esse ninguém ganhará. Sequer o plano de guerra nuclear limitada é plausível, se os EUA acabarem se envolvendo no conflito. Por isso, não há nenhuma garantia de que o cenário de guerra nuclear limitada não extravase para guerra total. Ninguém deseja que esse cenário se torne realidade.
Que os países membros da OTAN não se arrisquem a dar nenhum passo impensado! Os atuais dirigentes do mundo capitalista não servem de termos de comparação com seus antecessores que comandaram seus países durante a Guerra Fria e que não cometeram o ERRO FATAL. A Rússia de hoje é diferente da União Soviética, seus líderes são outros e, diante de qualquer ameaça de destruição ou desintegração, acionarão o botão do apocalipse. As maletas estão sempre à mão e não haverá ataque de surpresa contra a Rússia, China Popular, Coreia do Norte ou Irã, tal como sonham os atuais dirigentes políticos e militares do mundo capitalista, testas de ferro de poderosa e criminosa burguesia globalista.
Faça sua parte, mas viva, enquanto pode. No caso de uma hecatombe nuclear, em 30 minutos, quando muito um pouco mais, tudo estaria acabado. Por mais algumas horas, continuarão os intercâmbios nucleares em larga escala, até que tudo, em todo o planeta, seja abafado pelo silêncio do inverno nuclear...