Em todos os momentos em que me sento para pensar em minha vida, inevitavelmente me vem à mente a importância de ter nascido em um núcleo familiar tão bem ajustado quanto o meu.
Sou filho de pai e mãe
professores. Ambos são filhos de pais
bem-sucedidos na vida.
Meu avô materno foi um
construtor de sucesso em São José do Rio Preto.
Incontáveis casas e até um loteamento inteiro foram edificados por ele. Além disso, gerou um sucessor que virou grife
na Construção Civil local, construindo os mais modernos e luxuosos edifícios da
cidade.
Da parte de meu pai, seu avô e
pai dominaram a produção de café por essas bandas numa enormidade de terras na
região de Nova Granada.
Meu pai e minha mãe, no
entanto, herdaram deles a determinação, a honestidade e outras tantas virtudes,
menos o dinheiro. Talvez porque nessa fase seus genitores já se encontrassem em decadência ou tivessem partilhado seus bens.
Mas com o que receberam foram
capazes de imprimir uma vida de certo êxito.
Em seu currículo, estão um Conservatório de Música na cidade de Mirassol, uma Corretora de
Seguros, uma confecção que brilhou nos anos 80s, tanto aqui quanto em São Paulo
onde estava presente em três shoppings.
Ambos, no entanto, se aposentaram
como professores, passando em concursos públicos após os 50 anos. Ela do Estado e ele do
Município.
Tiveram três filhos. Eu, minha irmã falecida logo após o
nascimento e meu irmão.
Para nós, os filhos, seu
legado foi além do que receberam. Acima
das virtudes morais transmitidas, deixaram-nos ainda parte de seu talento
artístico, cultural e muita, mas muita sensibilidade.
Foi nesse ambiente de muito
trabalho e luta, mas também música, artesanato, criações e letras, que meu
irmão e eu crescemos. Também foi ali que
desenvolvemos o apreço pela família, pelo humanismo e pela vida em si.
Nossa casa, sempre lotada de
familiares e amigos, era aconchegante e se alguns desentendimentos houve, vez ou
outra, nada mais foram que acaloradas discussões dominicais por política,
futebol ou o que o valha.
Com isso crescemos resolvidos,
decididos, amparados pelo escudo emocional que, com certeza, tem falhas,
ranhuras e alguma fragilidade aqui ou ali.
Nada, no entanto, que
represente fissura trágica ou fornecedora de angústias profundas e incuráveis.
Esse tipo de segurança é o que
faz com que possamos seguir adiante na busca permanente pela alegria, pelas
conquistas pessoais e mesmo pela construção de algo bem parecido para os que se
seguem (filhos e netos).
Por isso decidi hoje rascunhar
essas linhas de gratidão e respeito aos meus pais Carlos e Darci, por sua
presença em nossas vidas, seus esforços na construção de uma história que nos incluía
e principalmente pelo afeto e amor desmedidos com que zelaram pelos nossos
corações e sentimentos.