Quando enfim chegarmos a
2024 estará vencido um ano do novo governo.
Com certeza, já terão
sido aprovadas medidas importantes como a Reforma Tributária e o Arcabouço
Fiscal.
Nossas políticas sociais,
há pouco pausadas e abandonadas, deverão então estar em pleno vigor e
recuperação. Estará restituída a imagem
do Brasil no exterior, revelando seu protagonismo em muitos assuntos, sobretudo
os comerciais.
Destacar-se-á nossa
presença marcante no BRICS, Mercosul e grupos internacionais, em diálogos que
envolvam clima e combate a fome. Ainda, teremos garantido influência perante a
União Europeia, a China e outros parceiros relevantes.
A Cultura, Saúde,
Tecnologia, Meio Ambiente, Educação e outras áreas desassistidas pelo governo
anterior, terão sido enfim socorridas e colocadas “nos eixos”. Iremos finalmente
celebrar o importante aniversário de um ano da derrota de Bolsonaro e a
despedida do que foi sua desastrosa presença no cenário nacional.
Ainda que seja preciso
ressaltar incessantemente o quão agravados foram os males de nosso país face ao
recente e atrasado governo que gerou o bolsonarismo, fenômeno composto por
negacionismo, armamentismo, defesa do agrotóxico, política de ódio, desregramento
ambiental e mentiras, dentre outras mazelas, não só por essa lembrança, no
entanto, 2024 será especial,
A data ajudará lembrar
outros aniversários que trazem à tona, episódios inesquecíveis e
transformadores que, durante um século inteiro, vivenciamos a construir um país
que cresceu na arte da política e da democracia.
Momentos que completarão
décadas a exigir que não deixemos a data passar “em branco” sem realizarmos profundas
reflexões históricas. Afinal a história não é a salvaguarda da verdade e onde todas
as injustiças se desfazem? É também preciosa guia para futuras gerações em
termos de experiência e valiosas lições.
Por óbvio não teremos
simplesmente apagado as consequências e o trauma de nossa, de certa forma,
curta biografia nacional, que carrega até hoje o peso e as marcas da escravidão
que manteve vigente por longo tempo, os efeitos das injustiças sociais
perpetuadas e tantos equívocos mais.
As “comemorações” que o
próximo ano representa, resumem um pouco do que foi o avanço político no Brasil
durante esse período, e que é preciso lembrar para que possamos descer, de vez,
uma pá de cal sobre a infrutífera tentativa de implantar aqui um fascismo à
brasileira, embora sinais de sua maléfica presença insistam em se fazer notar,
sobretudo em lamentáveis episódios como as agressões recentemente sofridas pelo
Ministro Alexandre de Moraes e familiares em Roma por ditos “patriotas” nada
brasileiros.
Assim, quem sabe façamos
de nossas recordações e memórias um antídoto contra essa semente ruim já
parcialmente queimada pelo último processo eleitoral, mas não totalmente
extinta.
Podemos começar lembrando
os cem anos da Revolta Paulista de 1924 que, embora debelada, teve importante
resultado ao terminar fortalecendo a Coluna Prestes que percorreu o país
denunciando os desmandos das oligarquias. E seguindo adiante, fecharmos com a
lembrança dos 40 anos do inesquecível Comício das Diretas em 1984, organizado
por Franco Montoro na Praça da Sé em São Paulo, que unificou movimentos
sociais, partidos políticos e outras entidades populares, além de artistas e
intelectuais de toda sorte, pondo fim a ditadura de duas décadas.
Há que se lembrar, no
entanto daquilo que ocorreu entre um e outro desses eventos, por exemplo, os 90
anos da Constituição que garantiu o voto as mulheres e a criação da Justiça
Eleitoral no ano de 1934.
E não há jamais como
deixar de pensar no que representou a morte de Getúlio e os fatos que o levaram
ao suicídio em 1954, bem como destacar a comoção geral que esse fato iniciou
surpreendendo o país e alterando suas rotas.
A esse respeito, não seria má ideia aproveitar, nessa memória de 70 anos
de sua partida, para clarificar, às atuais gerações, quem foi Vargas no
contexto geral de seu longo governo, que embora controverso, não permite falarmos
de Brasil sem compreender o getulismo.
Por fim e com certeza,
até para elucidar os confusos e incautos é preciso, também e fortemente, detalhar
o que foi o golpe militar de 64 (sessenta anos no ano que vem) com suas
consequências assombrosas e nefastas, debatendo ao mesmo tempo as eleições, dez
anos depois, que abalaram a ditadura no ano de 1974 em que parlamentares
opositores do regime quase alcançaram a maioria do Congresso Nacional.
Recentemente “aclamado” e
sugerido por malucos, o golpe militar ganhou nuances equivocadas. Pessoas e grupelhos nas ruas apelando por um
novo AI5, pela implantação de um “estado de sítio” e intervenção militar na política
com fechamento de instituições democráticas e tudo, comprovam o quanto falta de
entendimento real de parte de nosso povo do que foi esse triste e vergonhoso
episódio no Brasil e seus similares em países irmãos como a Argentina e Chile. Só por isso já valeria destacar 2024.
Na verdade, o que
realmente propõe esse artigo é que cada um dos fatos aniversariantes aqui citados
seja fruto de lembrança, estudo, discussão ampla e sobretudo avaliação.
Tenho convicção de que
instrumentos de informação como jornais, rádios e universidades promoverão
artigos, documentários e debates alusivos a essas datas, mas penso também que
cada um de nós, a nosso modo, devemos dar contribuição a esse conjunto de ações
para não permitirmos o esquecimento de cada gota de sangue ou de tinta
derramada de corpos e tinteiros impressos no registro da história da democracia
brasileira.
Boa parte das pessoas não
são conscientes de todos os momentos cá mencionados o que enseja concretamente
a necessidade de abordarmos com elevado cuidado e integridade cada um deles.
Escolas que formaram
gerações mais próximas, que a esse respeito se limitaram a passar rapidamente,
com pouco destaque, desconsiderando muitas vezes que por um bom tempo, um certo
“enredo” foi incluído ou excluído no currículo ao bel prazer dos interessados
de então, tem maior obrigação.
A nós, enquanto
testemunhas presentes, os relatos e apontamentos corretos devem ser feitos afim
de protegermos o porvir político nacional de espectros pouco humanos e nada
justos, ameaçadores não só da liberdade quanto do avanço.
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