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JUS SPERNIANDI: expressão usada no Direito que significa "o direito de rejeitar" |
Diante daquilo que eu tenho ouvido ou lido, Bolsonaro
não entregará os pontos facilmente e talvez, por apego ao cargo ou receio
das penalidades a cumprir por tantos desmandos e crimes que cometeu, tente um “golpe” para não passar
o governo e busque impedir a posse de Lula.
Enquanto silente, pois demorou mais de 40 horas para se pronunciar após os resultados, e quando o fez, sequer reconheceu sua derrota, alimenta de maneira irresponsável e criminosa os devaneios de uns tantos
que fecharam rodovias, batem boca e até partem para agressões nunca dantes
vistas.
Muito provavelmente, como já fez antes, logo entregará os pontos decepcionando seus seguidores. Mas ainda teremos que assistir alguns absurdos como sua fala de 2 minutos que nada disse de concreto contra quem promove a baderna.
Bolsonaro não é o que se possa chamar de líder fiel. Já abandonou vários apoiadores ao longo de
seu mandato quando esses o prejudicavam ou ofuscavam sua “reluzente” imagem. Quem não se lembra de Alan do Santos, Sara Winter, os
próprios irmãos Weintraub e mais recentemente Jefferson e Zambelli?
Sem falar na frustração do fatídico 7 de setembro em que deixou "a ver navios", caminhoneiros e outros integrantes do Agronegócio que viajaram para apoiá-lo no que seria o "dia D".
Também já ficou provado, alguns de seus
escudeiros mais chegados o abandonaram quando tiveram algum lampejo de prejuízo
ali ou vantagem lá. Muitos desses, por sinal, já até cumprimentaram Lula pela vitória, ontem mesmo. Todo vilão, na ficção ou vida real, sempre é cercado por bajuladores fracos e de caráter dúbio. E esse certamente é o caso aqui.
Conta a história que ao perder o cetro do poder, os “monarcas” veem sua corte imediatamente se reinventar, se vender ao sucessor do rei posto. Por corte, entenda aqueles que, por enquanto, se beneficiam ou se regalam à sombra do palácio. Essa gente, com certeza, já está se mexendo para se “aconchegar em outros lençóis”, ou então e mais logicamente, desaparecerá nas brumas de seus maus feitos sem querer chamar muito a atenção.
Isolado pelos que o rodeiam, uma hora Bolsonaro deixará claro que perdeu. Assim que assumir a derrota, seu séquito, com
exceção de alguns eleitores muito atordoados, deve abandoná-lo também.
Por isso não haverá golpe, reações muito maiores que as que estamos vendo, ainda
que algumas “unidades policiais” façam vista grossa reforçando o discurso de manifestantes o que já foi mostrado em redes sociais. Se fossem professores brigando por salários ou o pessoal do MST, tanto a Polícia Federal quanto o Exército já teriam decido o cacete. Não há dúvidas.
Minha esperança reside na instituição salvaguardada por Alexandre de Moraes que deverá ser lembrado sempre como o grande protetor de nossa Democracia nos últimos tempos. Talvez surja um fato isolado aqui ou ali, quem sabe até chocante, mas nada que mereça preocupação geral e que suscite exército nas ruas, toques de recolher etc. Liderança forte, o Ministro conta com seus pares e é respeitado pelos chefes do Congresso.
Para golpe, mesmo entre os integrantes do governo, há muita divisão e não há firmeza de caráter e nem
clima. As nações do mundo reconheceram a
vitória de Lula e o todo poderoso Mercado já está trocando de roupas nesse exato
momento.
A mídia também se prepara, pois entendeu finalmente o estrago que provocou nos corações e mentes, desde que ajudou a engendrar o golpe que derrubou
Dilma e colocou a Lava Jato no topo do mundo. Jornais, revistas e outros meios de comunicação causaram boa parte de tudo isso e claro, não gostaram nenhum pingo das consequências.
E tem mais. Logo os bolsonaristas vão se lembrar que Dilma foi injustamente
derrubada e ninguém fez nada contra ninguém, jamais provocando violência ou baderna. Igualmente quando Lula
foi preso sem provas, ninguém bloqueou rodovias ou promoveu quebra-quebra, a não ser ficar na porta da
cadeia manifestando sua lealdade. Em 2018, Bolsonaro ganhou por conta dessas maquinações e do maior
festival de “fake news” até então e novamente, ninguém fez nada para impedir sua
posse, aceitando o resultado das urnas resignadamente.
Então eles começarão a perceber na verdade, quem quer
implantar terror, ditadura, autoritarismo, ou pintar a bandeira com
sangue. Quem quer transformar o Brasil
numa zona de guerra. Quem não aceita a
manifestação da vontade popular da maioria comprovada pelas urnas. Quem é arruaceiro de fato. Quem não observa as tão propaladas "quatro linhas da Constituição".
Além disso, há uma indignação que reputo vítima de manipulação mental. Mas nessas manifestações existem figuras que mostram um fundo perverso inquestionável.
O mais importante, no entanto, é o lado de cá entender
que o Brasil sai muito ferido de tudo isso.
Metade de nossa gente não está feliz por enquanto. Está decepcionada, brava e se sentindo mal. E
não podemos descartar que continua sendo alimentada por uma estratégia tecnológica
que poucos dominam. Seja do gabinete do ódio, seja das falsas lideranças cristãs que ainda conservam algum poder de dominação.
Ontem conversava com alguém que me perguntava com sinceridade: “Como
pode ser se Bolsonaro estava tão na frente das pesquisas?" E mesmo eu perguntando de que pesquisas ele valava, ele afirmava convicto de que há
mais de dois meses Bolsonaro vinha muito na frente de Lula nas pesquisas. E eu sem entender. Onde ele via isso? Já não tinha visto no primeiro turno que Lula estava na frente?
Ou seja, alguém lê alguma coisa que sequer sabemos o que
é e de onde vem. Aprenderam a ignorar os
meios formais de comunicação e passaram a seguir apenas seus “confiáveis” canais
de notícias e boatos. E isso é muito grave. Uma manipulação inacreditável que explica um pouco o tamanho da revolta que estão sentindo. Me lembrei imediatamente da obra de Aldous Huxley (O admirável mundo novo) que exibe a pregação subliminar nas pessoas desde crianças e rápido pensei no sucesso da propaganda nazista de Goebbels. Sim... perigosíssimo.
É difícil combater isso. Eles creem mesmo nessa realidade paralela. Pra eles aquele cenário é real. Portanto, tudo o que não pode ser feito agora é haver provocação
pelos eleitores de Lula. Zombarias ainda que sem maldade. Também não é hora de cobrar, apedrejar ou impor qualquer pensamento. E as piadinhas nas redes sociais, podiam dar um tempo. Pelo menos até que tudo se acalme. Esperar que isso venha do descerebrado presidente é perda de tempo.
Claro que eu entendo o grito contido na garganta de todos nós. A necessidade de comemorarmos, extravasarmos. De um modo miúdo, até já o fizemos no mesmo domingo. Só que prolongar mais pode retardar a serenidade
necessária para a boa transição, para o pronto restabelecimento de nossas
vidas, do sentimento democrático e inclusive de nossa atuação profissional.
Já já eles mesmos se virão prejudicados ou prejudicando seus iguais, atrasando a Economia e causando problemas a outras pessoas numa terrível contradição de quem se diz patriota.
Estou feliz? Sim. Muito feliz. Realizado de fato com o resultado da votação. Mas nessa alegria toda há uma lágrima contida pela cisão que se fez sentir. Afinal, uma metade da nação está em pé de guerra com a outra.
Aliás, pela primeira vez na vida, torço que a copa
chegue logo. Ela que sempre perturbou os negócios, quem sabe venha ocupar a população e nos colocar juntos outra vez numa só arquibancada.
Sou avesso ao “Panis et Circenses”. Mas também era contrário ao voto útil. Essa eleição me ensinou muito.
Devíamos esperar os próximos dias. Tenho que lembrar que, por mais que haja um plano maléfico de implantação da extrema
direita e do fascismo no país e em certos lugares do mundo, esse, com certeza, não é o
objetivo de boa parte de nossos irmãos brasileiros que apenas não comungavam de
nosso ponto de vista ou cujos pensamentos estavam desviados propositalmente para outra direção. Acredito mesmo que a lucidez chegará pra todos e veremos nosso Brasil unido de novo.
Quem sabe se possa aproveitar desse grande e histórico
engajamento político que a população brasileira assumiu de um tempo pra cá para
finalmente envolver a todos num espírito de cidadania, reflexão e consciência
política? Seria um ganho imensurável para as futuras gerações e algo verdadeiramente novo.
Claro! Não
defendo “passar pano” e esquecer o que houve.
Os crimes praticados por esse governo, os abusos, a inoperância diante da Pandemia, o discurso ridículo e venenoso do protagonista maior contra
as minorias. O estrago ao Meio Ambiente, à Política Externa, à Educação e Cultura, à Saúde e Emprego que seu ministério horrível deixou. Mas defendo que a culpa vá a quem se deve dar.
Minhas redes sociais estão vazias de pessoas que, nos
últimos dias, postaram “fake news” ou provocaram. Excluí para evitar mais
perdas. No entanto, não deixarei de bem querer ou tratar com cordialidade
aqueles que estiverem desarmados de mágoas ou sentimentos de ódio. Conversar e debater sempre. Pois é
justamente essa unidade e conciliação que fará de nós um povo realmente
patriota, que em nome da nação busque o melhor e o mais justo. Aliás esse foi o discurso da vitória de Lula na Paulista.
Penso que mesmo num vizinho e colega de trabalho que ainda me olham
torto, há esperança de braços dados. Consigo vê-los por trás da imagem do verdadeiro culpado. Bolsonaro é o vilão. Sua corte (Damares, Salles, Mourão, Braga
Neto, Pazuelo, Guedes, Milton Ribeiro, Queiroga, Heleno, Hang, Malafaia, Ciro Nogueira, Lorenzoni e
outros) são os grandes comparsas. Podemos até acrescentar os neymares e leonardos
da vida. Mas os eleitores, não deixam, de algum modo, de serem igualmente vítimas dessa corja.