domingo, 9 de abril de 2017

Na minha visão.

Entender os múltiplos cenários da política é sempre muito complicado.  No Brasil então, nem me diga.
Eu sempre questionei sobre os motivos de Lula não ter vindo, após o primeiro mandato de Dilma, para uma nova empreitada de 8 anos.  Seria, ao meu entender, a consolidação do projeto.
Mas é claro.  Esta é minha ótica.  Os realmente preparados e o próprio Lula sempre souberam que aqueles seriam dias complicados e que alguma reação da direita se daria, o que acabou acontecendo.
Talvez Dilma, por ser mais fraca que ele e mesmo estar, de algum modo, isolada por muitos companheiros, em virtude até das porradas que aos poucos foram tomando conta do cenário, sucumbiu com rapidez.  Afinal, Lula havia sobrevivido ao "mensalão", perdendo já naquele momento diversos braços.
Assim acredito que ele teria, talvez, aguentado mais o tranco.  Mas poderia ter sido devidamente destruído se estivesse lá, no governo, diretamente.
Agora, contudo, não há dúvidas de que sua volta é esperada, desejada e muito, por diversos setores, não só os nordestinos, não só os trabalhadores, mas mesmo outros que assistem ruir a imagem do país lá fora e afastadas, até por conta disso, as chances de crescimento e reabilitação verdadeira da nossa economia.
A resiliência do petista sempre foi seu forte e agora, reforçada pela desastrosa atuação dos artífices do golpe que tentaram trazer o controle geral ao PSDB e não conseguiram, sua imagem faz as chances de sua volta ainda melhores.
Mas é inocência da militância petista pensar que tudo se dará tranquilamente.  Que o processo eleitoral seguirá seu fluxo natural.  Que os golpistas e reacionários de plantão entregarão os pontos assim, na maciota.
Lula deve enfrentar porrada em cima de porrada.  Tentativas absurdas de destruição da sua credibilidade e quem sabe até, atentados.  Sei lá se estou exagerando.
E para barra-lo, os servidores do capital ainda enfrentarão alguns outros problemas, como criaturas da sua própria laia que, estando do mesmo lado do balcão, seriam muito beneficiadas com a volta do PT ao poder.  Um antagonismo muito complicado de explicar a quem quer que seja.
É como se o golpe tivesse passado um “cadinho” do ponto.  E agora, até aqueles obedientes de sempre, como a Globo e a Veja, já entenderam que precisam dar uma freada, recuar uns passos e principalmente, queimar aquelas figurinhas ruins nas quais tinham se apoiado para realizar a retomada.  E já começaram o descarte. Só que pra isso, vão precisar construir novos "ídolos".  Eu arrisco aqui uns 2 ou 3 nomes.  E você?
Só que, neste embalo, há o medo, mesmo de setores privados, de que figuras folclóricas como aquele deputado “fascista”, cujo nome não pronuncio, acabe ganhando um pouco de força e venha a dar trabalho no futuro.  Nacionalista, com clara certeza, esta figurinha atrapalharia os agentes do capital estrangeiro que nunca deixaram de dar as cartas por aqui. É como o Trump lá nos EUA, guardadas as devidas proporções.  Eu que antes tinha até um certo receio de que um retrocesso desta monta pudesse nos atingir, já estou um pouco mais tranquilo, pois não creio que o permitam, mesmo os capitalistas de fora.  Estas forças objetivamente acreditam ser melhor a condescendência do próprio Lula, que convive com alguns “parceiros” indesejados da esquerda, do que a truculência irracional da extrema direita, populista e cega.
Enquanto isso e por fora, se encontra aquele que pode dar guarida ou mesmo alicerçar uma história mais duradoura da volta do projeto petista mas que precisa da aceitação e da paixão menos “personalista” dos militantes “lulistas”.
Ciro Gomes não é inimigo dos trabalhadores e tem uma proposta voraz.  Se atado à volta de Lula numa dobrada irrefreável, complica as chances da direita emperrar a nossa retomada do governo.
Mas Ciro e Lula são figuras demasiadamente vaidosas e cercados de bajuladores não conseguem olhar para o lado.  Neste instante delicado em que nos encontramos, o apelo das bases precisa se voltar para esta união muito mais do que para as pré-campanhas a que se propõem.
Um projeto de Lula e Ciro nos daria no mínimo uns 12 anos de fôlego, talvez ainda assim não suficientes para reconstruir a devassada realizada pelos golpistas em tão pouco tempo.
Para isso, contratos precisarão ser revistos e projetos aprovados, devem ser derrubados.  O Congresso deverá então, observar a força popular do novo executivo e “baixar a bola” no seu apetite. E só a força popular de Lula não é suficiente. 
A dobradinha pode fazer isso com mais competência.  Os passos traçados pela Lava Jato que ora gira para um lado, ora para outro, se atropelarão se dividirem o foco, permitindo que a queda de braços aconteça de forma menos bagunçada.
E neste contexto a esquerda dividida e com seu “centralismo” confuso, precisará “tapar o nariz” e colaborar sem “purismo” irresponsável.

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