É cansativo ter que ficar explicando para as pessoas sobre os motivos
que me levaram a já ter trafegado por alguns partidos políticos em minha
história de militância. As pessoas não
olham isso com bons olhos e criticam pra valer.
Visita ao Pontal do Paranapanema - Acampamento Sem Terra |
Mas ser “de bem”, não pode se confundir com o fato de omitir-se de um
processo tão importante e fundamental para a vida das pessoas como a
manifestação das crenças e convicções políticas.
O exercício da política está além do serviço público daquele que exerce
cargo eleito ou nomeado por razões as mais diversas.
Fazemos política a todo instante, quando discordamos disso ou daquilo,
brigamos por tais direitos ou exigimos o cumprimento de alguns deveres alheios.
Ainda, estamos “politicando” quando estamos debatendo ou mesmo
criticando o cumprimento ou não da missão de políticos e agentes do serviço
público.
Escolher militar não só é algo que provém de uma vocação, mas sobretudo
é o abraçar de uma responsabilidade humana de quem vive em sociedade.
Sobretudo num sistema como o nosso, em que são candidatos membros de
partidos, não estar nos partidos para ajudar a definir quem deve ou não ser
candidato, já é, por si só, uma ação contundente que interfere nos resultados
eleitorais.
Aqueles portanto que batem no peito com um “orgulho” questionável de
quem não votou neste ou naquele candidato, se esquecem de que não evitaram que
os mesmos fossem candidatos já na raiz ou nascedouro de suas campanhas. Os partidos políticos.
Eu não posso afirmar que eu tenha tido todo este esclarecimento logo no
início de minha “agitação” política. Mas
fui sim, de algum modo, movido pela chama da vocação.
Carlos Feitosa |
Em 1982 eu tinha apenas 14 anos de idade. O Brasil ainda respirava os ares da Ditadura
Militar, pois somente em 1985, a campanha pelas Eleições Diretas ganharia a
força necessária para romper os grilhões deste absurdo que é não poder escolher
os próprios representantes.
Mas, mesmo em 1982, era possível se eleger prefeitos e vereadores. E foi exatamente aí que iniciou meu
engajamento.
Um grande amigo da família e também dirigente de uma associação de
classe na qual meu pai participava, lançou-se como candidato a vereador. Foi ouvindo-o falar em algumas reuniões nas
quais meu pai me levou, que a paixão acendeu em mim a chama para este destino
que eu assumiria de forma muito dedicada nos próximos anos de minha vida.
Carlos Feitosa, fora candidato a Vereador pelo PMDB ao lado de Manoel
Antunes que era o candidato majoritário da chapa. Não foi difícil entender os motivos pelos quais ambos precisavam passar e
bastou-me ser convencido disso para que eu abraçasse, ainda menino, a causa e
ajudar de algum modo.
Participando, ao lado de meu pai, de algumas reuniões, panfletando nas
ruas e ouvindo muita gente falar em várias partes da cidade, assumi, eu mesmo,
a missão de falar com alguns pais de amigos, na escola e onde quer que eu
pudesse.
Sei lá se ajudei com um ou mais votos, pois eu mesmo não podia votar pela
pouca idade que ainda não me garantia este direito.
Feitosa e Manoel Antunes foram eleitos e cumpriram mandatos muito
importantes para a cidade.
Eu conseguia, aos quinze anos, visitar o Gabinete de Feitosa para me
inteirar de seus projetos e propostas apresentadas. Assistir, ao lado de meu pai, algumas sessões
na Câmara Municipal e inclusive ficar nervoso, quando via a derrubada deste ou
daquele projeto no qual eu acreditava.
O próprio prefeito fez uma administração diferente e elevou minha São
José do Rio Preto a patamares nunca dantes alcançados.
Minha militância começava então aos 15 anos, participando de algumas
reuniões do que seria o PMDB jovem. Um
grupo que se reunia, muitos dos quais sem filiação partidária, como eu.
Explicar aqui o que o PMDB representava neste momento é desnecessário. Basta lembrar que a maioria dos partidos de
esquerda (avançados), estavam na clandestinidade e utilizavam o PMDB para se
manterem existindo.
Ao “acender das luzes” com o fim do comando Militar na Política
Brasileira, surgiram então outras alternativas e o pluripartidarismo voltou.
Eu não via a hora de me filiar, mas para tal era necessário estar
votando. E votar, então era tarefa
apenas para os maiores de idade (18 anos).
Fiz 18 anos em 1986 quando participei da primeira eleição com o
voto. O quadro de candidatos era o pior
possível. Seria uma eleição triste para
quem queria votar direito na primeira vez.
O decente e comprometido governador André Franco Montoro, do PMDB, não
podia concorrer e em seu lugar estava o candidato Orestes Quércia, que não me
agradava em hipótese alguma. Do outro
lado, Paulo Maluf, o conhecido “biônico” dos militares no partido que deu
sequência à ARENA, o PDS. Ainda,
concorria o empresário paulista Antônio Ermírio de Moraes e não me lembro mais
quem.
Além de votar com o nariz tampado, não me filiei naquele ano. E deixei de lado minha participação na
Juventude do PMDB, que já não frequentava.
A militância partidária foi trocada pela minha participação ativa e
dinâmica num grupo de jovens da Igreja Católica na Paróquia de São Judas Tadeu,
administrada por padres Combonianos que eram extremamente politizados e
engajados em pastorais como (Da Terra, Operária e Carcerária). O que aprendi em alguns anos ali, mesmo às
vezes discordando ou sendo distraído por opositores destas visões, não troco
por nada. São a base de minhas bandeiras
de hoje.
Visita de Ciro Gomes em São José do Rio Preto quando no PPS |
Mas daí, começaram os equívocos.
Em 1988, fui convidado por Feitosa e seu grupo político, que incluía,
entre outros, o advogado Waldemar Alves dos Santos, o professor Fábio Renato da
Silva e o Advogado José Cury Neto a fundar em Rio Preto o PSDB.
O partido que se intitulava Social Democrata, estava sendo criado em
Brasília e na sua cabeça estavam alguns ilustres de pensamento arejado. Dentre eles, Franco Montoro, o ex-governador
paulista que mencionei acima e o já emblemático prefeito de Fortaleza Ciro
Gomes, além de outros.
Com grande êxito, organizamos o partido na cidade e para torna-lo
realidade, Feitosa sacrificou seu terceiro mandato, praticamente garantido,
para disputar a prefeitura em uma chapa pura de vereadores que incluía os 12
fundadores, dentre eles, eu aos 20 anos.
Meu discurso na Praça D. José Marcondes ao lado de FHC (5) |
Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas, pareciam duas figuras bem
avançadas então. Que bom, pois hoje
guardo uma foto em que discurso em praça pública ladeado e aplaudido pelo hoje
horroroso FHC. Anos antes, Cardoso, o sociólogo que um dia
viraria presidente, chegou a ajudar um grupo a fundar um partido de
trabalhadores que viria ser o maior da América Latina, o PT.
Mas bastaram alguns anos de militância no PSDB para eu descobrir que
esta “dissidência” do PMDB trazia consigo as mesmas contradições que os fizeram
sair do partido de origem.
Nesta época, participei de um encontro em São Paulo onde ficamos “internados”
em um hotel para discutirmos as diretrizes do Partido no Brasil e ali já se
percebiam as primeiras divergências entre as principais figuras. Estes dias ouvindo Franco Montoro e outros
importantes líderes políticos foram de uma emoção impagável e representaram um
crescimento inacreditável na minha visão de política e de Brasil. Em pouco tempo o partido se dividia e as
figuras “aclamadas” começaram a “botar as mangas de fora”.
Embora eu soubesse que contradições em partidos são normais e que é
preciso enfrenta-las, nem isso foi suficiente para me segurar na legenda. Mesmo atuando de forma favorável e
contundente nas campanhas municipais, meus votos para o Congresso e Presidência
tinham outros destinos.
Uma gestão da executiva municipal que veio “plantada” pela capital e
derrubou o antigo grupo dirigente do partido, foi o tiro de misericórdia e me
fez pedir a desfiliação pela primeira vez do meu primeiro partido.
Mais uma vez a participação partidária foi trocada. Desta vez pela criação de um grupo
transformador em minha cidade.
Grupo Geapol - na foto D. Orani Tempesta e Pe. Jarbas Dutra |
Nascido na Campanha da Fraternidade que remetia os católicos a
participarem ativamente da política, o GEAPOL – Grupo de Estudos e Atuação
Política foi uma das melhores coisas nas quais já estive envolvido. Sob a gestão transitória de seus membros, mas
sob as bênçãos de um bispo democrático e
de visão ampliada (Dom Orani João Tempesta), hoje Arcebispo do Rio de Janeiro o
grupo ainda contava com o acompanhamento de dois outros padres esclarecidos:
Jarbas Brandini Dutra e Antonio Valdecir Dezidério.
O Geapol foi também o responsável pela criação na cidade, da Associação
Amigos de Rio Preto (AMORP) e da Universidade Aberta (ligada à UNESP). Nesta época, voltei a me encontrar e
estreitei muito os laços com antigos companheiros de militância, que eram membros
do Partido dos Trabalhadores. Na
juventude do PMDB e mesmo depois no PSDB, embora em campos diferentes, várias
vezes caminhamos de mãos dadas e subimos juntos em palanques comuns. No GEAPOL, muitos dos participantes eram
filiados ao PT. Já de muito, Lula e outros
tantos eram meus candidatos escolhidos e que recebiam meus votos para a
Assembléia, Câmara Federal, Senado, Governo do Estado e Presidência do Brasil.
Por meio do grupo, realizamos as Semanas Sociais, os Gritos dos
Excluídos e vários debates pré-eleitorais, de discussões aprofundadas com temas
relevantes, além de uma intensa participação em movimentos, protestos e outras
atividades, como o ato ecumênico contra a invasão ao Afeganistão pelos Estados
Unidos no pós 11 de setembro.
Não tardou, no entanto, para eu ser convidado para um novo desafio. Militar no histórico “partidão”. O que eu não contava é que minha falta de informações
me fizesse acreditar nisso. Mas mesmo
esta escorregada foi fundamental para o que haveria de vir. A convite de Feitosa me filiei ao PPS –
Partido Popular Socialista, presidido nacionalmente pelo dito “comunista”
Roberto Freire. Só mais tarde vim a
saber do terrível papel desempenhado pelo mesmo no racha que tirou, do PCB
tradicional, o que agora era o PPS, entregando ainda o espólio histórico do
partido para a Fundação Roberto Marinho.
No PPS conheci camaradas de história política interessantíssima. Cláudio Leme, por exemplo e revi o velho
companheiro do PT, José Carlos Galvão entre outros. No partido ainda, voltei a militar ao lado de
Ciro Gomes, que então trouxemos a Rio Preto para uma visita na Faculdade de
Direito, onde eu estudava e para a realização de uma palestra na Câmara
Municipal. Também no PPS, voltei a
cruzar caminho com um antigo camarada de algumas lutas que travei ao lado de
Feitosa, no passado. O velho comunista
Roberto Vasconcelos.
Meu irmão - Marcelo Gomes - Secret. Formação PCB |
Diante de uma ação do governo municipal que rumava para a privatização
do esgoto, desliguei-me da Secretaria e abracei uma candidatura suicida a
vereador numa coligação com o PDT na qual concorríamos com o “certamente
reeleito” prefeito.
Meu irmão trouxe da Alemanha um destes bótons pra mim |
A organização do PCB se consolidou. Com a imprescindível participação de meu irmão Marcelo Gomes, hoje Doutor em Ciências Sociais, fundamos o Instituto Lúcia Galli de formação política frequentado por
membros de outras legendas e estudantes em geral. Tudo parecia estar indo muito bem, mas o
partido no cômpito nacional e estadual definiu por uma atuação que não
priorizaria mais o processo eleitoral, dando ênfase à sua história
revolucionária. Com isso, apresentei
minha desfiliação partidária. O PCB era
então meu terceiro partido.
Nesta época, mudei-me para um condomínio de chácaras distante uns 10
quilômetros de Rio Preto. O condomínio
era vizinho da pequena cidade de Guapiaçu, onde comprei uma escola de cursos de
informática e línguas, que eu geria ao lado de outra unidade escolar e de uma
Corretora de Seguros que fundei em 1995 e ainda me pertence. Para esta cidade, acreditei que transferiria minha
militância partidária. Menor e
completamente tomada pelo PSDB (governo tucano), parecia importante oferecer
aos munícipes alternativas.
Não demorou e atraído por um grupo diferenciado em Rio Preto, que me
convidara para ajudar o crescimento do partido em Guapiaçu, não hesitei e em
breve filiei-me ao PSOL, criado por um grupo dissidente do PT. Novo em suas propostas, o PSOL carregava a
bandeira socialista, que em muitos casos se confundia às defesas do PCB.
A militância, no entanto, não durou muito tempo, pois o partido não
aceitava apoiar a eleição de Dilma, candidata à presidência pelo PT. Eu tinha convicção clara de que o Governo de
Lula precisava ter sua continuidade, pois o Brasil tinha conquistado, para a
classe trabalhadora, o que nenhum governo anterior havia permitido.
Por conta disso, desliguei-me do partido e iniciei um trabalho
voluntário para colaborar na campanha petista.
Isto me rendeu o tardio mas honroso convite para cerrar fileiras ao lado
dos meus companheiros do PT. E foi no
partido dos trabalhadores que organizamos uma maravilhosa campanha naquela pequena cidade governada por tucanos.
O desgaste deste trabalho, aliado a outras situações, me fizeram ceder
ao convite de velhos companheiros do PMDB e PPS, agora unidos em torno da
reconstrução em Rio Preto do PMDB. De
volta ao partido onde tudo começou, do inesquecível Ulisses Guimarães, participei
de uma campanha municipal em que PT e PMDB estiveram juntos e coligados. Vale dizer que no cenário federal, PMDB e PT
estavam igualmente unidos.
Embora ciente das contradições do partido que teve e tem sua importância
inegável na história da democracia brasileira, lá permaneci até o rompimento do
mesmo com o governo petista de Dilma Roussef, há alguns meses no trágico
episódio da “traição”, onde o presidente nacional do PMDB, Michel Temer,
participou ativamente na articulação do processo de impeachment ao lado de
figuras desprezíveis da política nacional como o ex-presidente da Câmara
Federal, Eduardo Cunha.
Voluntaria e humildemente, pedi aos companheiros do PT o meu retorno, o que
aceitaram prontamente. O desafio agora passa a ser demonstrar que o partido em
Rio Preto jamais se envolveu em qualquer falcatrua. Jamais foi citado, questionado ou denunciado,
mesmo tendo vereadores por anos, tendo ocupado secretarias importantes e
inclusive a vice-prefeitura. Quando
tenho uma tarefa por fazer, a cumpro. E aplicarei
minhas energias na defesa do governo que mais fez pelo povo menos favorecido,
mesmo eu tendo algumas reservas ou críticas ao desempenho de Lula e Dilma.
Coisas como o Processo do Mensalão, as denúncias da Operação Lavajato e
outros escândalos, trazem em si verdades e exageros, muitos dos quais
comprovadamente fruto de manipulação midiática e de ação seletiva da justiça.
Há muito o que se provar, sobretudo de acusações fundamentadas apenas em
testemunhos orais, frutos de delações negociadas.
Esta minha defesa nunca foi incongruente com minha militância e sempre
mantive coerência, mesmo em outras fileiras.
Ao todo, foram 6 filiações partidárias diferentes, sem jamais mudar
minha linha de pensamento, minhas defesas ou convicções políticas.
Militância Política |
Em todo caso, se no meio de tudo isso vivi a vaidade e cometi erros, talvez,
mas há também muito de senso de responsabilidade, cidadania e vontade de
acertar.
Não sei se vou morrer no PT, mas não vou parar de militar. Isto é fato.
Li tudo, depois prometo que comentarei. Abraços
ResponderExcluirValeu, Carlos, um texto sóbrio, honesto e esclarecedor. É claro que a militância nas fileiras da esquerda tem um preço alto na cotação da sociedade programada e pautada pelas mídias controladas pela direita, mas é a única forma de nos proporcionar o bem mais valioso que existe: a consciência limpa e tranquila, de ter feito o nosso melhor para a sociedade, de forma desinteressada e pura. Parabéns. Votos sempre de grande sucesso e que "a emoção sobreviva." Abs.
ResponderExcluirCarlos,
ResponderExcluirNa vida há aqueles que somente passam... e deixam apenas um registro opaco. No entanto, há aqueles que durante a trajetória deixam sua marca... ajudam com que a sociedade tenha um colorido diferente, uma pitada de ousadia, esses deixam saudade e suas memórias servem de fermento para as futuras gerações.
Continue acreditando em seus ideais, pois são eles que devem mobilizar uma sociedade mais promissora.
Forte abraço...