Imagem extraída do site agoralitoral.com.br |
É fácil compreender porque o
tema do aumento de salários dos vereadores causa tanta indignação. Afinal em um
país que está em crise há algum tempo, tanto econômica, quanto política,
parece-nos absurdo imaginar que entes políticos inflarão seus recebimentos
enquanto todo o resto do povo permanece a se equilibrar nos cambaleantes “andaimes”
da vida.
Eu pessoalmente acredito que
as distorções são gravíssimas, posto que tantos são os profissionais, de
diversas áreas, mal remunerados a aguardar por anos a fio, justiça em seus
holerites sem vislumbrarem ações nessa direção.
O que me causa preocupações,
no entanto, não é esse compreensível grito da sociedade face a essa decisão de
se auto promover dos membros do parlamento municipal e sim o fato de que as
bravatas, que carecem de reflexão mais profunda, sejam simplesmente aceleradas
e potencializadas por mecanismos e entidades cuja obrigação talvez fosse a
provocação ao debate e não a mera definição do que é certo ou errado, bonito ou
feio, decente ou ultrajante.
Acredito que não basta dizer
“sou contra” ou “sou a favor” a qualquer que seja o projeto, lei ou mesmo
opinião, sem antes uma dissecação completa e metódica do assunto em pauta.
Seria uma redução triste e empobrecedora da participação popular justamente num
momento de nossa história em que o envolvimento dos cidadãos nesse tipo de
diálogo parece ter ganhado alguns avanços nos últimos tempos.
Terão sido medidos todos os
componentes? Estudados os cenários? Quais são os pressupostos que evocam a
necessidade do aumento? E por que o valor “x” ou “y”? O que aconteceria no orçamento municipal se
porventura o aumento se verificasse? É
mais importante o que o vereador recebe à luz, do que aquilo que a escuridão
poderia deixar passar despercebido? Qual
o mérito, em dinheiro, de um bom agente que se desvencilha da vida profissional
para se dedicar por inteiro a um trabalho exclusivo em prol da sociedade?
Tenho certeza de que, de modo
acalorado, alguns até botaram esses pontos na mesa. Precisa só saber se foi
contundente ou tergiversado.
Talvez fossem essas as
questões a se defender primeiro e com real capricho.
Valem outros senões. Um salário mínimo para participar apenas uma
vez por semana das sessões da Câmara seria muito dinheiro para alguém e sai
caro pra cidade ao mesmo tempo em que dez salários talvez possam ser pouco para quem se dedica “nellum tempus” a
qualquer tarefa.
Possivelmente ainda há que se
pensar que pessoas melhor preparadas, seja por cursos universitários
apropriados à gestão pública, ou ainda trabalhadores dedicados e competentes em
suas áreas, que mesmo sem o terceiro grau, poderiam se colocar ao dispor dos
eleitores, se inibam de deixar para trás bons empregos e remunerações para se
dedicarem à vereança por salários abaixo dos seus.
A produtividade real também
não parece difícil de ser medida com um pouco de boa vontade. Quantos projetos, indicações, participações
em plenário e enfrentamentos o edil escolhido apresenta em seu currículo?
O foco no salário tira da
questão principal toda a observação necessária para se consertar de fato o que
acreditamos descabido.
Vale salientar que aqui não se
advoga em prol do aumento, mas sim em prol da ampliação da discussão.
Fazer coro ao discurso
irresponsável que coloca todos os políticos em pé de igualdade, faz apenas com
que caiamos em armadilhas do tipo que deixa livre o ringue de disputas para
quem sempre se valeu da omissão e do desinteresse popular.
Por isso e de uma vez por
todas, querer moralizar a prática da política na cidade ou país, carece de um
pensamento que vá bastante além da mera moral.
Tenho vontade de participar de
uma audiência pública que possa me permitir opinar à vista de todos sobre
isso. Não escondo, entretanto, que me
causaria certo constrangimento defender “ao vivo” os pontos ora apresentados. Já
sei como a maioria reagiria, ainda mais respaldada pela adesão de entidades ou
aparelhos de amplificação de opiniões.
Mas como acompanho o resultado
de meus votos, e sei amplamente o que faz ou o que defende, o que evita e o que
economiza para o erário aquele ou aquela em quem depositei minha confiança nas
urnas, o faria de maneira e consciência tranquilas.