segunda-feira, 26 de julho de 2021

Franquias, o meio mais seguro de iniciar seu negócio.

 


A crise que assola o país e o mundo e que dificulta muito qualquer tipo de empreitada, foi alargada pelos efeitos da COVID 19.

Mas o fato é que nunca foi fácil. Empreender sempre exigiu coragem, determinação e perseverança.

Por isso sempre que amigos perguntam em que investir para criar um negócio próprio, indico iniciar por uma franquia. É mais seguro.

O universo do franchising no Brasil sempre foi promissor, ou pelo menos a partir do final dos anos 90s seu crescimento deu-se de maneira contínua.

Minha relação com o Mercado de Franquias teve início nessa época prestando serviços para uma rede ainda em início, mas que já mostrava grande ímpeto. 

Como professor e depois como coordenador pedagógico da Unidade Piloto da Microlins, botei os pés num mundo totalmente novo.

Não demorou e rapidamente eu tinha minhas 3 unidades próprias.  Desde esse momento, nunca trabalhei sozinho, sempre mantendo sócios. 

Aprendi os meandros que envolvem a relação franqueadora e franqueado dos dois lados do balcão o que me viria a ser extremamente útil aos próximos passos.

Anos depois de vender minhas escolas passei rapidamente pela rede concorrente, a Prepara Cursos e mais adiante pela Dr Resolve, uma rede de micro franquias que iniciava de um jeito ainda mais arrojado.

Essa experiência tripla me deu gabarito e logo em seguida eu fundava a World Brasil, onde prestava serviços a redes de franquias já constituídas ou ajudava empresários na formatação de suas marcas. Foram muitas as que contaram com nossos préstimos.  Vilesoft, PetCursos, Projeta, Mercadão dos Óculos, Sr Computador e outras em variados ramos e estágios de atuação.

O passo seguinte, foi a fundação da Maria Brasileira, até hoje um sucesso e logo na sequência a formatação da San Martin Corretora de Seguros. Essas duas cresceram de maneira vertiginosa e quase espontânea. Logo se alastraram pelo Brasil adentro.

Minha última atuação como formatador, foi com a rede Banneg cujo crescimento não foi menos surpreendente.

O relato dessa caminhada é para dar embasamento ao que vem a seguir. Comentar um pouco sobre esse ramo de negócios que já deixou muita gente bem e ao mesmo tempo, já frustrou outros tantos.

A origem do franchising é controversa, no entanto, apresenta picos destacados como os anos 50s e depois a década de 80.  Os Estados Unidos, com certeza, foram os precursores do modelo que nos foi apresentado quando os shoppings explodiram por aqui.  Franquias de alimentação e vestuário desbravaram o Mercado Brasileiro de Franquias.

Em meio a esse contexto, já no final dos anos 90s, surgem, principalmente no interior do Estado de São Paulo, com destaque à cidade de São José do Rio Preto, algumas modalidades um tanto diferentes e avançadas de franquias.

A micro franquia de filtros de água Hoken cresceu exponencialmente em tempo “mágico”.  Quase que na mesma onda, se multiplicava a rede de cursos de informática Microlins.  Foi essa última, então do empresário José Carlos Semenzato, que incrementou o suporte conseguindo oferecer aos seus franqueados a satisfação real ao mesmo tempo que cobrava e acompanhava seus resultados. Uma inovação que custou caro a outros franqueadores mais pacatos.

Esses dois modelos foram fundamentais para atrair muitos profissionais que viram a grande oportunidade de suas vidas sendo-lhes apresentada. Em pouco tempo a cidade reunia advogados, contabilistas, assessores de imprensa, publicitários e homens de marketing voltados quase que exclusivamente para o franchising.

Nasceram, ao mesmo tempo, em torno dessas marcas, experts em sistemas de gestão e controle.  Mais adiante, outros tantos voltados a consultoria e treinamentos.  Ou seja, mão de obra qualificada de A a Z para quem quisesse montar sua própria rede.

Onde há quantidade, há também qualidade (boa e ruim).  Por isso, dentre tantos, muitos se perderam e fizeram asneiras imperdoáveis, mesmo após um avassalador crescimento.

Enquanto isso acontecia, ganhou mais força no Brasil a Associação Brasileira de Franchising – ABF. 

Poderia até se supor que a associação fora criada como uma “agência reguladora” do meio.  Mas não é verdade. Ainda que se suponha que a mesma tente evitar aventureiros no Mercado, não há como prever dentre essa amplitude de marcas que surgem a todo instante, seu caráter ou intenções.

Bastante interessada em vender espaços em feiras, publicidade em seu site, a ABF muitas vezes prestigiou grandes marcas, sem perceber que muitas delas não eram tão leais como aparentavam.

Fazer parte do quadro associativo, não garante lisura total de uma determinada rede, só que não participar gera muitas dúvidas sobre. Melhor então se associar e participar de maneira ativa para poder garantir sua atuação séria.

Por conta da pandemia, as feiras estão suspensas e isso não deixa de ser momentaneamente bom, pois oportuniza que associação e filiados repensem seus formatos.

Nesses eventos, glamorosos palacetes contrastavam com humildes estandes que muitas vezes ofereciam oportunidades mais honestas.

Além disso, vendas ocorriam em plena feira, contrariando o interstício exigido pela legislação entre o contato do interessado (investidor) com a marca.

O que não se pode negar é que por meio de cursos, indicações e mesmo equipes de apoio oferecidos pela associação, muitos investidores e franqueados são ajudados, com destaque ao grupo que visa levar marcas brasileiras ao exterior. Eu mesmo já estive entre eles em oportunidades ótimas.

Quando se fala em franquias, devemos entender fundamentalmente duas coisas: modelo e prática.

Temos franquias que exigem capital inicial elevado, montagem de lojas amplas, bem equipadas, processos de atendimento e serviços modernos e de alto padrão.  E temos franquias pequenas, ditas baratas, que exigem investimento módico, podendo até permitir a atuação do franqueado em casa (home).

São chances de ganhar mais ou menos e de perder mais ou menos.  Por isso devem ser estudadas com grande atenção.

É para isso que a legislação prevê o prazo de análise e exige o encaminhamento aos interessados numa franquia da Circular de Oferta.

Nesse documento é fundamental que o franqueador expresse os riscos no mesmo grau de destaque que as oportunidades.  Também deve agregar a ele detalhes como plano de negócios, regras essenciais e outras informações que permitam uma avaliação completa.

Eu acrescentaria, se pudesse, a constatação in loco do investidor na unidade piloto, que também deve ser estudada.  Afinal, ela é aquilo que está sendo vendido de fato.

Depois disso, a decisão é toda do novo franqueado que deverá então assumir o ônus e o bônus do que está contraindo ao assinar o contrato.

Não é incomum que franqueados se arrependam, mas em nenhum momento é dada qualquer garantia de êxito, pois a execução e operação diária é total do franqueado.

Ao franqueador caberá sempre a disponibilidade da marca, dos fornecedores, dos produtos ou serviços e do apoio operacional via indicações, orientações, fornecimento de treinamentos e outros processos. Mas ganhar ou não dinheiro, crescer ou não, será sempre uma decisão do investidor.

 

 

terça-feira, 20 de julho de 2021

Mal olhado uma ova.

Eu me lembro bem de algumas das melhores coisas da minha infância. 

Brincar até tarde na rua, era uma delas. 

Tomar banho no horário estabelecido pra não levar “guardada de jaca” da mãe, era o que garantia o alvará.  Pois logo em seguida, podia-se pedir para ficar mais um pouquinho com os amigos, pelo menos até o jantar.

Mas tinha uma condição.  Após o jantar era “de lei” ir pra sala ver TV em família.  Eu podia até jogar algum jogo de tabuleiro com meu irmão ou mesmo ler um livro, desde que ficássemos todos juntos.  E era muito bom.

Assim, seguir a programação da TV virou algo costumeiro e acompanhar novelas, bastante comum.

Algumas ficaram tão gravadas que hoje sou capaz de dizer em qual época passou tal novela e em que casa eu morava. 

As primeiras da Tupi eram ótimas.  Vitória Boneli, As pupilas do senhor reitor, A rosa dos ventos, A viagem, Mulheres de areia, Ídolo de pano e por aí vai. Depois, foram as da Globo.  O astro, Selva de pedras, O casarão, Pai herói e o Bem amado.

Não sou mais noveleiro.  Claro, a gente cresce em todos os sentidos.  Veio a puberdade com outras distrações e  o aprofundamento nos estudos com suas obrigações e deveres que eu adorava fazer após o jantar. Daí pra adiante foi o desenvolvimento natural e a consequente libertação da TV que então deixou de ser importante. Graças a Deus.

No entanto, algumas coisas nas novelas daquela época me marcaram profundamente.  Principalmente aquelas que mostravam vilões que conseguiam interferir no dia a dia das pessoas, manipulando suas vidas por trás ou criando um ambiente infernal no seu entorno.  Os personagens vítimas eram sempre os últimos a saber. Óbvio.

Criando “verdades” de maneira escultural, essa mulher ou homem, um ser mal-intencionado, se travestia de bom amigo, irmão ou parente leal, mas no fundo vivia promovendo armadilhas para sabotar alguém, seja por inveja, concorrência, interesse ou mesmo maldade pura.

Tinha vítima que abria mão do amor da sua vida ou deixava pra trás grandes amigos por crer nas mentiras bem arquitetadas pelo crápula.  

Por outro lado, havia também vítimas que perdiam a sua própria credibilidade e o respeito das pessoas que compravam a versão pregada pelos vilões de duas caras.  Com sua reputação destruída, esse coitado ou coitada passava a ser tido por ladrão, desonesto, traidor, ou qualquer outra coisa que o valha.  Era destruído aos poucos sem sequer imaginar. Sempre ingênuo, caia em arapucas que apenas confirmavam as histórias que dele eram fabricadas por essas mentes malfazejas.

Presente na maioria dos enredos de então, aquilo me deixava indignado, mesmo eu sendo ainda moleque.  Pra meu sossego, felizmente, havia o benefício de pensar que tudo fazia parte da trama televisiva, mas que jamais aconteceria na realidade.

Ledo engano.  Basta viver para ver como a vida imita a arte.

Se alguém arruma um grande amor, se alguém se dá bem na carreira ou ainda se recebe uma promoção, um prêmio ou se simplesmente é bem-quisto pelas pessoas à sua volta, isso incomoda tanto a uma figura ruim que, essa pessoa disfarçada de gente boa, generosa, humilde, coitadinha, fará de tudo para destruir a vida desse seu desavisado desafeto.

E o pior, por incrível que pareça, os maus feitores conseguem êxito e o alvo de seu ódio vira bandido.  É perseguido, detestado, desprezado, demitido, apelidado, repudiado e desacreditado.  Perde seu valor e torna-se um pária, sem imaginar como ou por quê isso aconteceu. Se duvidar, como fica isolada, essa pobre alma acaba por se aproximar ainda mais de seus algozes que por fingirem bem, até a consolam e recebem sua confiança e apreço cada vez mais.

Com o advento das redes sociais, parece que esse tipo de comportamento piorou muito.  

Como alguém não pode saber o que é comentado de si nos grupos secretos de WhatsApp, que também servem de submundo de covardes e mentirosos, há o risco de acabar por confirmar maldades lhe dedicadas quando inocentemente publica em suas páginas e perfis pequenas conquistas ou bons momentos de sua vida.  O simples sinal de felicidade ou um sorriso leve, instantaneamente alimentam a ira de quem já está envenenado.

Triste, mas já vi ser chamado de “picareta” alguém que jamais se locupletou de qualquer coisa alheia, ou que jamais "passou a perna" em alguém.  Também já vi ser tido por espertalhão alguém que sequer aplicou qualquer golpe.  

Atacado por gente de caráter defeituoso, tem quem seja tomado por mentiroso, fofoqueiro, sem muitas vezes nem se importar com vidas alheias ou sem jamais contar intimidades de quem quer que seja.

Construir uma imagem é muito difícil. Todo mundo sabe.  Leva tempo e vivência.  Mas destruir uma é simples.  Basta posar de bonzinho e falar horrores de alguém.  A maledicência ganha adeptos rapidamente.  

Há quem acredite ser vítima de "mal olhado", macumbas ou demandas.  Mas na verdade o problema é estar perto de gente que, pra ser feliz, se escora no outro e vive a desgastar ou fazer sofrer aquele que escolheu pra vampirizar. 

Olha, não há o que se fazer nessas horas. Talvez, esperar passar.  Quanto mais mexe, pode ser pior.

É preciso lembrar que somos imperfeitos, todos nós e que estamos na Terra para a chamada evolução.  E essas pessoas complicadas, invejosas ou doentes de alma, também vão melhorar.

O recomendado mesmo é se cuidar sempre.  Crescer em silêncio como as flores, que quando são notadas, já desabrocharam.  Não fazer muito alarde daquele momento de grande alegria. Não propagar projetos que ainda não se concretizaram.  Conquistas como crescimento pessoal, financeiro e mesmo a felicidade, causam revolta nos mal-amados sobre a Terra. Uma pena, mas fato.

Démodé, a vilania devia ter ficado apenas no mundo das telenovelas de antigamente.  Afinal, as modernas estão mais para cenas grotescas. Já na vida real, ver coisas assim faz parte do contexto de um mundo em que os egos são mais valorizados que espíritos e almas. Compreender isso, judia menos da gente.  Relevar e fugir dessa balbúrdia, pode facilitar a paz interior e manter a afeição dos outros intacta.

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Desculpe o auê



"Envelhecer é um processo extraordinário em que você se torna a pessoa que sempre deveria ter sido".

David Bowie


 A vida me tem ensinado a cada dia conforme avanço na idade.

Nem por isso os defeitos desaparecem como num passe de mágica.

Continuo chato, arrogante, egoísta, destemperado, sobretudo se contrariado.  Também sou  falador.  Por falador tome aquele que não deixa as coisas guardadas no seu devido lugar. Afinal, tem assuntos que só nos dizem respeito e a mais ninguém. Se tivesse aprendido isso antes, eu teria sido mais feliz e mais vitorioso.

Nunca subestime quem, mesmo ao seu lado, poderá usar suas fraquezas, queixas ou desabafos contra você e quando menos espera.

Mas claro, tenho sentido que a melhora é contínua e gradativamente vou me tornando, como defendeu o roqueiro inglês, a pessoa que eu sempre deveria ter sido.

Nesse sentido, aplicar em nossa jornada profissional algumas reflexões que se produzem junto aos cabelos brancos pode ajudar bastante.

Trabalhar é uma ação que depende muito de como nos relacionamos com as pessoas. Por isso, desde cedo aprendi que era fundamental me relacionar bem com todo mundo se quisesse brincar, estudar ou conviver bem.

Às vezes confundi esse conceito com agradar a qualquer custo. Me anulei ao extremo em certos casos e embora fosse acolhido no momento, logo os sentimentos reprimidos vinham à tona com toda força.  Na explosão, perdia quem conquistara.

Pior era ser tomado por demagogo ou falso ao tentar ser aceito.  Cheguei mesmo a me confundir por não saber me comportar de maneira equilibrada. Será que eu não era mesmo sincero e só estava “puxando saco”?

Hoje vejo isso na prática de muita gente no ambiente de trabalho.  Gente que tenta agradar, passando por cima dos seus limites, logo em seguida surtando e pondo tudo a perder.  Também me deparo com aqueles que se assemelham a bajuladores, o que é horrível.  No fundo, agora acho que só estão se contorcendo para serem aceitos ou aprovados. Bonito não é.  Com certeza não.

O inverso também é verdadeiro.  O excesso de sinceridade ou de fazer valer a própria vontade, afasta e isola o indivíduo ao ponto de prejudicar seu crescimento e progresso na carreira.  Bons profissionais são tidos por insuportáveis e embora respeitados na frente, são fruto de maledicência ou ataques pelas costas. Portanto, logo rasteirados ou substituídos a bem do coletivo.

A gente devia aprender bem cedo, lá na escola primária, as relações interpessoais.

Pra me proteger, depois que fiquei "maduro", passei a cultivar algumas regras particulares. Só que não posso declará-las infalíveis.

Sei, por exemplo, que cem amigos ainda é pouco, mas um inimigo é muito.  Sei também que os colegas e conhecidos vão se alterando nas nossas relações, mas quando fazemos um inimigo, esse dura por longo, longo tempo.

Quase ninguém se lembra de agrados ou favores, mas jamais esquecerá uma desavença, uma agressão ou uma contrariedade.  Você pode emprestar dezenove coisas a alguém, mas se recusar a vigésima, a amizade será fortemente abalada.

Tentar esquecer desfeitas ou maus tratos que tenhamos recebido é importante, mas não realizarmos algo parecido a outra pessoa é fundamental. Nem que seja involuntário.

Um dia não cumprimentei alguém que passou por mim na rua.  Não o vi ou não o reconheci.  Mas essa pessoa, sem que eu soubesse, ficou com raiva eterna de mim, até mais tarde, em um momento de negociações, me jogar isso na cara.  E eu nem sabia que era odiado.

De igual modo, alguns inimigos velados atuam no sentido de nos provocar inimizades gratuitas, nos denegrindo perante os outros para garantirem seu lugar.  Não dá pra dizê-los maus, pois acredito até que se comportam desse modo por insegurança ou reconhecimento de sua incapacidade em conquistar confiança.

Mesmo assim é preciso ficar alerta com o que a gente mesmo causa aos outros.

Quantas palavras, ações ou omissões foram desferidas por nós a alguém, talvez sem consciência, ao longo dos dias e anos gerando mágoas e raiva que nos são devolvidas depois na forma de maus sentimentos, mentiras sobre nós ou energia ruim?

Se isso tudo é fato no relacionamento entre amigos, familiares, colegas de faculdade, acredite, no ambiente de trabalho se destaca e se multiplica infinitamente.

Patrões e empregados, chefes e subordinados, colegas da mesa ao lado, sempre terão dificuldade em interpretar nossas ações se elas não forem claras, explicadas e amorosas ao extremo.

Diz-se que líderes verdadeiros são austeros, sérios, exigentes.  Mas o que tem se provado nos novos cenários corporativos é que os dissimulados tem mais chances, crescem mais ou são mais apreciados. Uma pena.

Por serem assim são esses que muitas vezes moldam a "matrix" no entorno, fazendo com que as vítimas sejam vistas como algozes. Enquanto isso eles sobem deixando pra trás um pequeno rastro de destruição de reputações.

Criou-se até um termo na década de oitenta.  A "perversidade profissional".  Me lembro que autores davam dicas de como se comportar entre os demais colegas de trabalho para se proteger desses sanguessugas da alma alheia.

Sabe o que aconteceu comigo?  Como já vivenciei também essa experiência e bem de perto, hoje sou um grande defensor do trabalho home.  Isoladamente, sem a fofoca ou sem a interferência desses vampiros, o trabalho rende mais e os esforços redundam em melhores resultados.

Relacionamento não é simples.  Lidamos com o ego das pessoas e com os nossos próprios egos também.  O autoconhecimento é libertador.  Lamentavelmente chega quando já demos muita cabeçada.



quarta-feira, 7 de julho de 2021

Introspecção à sombra das árvores

 

CARLOS ALBERTO GOMES (Gomes de Castro)

Autor de Ainda Resta Uma Luz e Tramas do Destino - Editora Scortecci 


    Dias há em que acordamos tão fora do normal, que sequer poderíamos imaginar como fazer para encarar o que virá durante o resto do dia. Foi nesse estado que me encontrava hoje, pela manhã, ao levantar-me.

Como faço diariamente, pedi à minha esposa que me cozinhasse dois ovos, nos quais coloquei umas pitadas de sal e os comi, avidamente. Após tomar uma xícara de café, fui para o alpendre aonde me acomodei em uma rede, ainda pensativo na esperança de que algo me ocorresse e me aliviasse daquela irritante angústia.

Meus olhos deram com um livro que estava como se fora jogado na poltrona ao lado e, automaticamente, estendi o braço e o peguei. Há já dias que vinha lendo-o, mas não sei por qual motivo, minha leitura não estava sendo lá assim tão progressiva. Talvez eu estivesse preocupado com outros assuntos e tenha me relegado ao ostracismo em relação ao meu “Sapiens”, presente de meu filho Marcelo. Nesse momento eu entendi o porquê de não haver progresso em minha leitura. Tenho ignorado o hábito de ler pela manhã. Quando dei por mim já fechara o Sapiens e o colocara de volta à poltrona.

Não havia dúvidas de que ficando em casa nessa hora do dia eu não teria descanso visto que o telefone não parava de chamar. Levantei-me resolvido a dar uma pequena caminhada para a qual convidei minha esposa que, embora costumasse caminhar todos os dias a essa hora, estava ocupada com serviços domésticos o que fez com que eu saísse sozinho.

Como geralmente, ao sair a esmo, automaticamente fazemos trajetos costumeiros, lá estava eu, novamente, junto ao muro que separa o condomínio da estada que leva ao loteamento São Carlos, divisa entre eles.

Ali, eu costumava sentar-me, juntamente com minha esposa, gozando do sossego daquele local paradisíaco, à sombra de três grandes árvores que foram abatidas de uma forma que até hoje não consegui entender, embora o tentasse todas as vezes que vou até lá.

De repente, passavam pela minha mente, como se fosse um vídeo, as figuras das três árvores, imponentes, as quais me serviam como regalo em minhas meditações. O interessante foi o despertar em mim, de outra realidade, quanto a existência daquele trio de árvores, ali vivendo há décadas e infelizmente ceifadas sem que saibamos a razão. Mais interessante ainda e que somente agora eu tomava consciência, era minha visão de que as raízes de uma das três árvores, era desprovida de qualquer tipo de beleza. Na verdade, eu as achava feias em sua exposta e retorcida aparência, em relação a sua bela folhagem, comparando-as com suas vizinhas, por sinal mais humildes porem, com um verdor invejável. Enfim, me pareciam feias e, pronto. Minha visão virtual de agora, começava a mostrar-me certas peculiaridades que antes não conseguia perceber. Como às vezes nos enganamos ao não prestar atenção nos pormenores que nos são expostos! Na verdade, eu as via de forma totalmente diferente e não podia chegar a outra conclusão que não fosse o fato inequívoco que a beleza daquela árvore, estava justamente ali: Nas suas retorcidas raízes. Além do mais, era o que a diferenciava das outras demais. Sem suas raízes, ela nada representava para que eu fizesse uma apreciação do conjunto que o trio representava. Sim, esse é o grande erro que o ser humano comete quase que diariamente ao fazer julgamentos muitas vezes precipitados.

De volta para minha casa eu ia fazendo minhas conjecturas, tecendo comparações com fatos outrora existentes em minha vida quando empresário e ao contratar funcionários, sabe-se lá em quantos pré-julgamentos deixei-me levar pelas aparências e cometendo então injustiças que tiravam a oportunidade de candidatos, muitas vezes necessitados do emprego, naquela oportunidade e com minha atitude coibindo-lhes de demonstrar suas reais capacidades.

Pensando bem, agora me chama a atenção a maneira pela qual os amantes do cultivo do Bonsai dedicam às suas raízes, os tornando muito mais interessantes devido a esse esmero em relação às posições das raízes o que acaba por embeleza-los, tornando-os mais atrativos.

Todavia, o que mais me preocupa e que me leva a apreciar este assunto é o que se refere a animais, principalmente os humanos. Precisamos cuidar da “nossa parte” agindo sempre de maneira correta e torcer para que nossos exemplos exerçam influências em outras pessoas, numa contribuição indireta para que melhorem nossas atitudes em relação aos julgamentos que realizamos em nosso cotidiano.

 

segunda-feira, 5 de julho de 2021

O GRANDE PRESENTE

 

Quase sempre insatisfeitos com os rumos das nossas vidas e com a maneira de encarar o dia a dia e suas inúmeras adversidades, planejamos com regularidade o momento da grande virada.

Sim, alguns só ficam nos planos.  Mas é bom ficarmos alertas, pois a vida de quando em quando nos apresenta sinais e oportunidades para as grandes tacadas do destino.

Geralmente é assim a cada ano novo, a cada aniversário, mas principalmente no início de cada nova década de nossas próprias idades.

Por conta da maioridade, muitos jovens não veem a hora de completar os 18 anos para darem rumo ao seu futuro e iniciarem uma série de projetos.  Depois, caminham para os 21 quando chega a maioridade absoluta. Depois a cada dez anos, passam a preparar seus grandes saltos pessoais.

Comigo não foi diferente.

Aos 18 anos tirei minha habilitação para dirigir e servi o exército. Aos 21 parei de me aventurar e passei a namorar sério. Também tirei a credencial para exercer minha profissão. Aos 30 marquei a data do casamento que ocorreu no ano seguinte.  Aos 40, embora atrapalhado no início por um Acidente Vascular Cerebral, no final do mesmo ano, assumi uma nova função e emprego que mudou os rumos de minha vida e me proporcionou começar uma jornada incrível tanto profissional como pessoal.

Daí então, esperei com grande expectativa a chegada dos 50 anos como a acreditar que as coisas alcançariam ali, o seu ponto alto. Acreditei mesmo naquele discurso da “melhor idade”. A fase da sabedoria.

Almejava por liberdade, por descobertas, aprendizado e por usufruir mais da vida. Não bagunçar, mas viver, entende? Fazer o que não tinha feito, experimentar sensações e emoções inéditas. E como poderia?  Casado e sempre muito preocupado com a família, dono de empresa com sócio, funcionários e parceiros de negócios aos borbotões.  Envolvido numa série de compromissos o tempo todo e me engajando cada vez mais até o pescoço em situações e compromissos financeiros. Parecia mesmo impossível mudar as coisas. Me desvencilhar de tudo.

Sempre fonte de desejo e tema de muita oração, a tal vida nova que buscava acabou por “bater na minha porta” sem mandar aviso prévio.

Por um entendimento bastante amigável, eu e minha esposa decidimos nos divorciar após 30 anos juntos.  Os filhos já crescidos, suportariam o baque e mais que isso, conviveriam com ambos de maneira extremamente tranquila. Sim, rompimentos são dolorosos e clamam por adaptação. Contudo, são tão necessários para amadurecer e fazer crescer, quanto são o início das relações.

Depois, resultados de uma série de fatores externos e apartados de nossa vontade, vários sintomas se apresentaram demonstrando que o fim dos negócios estava próximo.

Em pouco tempo diminuímos consideravelmente o tamanho das empresas.  Repito, nada planejado. Aos poucos fomos levados a isso, até contarmos, de repente, com o inesperado empurrão devastador da COVID19. Desfizemos o grande complexo. Entregamos salas e móveis, finalizamos contratos e terminamos a sociedade. Destaco, sempre com muito respeito e dentro de um clima super fraterno.  Sem jamais desejar prejudicar quem quer que seja. Fornecedores, colaboradores ou parceiros.

É como dizem: “Cuidado com o que pede a Deus.  Ele tem seu próprio modo de atender aos pedidos da gente”. Sem provocar, eu não tinha mais amarras e poderia enfim testar o que acreditava ser a tal “melhor idade”.

Obrigado a ficar em casa por conta da pandemia, passei a praticar exercícios físicos, meditação, orações e leituras diárias, acordando sempre na madrugada para aproveitar melhor o dia. Nesse tempo, com muita coisa para honrar e arcar, nunca deixei de prospectar, trabalhar e tentar criar coisas novas. Essa ambição eu tenho, qual seja a de juntar os cacos, para entregar tudo plano e pleno como recebi.

Ao mesmo tampo, entrei num novo relacionamento bastante diferente do anterior, o que é necessário até para não haver comparações. Me tornei um grande amigo dos filhos e um filho melhor. Um estudante inveterado dos assuntos pelos quais sou apaixonado (física, política, espiritualidade e ufologia). 

Passei a cuidar melhor de todo mundo, mas também aprendi a aguardar as dores para quando chegarem, sem premeditar. Sem aquela preocupação insensata do que pode nunca acontecer.

E assim, embora provando uma vida de mais privações, sem luxo e sem o estereótipo de grande empresário, adotei uma lista de comportamentos que faço questão de partilhar, até como dica aos muitos amigos de mesma idade. Espero que esses comentários acabem por ajudar quem tem em mente que os 50 anos é um tipo de velhice. 

As novas atitudes que adotei, são o que garantem o meu melhor estágio de existência até aqui e em todos os sentidos. Físico, emocional, profissional e sentimental.

Estou com 53 anos e o que aprendi nesses últimos 3, fará a diferença total no que serei daqui pra adiante.

Esquecer o passado como culpa e vive-lo apenas como história é o ponto de partida.

 

PASSADO

Tenho certeza de que todos nós nos arrependemos de muitas coisas que falamos, fizemos, ou deixamos de fazer. Aliás a maioria de remorsos é composta por aquilo que não levamos adiante.  Estudei piano, mas não terminei.  Ainda na música, estudei violão e flauta, sem concluir.  No campo da educação, me formei tarde, mas não foi bem uma escolha o curso que fiz.  Deixei direito pela metade, me formando em Administração Pública, que salvo eleição ou nomeação para cargo público, será difícil aplicar. Sem falar nos cursos de línguas (espanhol, italiano, francês e principalmente inglês, que comecei umas três vezes) jamais chegando ao termo.

O que adianta ficar nesse martírio de autocobrança? Agora ficou claro, até porque não é mais oportuno deixarmos as coisas sem acabar.  Ninguém sabe, ao certo, quanto tempo ainda terá pela frente.

O mais dramático é querer tirar o atraso e fazer um monte de coisas tudo de uma só vez. Isso na verdade é impossível e só provoca ansiedade.

Zelar para que a ansiedade não me dominasse virou então a segunda grande lição que precisei aprender.

 

ANSIEDADE

Sempre preocupado com a segurança e saúde dos filhos, dos pais, da companheira ou de quem quer que estivesse ao meu lado, muitas vezes me limitei quando o assunto era viajar, me ausentar, acreditando mesmo que minha simples presença pudesse proteger ou evitar isso ou aquilo.

Ledo engano.  Não somos onipotentes.  Menos ainda, onipresentes.  Bastam segundos fora de casa e aquilo que temíamos por acontecer enquanto estávamos na Austrália, poderia ter acontecido nesse curto instante.

Ao deixar para me ocupar do problema só quando ele de fato acontecer, evitei muito sofrimento que antes era comum para mim. Tinha uma azia diária por conta disso.

Não perco mais noites de sono pensando no que possa acontecer, pois ao acontecer, se acontecer, então lidarei com aquilo querendo ou não.

Isso não tem nada a ver com ser displicente, louco ou desvairado.  Só que ajuda a economizar energia para os momentos em que ela será rigorosamente requerida.

Uma outra lição que aprendi foi perdoar e entender que isso é diferente de esquecer.


PERDÃO

Você não esquece se foi passado pra traz, traído, roubado ou se foi vítima de ingratidão, ou qualquer coisa que o valha.  Mas pode perdoar assim mesmo.

Ao perdoar deixamos de desejar coisas ruins para quem nos magoou ou prejudicou.  Claro, não só isso.  Passamos verdadeiramente a desejar o bem e sobretudo a evitar pensar muito naquela pessoa ou grupo de pessoas.

A mágoa, o rancor, o sentimento de revanche são na verdade falhas de caráter muito grandes de quem não sabe perder.

As batalhas da vida são duras.  Ninguém está aqui para facilitar as nossas lutas.  Cada um está vivendo a sua com as armas, ferramentas ou aprendizado que recebeu. 

Muitas vezes ainda, o “tiro” que recebemos de alguém, nada mais é do que o reflexo de nossa maneira de agir.  Mesmo quando não sabemos direito, estamos agredindo direta ou indiretamente alguém.

Há pessoas a quem não agradecemos o devido pelo que nos fizeram de bom.  Outras há que interpretam nossas vitórias e conquistas, como provocação pessoal e ficam com raiva verdadeira por conta da inveja que nutrem sozinhas. Em ambos os casos, não há o que fazermos.

Se encaramos nisso pura maldade, opção desse indivíduo, estaremos então supondo que ele ou ela escolheu ser assim.  Mas não é verdade.  Esse defeito no espírito humano, vem de fábrica, faz parte do recheio de uma mochila que vamos preenchendo ao longo de nossa jornada. Ou seja, também somos assim.

Ao perdoarmos essa pessoa, não precisamos nos esquecer do que nos fez ou deixou de fazer.  Mas podemos desejar-lhe o melhor e em seguida, simplesmente, tocarmos nossas vidas sem obrigatoriamente termos que conviver com ela e sequer saber sobre ela.

Ficar olhando suas redes sociais ou ouvindo histórias e fatos sobre como ela está vivendo, mesmo que informações trazidas por outros sem que peçamos, não nos fará bem, pois não estaremos efetivamente perdoando. Perdoar, repito, não quer dizer esquecer, mas tocar adiante, deixando tudo pra trás.  A ofensa e o ofensor.

O perdão, independente do grau da ofensa sofrida, traz consigo uma paz inesperada, desmedida, confortante e sobretudo revigora nossa alma. É como se desobstruíssemos um canal de acesso a Deus. Tudo passa a fluir diferente.  Recomendo.

Se todo mundo merece perdão, nós também merecemos.  E devemos nos perdoar dos pequenos malfeitos diários, intransigências, vaidades, pensamentos vis e inclusive mentiras que são fonte de nossas autocobranças.

Falando em mentiras, já notou que muitos de nós as contam, mesmo que pequenas, todos os dias?

 

FIRMEZA

Não que queiramos, mas às vezes para não ofender, não magoar e não ficarmos “mal na fita”, contamos coisas inverídicas, ainda que sem maldade.

“Olha, me atrasei porque teve um acidente na rodovia”.  “Eu ia te ligar, mas infelizmente fiquei sem sinal no celular”.  “Não fui ao nosso compromisso, pois chegou visita em casa”.

Singelas e inofensivas ainda são mentiras que preenchem nossos vocabulários desnecessariamente.  A verdade é libertadora, por mais que alguém possa não gostar dela. Já a mentira, pedirá sempre uma outra a lhe reforçar as bases.

Dizer sim, quando quer dizer sim e não quando quer dizer não, não mata ninguém.  Acredite.  Custei uma vida para entender isso, mas quando comecei, não parei mais.

“Olha, se não se incomoda, hoje eu não gostaria de receber visitas”. “Sabe, não vou à sua festa, pois estou a fim de descansar”.  “Me atrasei, pois me empolguei no banho ouvindo música e depois vendo vídeos enquanto me trocava”.

Amigos de verdade, pessoas queridas, vão aprendendo a nos conhecer melhor se lhes formos sinceros sempre.

Quando veem em nós um poço inesgotável de desculpas amarelas, ou mentiras sem maldade, passam a não crer em mais nada do que falamos, prometemos ou com o que nos comprometemos.

Me libertei de verdade ao falar o que penso.  Ainda falta muito para eu atingir o ápice da franqueza.  Não consigo simplesmente dizer a alguém que não gostei do que está vestindo, ou do prato que cozinhou para mim.  Mas não preciso também falar tudo o que penso.  Ainda posso me calar, quando quero.  Também não preciso só ser simpático desde que eu saiba defender minhas posições. Seja no campo da política, ou para escolher um cardápio, por exemplo. 

Quando quero uma pizza de aliche, posso pedir para dividirmos meia a meia ao invés de simplesmente mandar um “tanto faz” que depois me fará ir embora insatisfeito e descarregando minha vontade recolhida na pessoa que escolheu a de mozzarella.

Sim, pois é isso que acontece.  Ao aceitar que outra pessoa escolha sozinha um pedido, já deixamos o jantar pensando: “Sempre é a vontade dela que prevalece”.  E isso, usualmente por culpa nossa. Sentimento que fica martelando e provocando pensamentos ruins que inauguram outro grave defeito.

 

FOFOCAS E MALEDICÊNCIA

Sentir a vontade de falar algumas verdades a quem se impõem para nós e não fazer isso, pode parecer cortesia no momento, mas se transformará rapidamente em maledicência no segundo seguinte.

Quantas vezes eu não tive vontade de esfregar algo no nariz de um interlocutor, mas aceitei silente sua posição para em seguida desabafar com o primeiro que encontrasse e destruir aquela pessoa.

Melhor seria ter falado, pois ficou ainda mais desagradável pra mim. Feio, pois além de tudo, falar dos ausentes é atitude de gente covarde.

Num mesmo diapasão se encontra a fofoca.  Seja falando bem ou mal de um amigo, a atitude é reprovável em todos os sentidos.

Claro que se alguém nos conta algo, pedindo ou não segredo, deverá saber que aquele tema, assunto ou situação está entregue à sorte. Ninguém tem obrigação de guardar o segredo de outro. Só que não precisamos sair por aí falando a todo mundo.

Nem sempre é por mal.  Às vezes a fofoca é irmã da ansiedade, pois contamos coisas sobre nós mesmos porque nos empolgamos ou queremos dividir a emoção.  Uma entrevista de emprego, um pedido de casamento, uma gravidez, ou seja, coisas que tem endereço e hora certa, mas que não conseguimos segurar.

Para mim, segurar a língua é um desafio tamanho família que sigo firme no propósito de vencer.  Uma inominável fraqueza que nasceu comigo.  Quando conseguir de vez, penso que terei cumprido o meu carma e estarei liberado para voar para a próxima etapa.

Sei que a discrição sempre será atitude de gente madura, séria e inteligente.  Mas somos muito compelidos a contar e mostrar as coisas que fazemos ou conquistamos até pela concorrência extrema a que estamos submetidos.

O encantado mundo do Facebook, do Instagram e de outras redes sociais, está sempre a mostrar festas, casais felizes, famílias plenas, viagens lindas e outras vitórias.  Por que não podemos compartilhar as nossas pequenas ou grandes também?

Pois é.  Se não mostramos “ao mundo” que também sabemos ser felizes, temos a impressão que somos fracassados, imperfeitos. Em consequência, acabamos virando escravos da exibição permanente de nosso mundo.

Essa concorrência constante na qual somos levados a mergulhar, não nasceu agora.  Existe desde que nossa família nos comparava aos amiguinhos que tiravam boas notas, ou conseguiam bons empregos. Mas ficou ainda mais forte com a tecnologia.  Obra do “coisa ruim”, com certeza.  Não precisamos ganhar de ninguém.  Devemos, de verdade, superarmos a nós mesmos, a todo instante. Nos tornando sempre alguém melhor.  Essa é a conquista das conquistas. E pouco importa se nossas marcas e resultados não agradem a outrem.  Elas são só isso, nossas marcas. Pra que comparar?

Sobre esse tipo de coisa, ninguém ilustra melhor que meu poeta preferido, o português Fernando Pessoa. Seu Poema em Linha Reta é fantástico e nos diz muito além de parecer extremamente atual.



“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil...”



Só essa estrofe toca fundo, né? Conheça o restante.  É incrível!

Hoje ao me posicionar nas redes sociais, tenho me limitado a discussões profissionais, políticas ou espiritualistas. Quando muito, cumprimento um familiar aniversariante ou algo assim.

Só que ainda é exagerado. 

Meu avô me disse quando eu ainda era criança, uma frase de extrema sabedoria: “Não precisa dizer a todo mundo o que vai fazer, no que está pensando.  Por mais amigo, por mais carinho que alguém lhe tenha, surpreenda.  Além de mais bonito é mais seguro”.

Juro que estou pelejando.  Quando descubro uma coisa legal, quando recebo uma boa proposta, ou mesmo quando algo ruim acontece, penso mil vezes antes de contar a alguém ou postar. Tem momentos que fraquejo. Acho mesmo que um dia chego lá. 

As vivências dessa minha etapa de vida, não param.  Aprendi a não ficar limitado, encostado ou esperando acontecer.  Todos os dias, sem falta, faço algo diferente que não faria em outras épocas.  Novas experiências me dão novas sensações e com isso vivo plenamente medos, alegrias, problemas e lições boas ou ruins que depois me deixam com um ótimo resultado.

Também entendi que as ofensas e agressões, não podem mais me atingir.  Mesmo as que aparecem disfarçadas de conselhos ou críticas construtivas. Já notou que os outros sempre sabem mais o que é melhor pra nós enquanto suas vidas parecem mais perdidas que as nossas?

Geralmente falas desse tipo vinham ou ainda veem de pessoas queridas, mas são pesadas e me colocando pra baixo.  Mas espera! Quem é quem nisso tudo? 

Quando acontece agora, isso só me mostra o tanto que as pessoas se ocupam da gente.  Ora, falar de meus defeitos, falhas ou argumentar sobre algo que eu não tenha feito, só me dá força, pois aproveito o que acho que serve e desprezo por completo, o que não me convém.  Já sei fazer isso sem agredir ou querer mal a esse “analista” voluntário que mal cuida da própria existência. 

Assim, posso receber xingamentos, julgamentos, acusações infundadas e encaro tudo como aquele famoso copo de veneno, que não bebendo, não me pode causar mal.

Vou bem aos poucos, atingindo a tão sonhada serenidade da meia idade. 

Não posso estar em toda parte.  Não posso viver o papel de outra pessoa.  Só posso ser eu, pensar por mim, falar e fazer o que me convém sem exigir dos outros o que eu “acho” ser melhor, mais conveniente.  Cada um tem que viver sua vida, sofrer suas dores, pisar o próprio chão. Enfrentar as consequências, e chorar suas lágrimas se for o caso. Viver o agora de todo dia com intensidade absoluta. Esse é o grande elixir da eternidade perseguido por Flamel. 

Ah, e não fico esperando dos outros retribuição, cordialidade, gratidão pelo que faço de bom ou pelo que deixei de fazer de ruim.  Entendo afinal que só pode dar algo, quem o tem no coração.  E isso me bloqueia contra mais infelicidade e frustrações.

Claro... Há muito o que superar.  Ainda sou ranzinza, ainda temo isso ou aquilo às vezes e mesmo permaneço exigente com certas coisas. Por exemplo: Falta de respeito ou de consideração, ainda não aprendi a superar em contradição a tudo que elenquei.  Mas dentro dessa década, acredito que supero.

Imagino a montanha de provações que a vida ainda me reserva, mas fico aqui, de braços abertos, ciente de que não tenho privilégios e estou sujeito a tudo aquilo que qualquer outra pessoa do mundo também está sujeita, de bom ou ruim.

Confio em Deus, não na sorte.  Acredito em mim e por isso não delego a ninguém a minha felicidade e paz de espírito. Sei o que fiz de certo ou errado e sei do que sou capaz.  Chega de culpa.

Errei?  Muito.  Continuarei errando?  Com certeza.  Só covardes ou aqueles que não caminham por medo de errar, estão livres de tropeçar.

Nada, no entanto, foi ou é premeditado.  Claramente eu ou qualquer outra pessoa desejamos apenas o melhor pra todo mundo.


Proletarier aller Länder, vereinigt Euch!

FOTO - BRASIL DE FATO Nilson Dalleldone nilsondalledone@gmail.com   Edição do riso A OTAN caiu numa armadilha... Divirta-se! A Rússia ridicu...