Ninguém gosta de ser chamado de iletrado. Mas o fato é que as pessoas não gostam de
ler.
Poderíamos dizer o contrário, pois hoje,
mensagens nas redes sociais são lidas o tempo todo.
Contudo, são lidos textos curtos, pequenos toques ou
então vistos imagens, vídeos e ouvidos áudios.
Os chamados “textões” são logo ignorados.
Assim também se dá com artigos e matérias
jornalísticas.
Não é à toa que as “fake News” se
espalham. As pessoas leem um tópico ou
manchete e já compartilham. Muitas vezes
porque a “chamada” diz aquilo que acreditam, ou algo com que concordam.
Não há aprofundamento. Uma leitura ampla. Uma pesquisa da origem ou veracidade do que
está exposto. E ao divulgar, causam danos irreparáveis ao mundo.
Foi assim com o combate agressivo contra as
vacinas que trouxe de volta ao Brasil a infestação de sarampo, por exemplo.
Vejo isso o tempo todo nos grupos de WhatsApp
dos quais faço parte.
Coisas que já foram desmentidas com provas,
continuam a prosperar e a serem pregadas com certeza total por seus
divulgadores.
E ainda enviam com a defesa do indefensável.
As mais graves são ressonância das asneiras de
um presidente ou de seus ministros tresloucados, divulgadas como verdades
absolutas.
O mais atual exemplo é o caso da cloroquina, obsessão
do cara.
Com efeitos colaterais que vão de distúrbios da
visão, problemas gástricos, alterações cardiovasculares que levam a óbito, até problemas
neurológicos sem retorno, o remédio é empurrado pelo chefe do executivo que por
conta da resistência de dois médicos que ocuparam o ministério da saúde,
preferiu trocar os ministros.
Ninguém se perguntou por que Bolsonaro quer
tanto o uso desse remédio que o resto do mundo já interrompeu, sobretudo por
não dar certo?
"Ah, se o mito falou..." - pensam.
Mas não para por aqui.
Ao desmotivar a quarentena e valorizar as
campanhas de retorno ao trabalho e à reabertura do comércio, parte da população com apoio de algumas autoridades
estão demonstrando total irresponsabilidade.
Com números reduzidos pela subnotificação (só
faz parte dela os testados e o Brasil é um dos países que menos faz testes), já
atingimos mais de 15 mil mortos.
No mundo, o número supera os 313 mil falecidos de
um universo de 4 milhões e 600 mil infectados até o momento.
Os Estados Unidos, com todo seu arsenal médico,
perderam mais de 89 mil vidas até agora.
Todos sabemos das implicações sociais de ficarmos
fechados em casa e do comércio parado.
Conhecemos as crises, principalmente nós brasileiros que já vivemos
inflação de 80% ao mês nos anos Sarney.
Mas pior que a crise econômica é enterrar entes
queridos. Ver amigos e familiares deixando a vida antes da hora por simples
descrédito ao perigo iminente.
Só passa a dar valor ao isolamento, aquele que
perdeu alguém.
Diariamente temos visto gente arrependida na TV
deixando seu recado para que fiquemos em casa e nos cuidemos. Diariamente.
Dizem que a mídia quer derrubar o governo.
Engraçado que a mídia que falava "a verdade" contra os governos anteriores é a mesma que "mente" com relação ao atual, né?
Bom, mas enquanto isso, em Brasília e outras metrópoles,
cidadãos que estão fartos de ficar em casa e “com medo” de perderem seu
negócio, fazem balbúrdias e atacam aqueles políticos que, pela primeira vez, estão
defendendo pessoas ao invés de pensarem só no capital.
É preciso lembrar que em guerras ou outras
situações semelhantes, os governos se uniram para dar cabo da situação e evitar a
quebradeira geral ou a fome. Historicamente há muitos casos.
Isso sim devia estar sendo cobrado por todos.
Os governos de nosso país, acostumados a ajudar
banqueiros e a fazer média com as elites, possuem mecanismos e dinheiro para
socorrer a sociedade.
Sobretudo minimizando os desvios da corrupção,
poderiam ajudar muita gente.
Já o que vemos agora mesmo é a compra de deputados do centrão para se
evitar o impeachment.
E nossos familiares e amigos debatem isso nos
grupos?
Não.
Criticam quem leva esse tema. Não
leem os “textões” e nos empurram mais fake News.
Nos chamam de petralhas, nos mandam pra Cuba e dizem que temos ladrão de estimação. Um repeteco de 2014.
Cansa, né? Ah, cansa.
Por conta disso, peço minhas mais sinceras
desculpas a todos os amigos, colegas, companheiros, familiares presentes nos
diversos grupos, mas estou me retirando da maioria deles
A coisa ficou séria demais para “tocar tambor
para maluco dançar”.
Preciso me manter lúcido, desperto, com a mente
ativa e toda energia voltada para combater meus próprios problemas que não são
poucos.
Sim a crise econômica e o vírus estão direta ou
indiretamente mexendo com todos nós e prejudicando nossos negócios, empregos,
estudos e convivência.
Melhor eu seguir meu caminho sem brigar de novo,
sem agredir ou ser agredido por gente querida.
Fica aqui apenas a despedida educada com minha
justificativa dos motivos pelos quais estou deixando os grupos de debates nos quais
não se prioriza a verdade e sobretudo o respeito pela vida.
Grupos profissionais, de parentes, de futebol, os mais diversos, onde se fala de tudo e por isso mesmo alguém sempre aparece com uma fala de especialista em política, economia ou pandemia para deixar seu extremo saber sem qualquer traço de humildade para ouvir o contrário.
Sempre defendi a liberdade, mas não posso, até
por isso, aceitar o fascismo, mesmo entre os de minha relação próxima.
Sempre defendi a igualdade, mas não posso, até
por isso, aceitar a defesa do ter em detrimento do ser, do dinheiro em
detrimento ao humano.
Já que sou o discordante, melhor deixar o grupo para o deleite de quem melhor fará uso dele.
Enquanto isso, fiquem todos bem. Se cuidem e aproveitem o fato de estar em casa para lerem as coisas antes de clicar no “compartilhar”.
Por você, seus queridos, seu país, pelo mundo enfim.
Abraço fraterno.