As noites de
natal na minha família seguem uma tradição muito especial.
Não consigo me lembrar ao certo, quando tudo isso começou. Mas desde que me conheço por gente, os dias
24 de dezembro de meu passado traziam consigo uma atmosfera especial já ao amanhecer.
Música bonita começava a tocar logo cedo. Um perfume de assados se espalhava pelo
ar. Doces eram feitos com cuidado por
minha avó enquanto as tias e minha mãe decoravam a casa com os temas natalinos.
À noite, chegavam os parentes e amigos.
Entre os comes e bebes, alegria e harmonia, uma pausa para reflexão dos
presentes. Em roda, minha avó materna,
Lydia, sem ter frequentado escola, nos tecia algumas palavras de profunda
sabedoria que só eram traduzidas por seu filho mais velho, Elpídio.
Depois de algum tempo, esta missão passou para mim. Após ler sua mensagem, eu soltava algum
comentário sem maiores pretensões.
Afeito a cerimônias, quase sempre tentei enfeitar um pouco mais, o que
nem sempre condizia com o tema por ela abordado.
Após sua morte, tentei resgatar alguns dos melhores textos que
guardara, até entender que era necessário seguir adiante. Por certo, ela preferiria assim.
Assim, pouco antes da noite em família, rogo por inspiração e se surge
o convite, realizo a tradução do “sopro” recebido.
Longe de mim ser perfeito, puro ou digno de ensinar quem quer que
seja. Quase sempre, as palavras ditas
servem mais como autocrítica, do que realmente como mensagem de final de ano.
Este ano as palavras me vieram mais cedo. Talvez porque grande parte dos presentes
estarão em outras casas. Estou menos
apreensivo. Mas se for convidado a
falar, para manter esta tradição, falarei sobre a família.
Lembrarei a todos que não temos a família que escolhemos, mas a família
que precisamos para nosso progresso evolutivo.
Pais, irmãos, filhos, cunhados, genros e noras, tios e sobrinhos, somos
todos integrantes de uma grande família espiritual na qual os atritos servem
para desbastar nossa pedra bruta, transformando-a em brilhante polido.
Cada um com sua diferença, seu gênio, sua genética e seu caráter,
garantindo a individualidade que faz de cada um especial em si mesmo.
E pedirei orações. Não por quem
está chorando, mas por quem está causando as lágrimas. Não por quem está solitário e abandonado, mas
por quem fora o causador do abandono.
Não por quem esta doente ou triste, mas por quem promoveu a tristeza ou
a dor.
Nisso consistirá minha mensagem de hoje a quem estiver por perto. O mesmo que desejo a ti e aos seus.