sábado, 6 de abril de 2019

"Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa..."

"Tudo isso acontecendo e eu aqui na praça, dando milho aos pombos."
A letra da música de Zé Geraldo é do início dos anos 80.  Mas muito atual.
Ela lembra do pouco que fazemos a despeito de tudo o que vemos no dia a dia, enquanto indignados, apenas observamos.

Amanhã, 7 de abril, completa 1 ano desde a prisão do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Com as finanças em pandarecos, o instituto Lula teve que leiloar algumas coisas para arrecadar dinheiro e ajudar no pagamento da equipe de defesa de Lula.

Sim é verdade que o patrimônio da entidade está bloqueado, mas o próprio ex-presidente não tem recursos no Brasil ou no exterior para pagar devidamente sua defesa sem ajuda.
Diferentemente de outros acusados de corrupção no país, não há o que congelar ou tomar de Lula, seja no exterior e mesmo aqui no Brasil.  Não se pode tomar o triplex, pois não é dele e nem o sítio, que também não é.

Por isso é de se perguntar quais são as bases e provas de sua condenação. Até hoje esperamos a comprovação dessas acusações e praticamente TODO MUNDO sabe que sua prisão foi diferente.  Julgamento rápido, delações inconsistentes, acusação fraquíssima e muito holofote da mídia para evitar que descuidassem dos detalhes no papel de o condenar. 

Enquanto isso, dezenas de outros protagonistas da Lava Jato ou das sujeiras políticas que decoram o poder público dessa nação há centenas de anos, passam ilesos.  No mais recente cenário, sobretudo os tucanos, continuam livres, leves e soltos.  Alguns com verdadeiras fortunas liberadas para uso diário. 
Dentre esses tem uns, por sinal, bem quietinhos e miudinhos no seu canto, feito meninos "cagados"  depois que pingaram sobre eles algumas gotinhas de denúncias, delações, prisões de amiguinhos (comparsas) e outras farpas que sugiram isso ou aquilo. 
Com dinheiro livre, esses "sortudos" do crime podem pagar bons advogados e até viagens ao exterior para cônjuges e filhos, quando simplesmente não vão junto.

Dos poucos que estão presos, há alguns sobre os quais nem notícias temos mais. Será que...
Por exemplo, eu gostaria muito de saber a quantas anda e como está a vidinha do famigerado Eduardo Cunha, pivô do impeachment no Congresso e em cima de quem pesam fortíssimas acusações inclusive fortalecidas com dinheiro encontrados em contas na Suíça e tudo mais que COMPROVA sua situação. Julgamentos demorados os de gente como ele, né?

Como estão também outras figuras, como aqueles que carregaram malas de dinheiro pelas ruas, esconderam verdadeiras fortunas em apartamentos desocupados, ou tiveram vídeos e áudios gravados ameaçando a vida de primo, confessando propinas etc. e tal?
Como estão aqueles que, criminosos, mentiram durante as delações para diminuir suas penas ou liberar seu dinheiro bloqueado? E por fim, como estão aqueles outros que foram mencionados em suposto crime de venda de sentenças, fraudes em processos e outras coisas, sem que nem investigação fosse aberta e a imprensa jamais quisesse ouvir os denunciantes ou mencionasse o caso com o devido destaque?

Realmente fica a alguns de nós a impressão que quando a opinião pública cobrava a prisão para TODOS os criminosos, independente do partido ou do cargo exercido, o fazia com certa seletividade e exceções.  Ainda, que esse TODOS que eles queriam ver pagando pelos crimes, não eram tão TODOS assim.

Não menor no entanto, foi a justiça seletiva empregada pelos agentes do judiciário em suas várias esferas. Inclusive quando tiveram que mudar sua posição quanto à prisão em segunda instância só para garantir que Lula ficasse "detido".
Isso ficou bem claro pra mim à medida que bastou Lula ser preso pra ninguém mais pedir prisão para mais ninguém.

Meus vizinhos soltaram fogos no dia 7 de abril de 2018.  Que alegria radiante eu vi na minha cidade.  Diziam por aí que "então era só prender o resto"... mas nunca mais se pronunciaram. Nunca.  Nem diante de evidências pesadas sobre esse ou aquele. Nem agora, recente, como no caso Marielle. Ninguém de fato insistiu e presos os possíveis assassinos da moça e seu motorista, pra essa gente tá tudo resolvido e pronto.

Contrários ao PT e a Lula, aos amigos e familiares de petistas, festejaram nas ruas a prisão de Lula como se seu time de futebol tivesse vencido o campeonato interestelar, mas jamais voltaram a bater uma panela, vestir a desbotada camisa da CBF ou a "bradar" pela justiça contra outros personagens da política brasileira.
Era só pra tirar o PT.  Era só pra evitar que Lula voltasse. E muitos nem sabem por que queriam isso.  Talvez, só pra se sentirem parte da elite.

No processo eleitoral do final do ano, vi alguns morrendo de medo de Haddad e até de Ciro, como se por acaso a eleição deles fosse o estopim da "revolução bolchevique" no Brasil.
Umas conversas tontas sobre Cuba e Venezuela, como a inventar justificativas para votar num insonso projeto de governo sem plataforma, sem nada.  Deviam assumir, tipo dizer: voto por que quero! Mas não, com uma desculpa mais deslavada que a outra, puseram o cara na presidência e há quase 100 dias estamos vivendo o caos da política externa, do entreguismo e da inoperância de setores fundamentais como a saúde e educação.
Na época, só não vi a decadente Duarte afirmando que "tinha medo", como fez na eleição de Lula. De resto, voltávamos para o período pré luliano da política.
O discurso pobre de ideias e rico em impropérios deixava claro quem iria faturar o controle geral do país e sob a proteção e olhares de quem.

Pois é.  Passou-se um ano de  Lula encarcerado.
Como tantos outros que já estiveram presos ao longo da história do mundo dentre eles Mandela, Mojica, Luther King, Gandhi, lá está mais um líder do povo.
Presidente que foi eleito e reeleito e que deixou seu mandato explodindo de aprovação e reelegendo sucessora.  Presidente em cujo governo todos os índices positivos como crescimento, PIB, reservas, empregabilidade, alfabetização etc. subiram desmedidamente, enquanto índices negativas despencaram como dívida externa, famílias na linha da miséria, desemprego, mortalidade infantil etc.
A sensacional presença do Brasil no Mercado exterior e sua relação com TODAS as nações, era então o ponto alto de um governo progressista e avançado.
O atestam os índices oficiais e diversos opositores como se pode comprovar por todo o lado.

Preso Lula, nem sinal de justiça pra ele, que pelo menos deveria ter merecido um julgamento justo. E ainda que ele receba permanente apoio de toda a parte e esteja sob os olhares de grandes líderes e pessoas ligadas à arte e justiça mundo afora, a justiça brasileira e mesmo nós, nada fazemos para corrigir essa imensa contradição histórica.

Os incautos falam que alguns de nós mantemos "bandido de estimação".  Mas são eles que não se apressam em pedir os rigores da perseguição aos tão propalados bandidos que desfilam pelos noticiários. 
Algumas pessoas, quando debato, vão além e costumam querer me lembrar que já prenderam Temer, prenderam Richa, prenderam Paulo Preto, prenderam o... o... o...
É... tem uns que não tem jeito, né?  Se não prender, nem que for por um dia, pega muito mal mesmo.
Sem falar que boa parte dos presos já foi solta, como o foram os aliados de Temer que o acompanharam em prisão recente.
Pára.  Pra cima de mim, não. Chega!

Lula é preso político.  E assim permanecerá.

Somos uma nação cordata e formada por pessoas mansas.  
Também temos entre nós gente insensata que não se posiciona nem diante de fatos concretos como, repito, o assassinato de uma vereadora na rua.  Que diante de ameaças que fizeram fugir do país os que batem de frente com possíveis criminosos, ficam ainda contra os ameaçados.  
O resto de nós, mesmo os "nem tanto iludidos", seguimos tocando nossas vidas. Mesmo com direitos devassados, aposentadoria ameaçada, o país rifado e doado aos abutres do grande capital.
A não ser quando, muito valentes, resumimos, como eu mesmo faço, a militância e luta às redes sociais. 
Bela bosta.

Que triste.  Que pobre do ponto de vista do patriotismo real.

Mas também, como fazer diferente?  
As coisas são tão esfregadas na nossa cara que o efeito é atordoante. 
Imagine, por exemplo, que o julgador de Lula vira ministro logo a seguir do cumprimento da pena do seu executado ter garantido que, aquele que o nomeou para o cargo, fosse eleito. Pois sabemos, Lula venceria no primeiro turno.
Mas tá, vamos dar uma chance ao lado de lá.  Imagine um candidato à presidência ser esfaqueado às vésperas da eleição e ninguém apurar quem mandou, quem pagou, quem protegeu, quem abraçou, quem carregou, quem limpou o sangue da faca, quem fez isso ou aquilo. Pois talvez seja melhor mesmo não saber já que TUDO parece estar resolvido para quem interessa de fato.
E diante de tudo isso, somos minados diariamente por notícias que só fazem obstruir nossa razão.

Ficamos todos paralisados, olhando pro céu, sem saber o que está acontecendo.   
Sem notícias, no escuro, nas trevas, no vácuo. 
E com isso, foi um ano.  Em breve serão 5 e depois 10. Até que Lula desapareça fisicamente para se tornar, esse sim, um verdadeiro mito. 
Quando os livros de história resgatarem a verdade, e colocar as pessoas no seu devido lugar, toda essa geração terá passado e mais uma vez, teremos apenas assistido a "banda passar", de braços cruzados.  Coniventes e cúmplices.
Claro, tô agredindo ninguém, viu?  Eu também tenho culpa.  Culpa máxima.
O Brasil precisou de mim e falhei.  Critiquei, votei, mas foi só isso que fiz.


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