quarta-feira, 7 de novembro de 2018

O amor se alegra com a verdade.


Difícil conceber um texto tão lindo, sobre o amor, quanto é a Carta de São Paulo aos Corintios.
"Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine". É assim que começa o apóstolo.
Depois prossegue:
"Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se não tiver amor, nada serei".
Mas o lindo mesmo, vem quando ele explica o amor.
"O amor é paciente, o amor é bondoso.  Não inveja, não se vangloria e não se orgulha.  Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor.  O AMOR NÃO SE ALEGRA COM A INJUSTIÇA, MAS SE ALEGRA COM A VERDADE."
Eu acho isso maravilhoso.  Mas claro, muito melhor quando praticado. Haverá na Terra filhos ou filhas de mulher que porventura não concordem com isso?
Então resta nos perguntarmos se quem não se compraz com a alegria do próximo, tem amor.  Ou se quem se incomoda com a partilha é capaz de amar. Amar desmedidamente e a toda criatura.
Ama quem persegue, quem ameaça, quem segrega, quem ofende, quem agride?
Tem amor aquele que não se dói ao ver, pelas ruas, os sem teto, sem emprego, descamisados e entorpecidos?
Pode dizer que ama de verdade quem anseia por um revolver ou pela vingança, mais que pela paz e o perdão?
Gosto de pensar que o amor precisa ser integral, ou não é amor.
Fico sempre apostando que há muito mais gente boa, do que ruim nesse planeta. Pessoas que querem o bem incondicionalmente a todo semelhante.
Estarei certo?  Afinal é grande o número dos que não o demonstram.
Vez ou outra me deparo com frases maldosas e defesas cruéis.  Aliás vimos muito isso e recentemente.
Ainda hoje ouvi alguém questionando o por quê de famílias de presidiários receberem um determinado recurso, enquanto o condenado cumpre pena.
Mesmo explicando que o valor é oriundo do INSS recolhido pelo próprio condenado, quando ainda em liberdade, não consegui amenizar.  Informei que essa regra foi criada para que a família do preso não passe necessidade diante da falta do mantenedor da casa, uma vez que cônjuge e filhos não tem qualquer culpa pelo crime cometido. Não adiantou. "Não é certo".  Bradou.
Por que isso incomoda tanto se os recursos não saem dos bolsos de ninguém, mas são provenientes do próprio recolhimento daquele indivíduo? Falta de amor?
Pois não ouvimos o mesmo, tantas vezes, com relação ao Bolsa Família?  "Vagabundos, acomodados, preguiçosos", reclamam dos beneficiários do programa.  Mas quem disse?  De onde vem as bases para esse julgamento preconceituoso e desprovido de caridade?  Se por ventura um ou outro se aproveita de falhas do sistema para o burlar, ou se beneficiar de um direito que não tem, por outro lado a grande maioria é altamente ajudada.  Socorrida.  Acaso devemos "jogar a criança junto com a água do banho"?  É concreto pois acabar com o socorro de muitos, pelo erro ou abuso de poucos?
O sensato seria estar feliz por não precisar desse auxilio, ao invés de odiar quem o recebe.
Poxa.  Se o amor não maltrata, não se ira facilmente, não guarda rancor, como explicar o ódio de quem defende que bandido bom é bandido morto?  Ou fala que ser gay é falta de surra?
"O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta.  Nunca perece, mas as profecias desaparecerão, as línguas cessarão, o conhecimento passará.  O amor permanecerá".  Afirma ainda São Paulo.
Amar muito é querer que as pessoas saiam da penumbra e do atraso.  Que possam frequentar boas escolas, hospitais, restaurantes, passear e visitar os seus queridos.  E até isso parece deixar alguns irritados.  Há gente que se declara, publicamente, inconformada porque alguns podem usufruir dessas coisas que pra si, são corriqueiras, mas para eles mordomia, exagero.
Mas por que a indignação, se nada lhes é tirado para que o outro  tenha tais condições?
Um clássico exemplo é aquele que discorda da política de cotas nas universidades para os negros.
Não compreendem que igualdade não é que todos possam prestar uma prova, mas que possam ter como passar e isso não acontecerá se uns, nascidos bem, puderem descansar, se alimentar melhor, estudar nos bons colégios, enquanto outros precisarem trabalhar incansavelmente, sem intervalo e sem um bom preparo. Será uma luta sempre desigual.  Desleal.
As cotas visam amenizar o impacto de dívidas contraídas por um passado escravocrata insano que deixou maculadas diversas gerações.
Diante disso reflito que não há respaldo para essas reações em algum dos parágrafos escritos ao povo de Corinto pelo convertido de Cristo, aliás derrubado do cavalo a caminho de Damasco por perseguir os amados por Jesus.
Por certo que não.
Então quando alguém acha incompatível, com a fé Cristã, o discurso de ódio e a pregação de intolerância, não está falando por falar. Não está pegando no pé.  Não está fazendo simplesmente a defesa do contraditório. É que dói no justo saber que há mais imóveis sem moradores, do que pessoas sem um teto.  Que alguns tem uma orientação sexual diferente, quase sempre pessoas sensíveis e dóceis, mas que são desprezados pela própria família que não sabe lidar com diferenças.
Cala fundo entender que tantos abandonaram os campos para viver na cidade, enquanto há tantos que sabem cultivar a terra e estão apenas esperando seu quinhão, para trabalhar e lavrar, tirando dali tudo o que puderem para se alimentar e alimentar o povo.
São terras devolutas, improdutivas, desapropriadas pelo governo em troca de uma boa quantia indenizatória aos atuais proprietários.  Por que a ideia disso deixa alguns tão apavorados ao ponto de falarem o que não sabem, chamando a esses trabalhadores de facção criminosa e terroristas?
E há tanto mais.
O desterro de populações indígenas, o desmatamento desmedido dos bosques e florestas, o desaparecimento de espécies animais e outras atrocidades naturais, são coisas que por certo ninguém, no mundo inteiro, em sã consciência, plenificado de amor, seria capaz de fazer, aceitar ou menos ainda, defender, como vimos recentemente na campanha eleitoral.
Pois é.  Nenhum amor moveu essa gente.
Mas eu creio em Paulo.  O amor prevalecerá, mesmo que tudo desapareça.
E assim creio no crescimento d'alma que é a única coisa capaz de retirar das pessoas as vendas colocadas pela falácia rancorosa que ilude e promete o novo, enquanto entrega o velho, o vencido.
Espero por essa luz e vou vê-la brilhar.
Até porque na continuação dessa mesma poderosa epístola, existe um instante reparador e cheio de alento, que nos promete.
"Quando era criança, pensava como criança, agia como criança e falava como criança. Mas quando me tornei adulto, deixei pra trás as coisas de criança.  Agora vejo um reflexo obscuro, mas então verei face a face. Agora conheço em parte, mas conhecerei a verdade plenamente".
Esse dia, de enxergar a verdade, o da tomada de consciência, por certo chegará e quando isso acontecer, todo o mal será reparado e todo erro será acertado pelo amor.
E finda o mensageiro bíblico:
"Permanecem pois três grandes virtudes: a fé, a esperança e o amor.  Porém a maior delas é o amor".

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