domingo, 7 de outubro de 2018

E o vencedor foi...

Acabou o primeiro turno das eleições.

Pronto!

Houve um candidato a presidente que ficou bem na frente em número de votos. Mas não houve vencedores nessa nossa pátria brasileira.

Depois de tanto batalharmos pelo direito ao voto, por uma constituição cidadã, hoje milhões de brasileiros optaram pelo discurso pró ditadura.  Em favor da tortura.  Pela liberação de armas para as pessoas ditas de bem. Em favor da redução da maioridade penal e vai saber mais que outras defesas contrárias à vida. Optaram por um discurso que "faz piadas" com a cor da pele e com a filha nascida mulher. Um candidato a presidente cujo vice deixou escapar, por mais de uma vez, os planos contrários a certos direitos trabalhistas. Nunca guardaram segredo disso, desde o início da campanha.  Quem não lembra do discurso sobre a opção que o trabalhador teria que fazer do "emprego sem direitos, ou direitos sem emprego"?

Nossos compatriotas afirmaram que escolheram o novo, mas que não é novo.  Que está na Câmara dos Deputados há quase 30 anos.  Que só tem dois ou três projetos irrelevantes aprovados e nenhum para melhorar a segurança, maior problema do seu Estado.

Escolheram o que afirmam não ser corrupto, mas que usufrui auxilio moradia tendo imóveis e empregou funcionária fantasma.  Se vale dos altos benefícios de Deputado e já afirmou em público e em plena campanha que não abre mão dos mesmos.

Seriedade?  Comportamento reto? Hoje vimos um festival de "fake news" nas redes sociais durante todo o dia de eleições. Coisas inacreditáveis inventadas ou manipuladas contra os principais concorrentes.  Imitação de artistas, religiosos e líderes, prometendo apoio falso.  Cenas produzidas ou espalhadas por todo lado, mostrando fraudes que não aconteceram.  Uma ação muito bem orquestrada ao estilo Trump e que enganou várias pessoas que conheço.  Gente que ao receber multiplicou sem questionar nas redes sociais e enviaram, inclusive pra mim, afim de me alertar em quem eu estaria votando.  Quis argumentar, dizer que eram falsas, mas diante da aflição desses eleitores convictos, melhor deixar quieto.  E deixei.  A mentira é responsabilidade de quem a produziu e de quem nela acreditou.

No final a votação se deu com calma e aparente mansidão.  Pelo menos até onde sei.

Por aqui, o dia todo choveu, esfriou e escureceu. Não foi por menos.  A cidade, reacionária de sempre, votou em candidatos que não tem nada a ver com nossa realidade local, desprezando candidaturas da região. Já tinha acordado pensando que seria um dia mesmo triste. Não nasci ontem e jamais me decepcionei em política.  Só se decepciona quem espera o improvável.

Esperei silente as primeiras urnas serem abertas.  Esperanças?  Não muitas.  Mas ainda consegui ficar feliz com alguns resultados.  Alguns sepultamentos eleitorais de gente imprestável.  Os Sarney, o Jucá, o Malta, o Scaf, as baixas do PSDB como um todo e me conformei com outros resultados mesmo que inesperadamente ruins, como o Suplicy, a Dilma e alguns companheiros preciosos da luta.
Definidos os presidenciáveis para o próximo turno, bora esperar os seus pronunciamentos.  Ouvi meu candidato sem muita euforia.

Do outro, esperei ouvir algo diferente, motivador, meio que a me desarmar.  Quem sabe uma falinha que me deixasse minimamente pensativo, como que a justificar a escolha de tantos.  Mas veio o pronunciamento do cara e ao contrário de quem deveria agradecer com humildade aos seus eleitores pelos votos recebidos, o cidadão encontrou forças pra acusar  que não ganhou no primeiro turno porque houve fraude.

Fraude que não houve nos outros pleitos que ganhou?  Fraude no processo que deu ao seu filho a maior votação para o cargo que disputou?  Fraude que quase deixou o segundo colocado fora da disputa?  Fraude que não elegeu seus governadores nos estados que concorreram?  Será que não vai perder a manha de querer achar culpados sempre?  Vai ser assim o seu mandato?  Caçando bruxas que não existem?  E o pior são os eleitores fazendo coro.  Mostrando imagens mentirosas de urnas supostamente adulteradas.

Eita.  Sabe aquele ditado popular que diz que do limão se pode extrair uma limonada?  Pois é... Não foi dessa vez.  Sua fala foi pra mim como o suco ácido, engolido a seco.  Sem água, sem gelo e sem açúcar.

Pensei comigo.  Não meu caro.  Deixa eu te dizer.  Não houve fraude.  Dezenas de pessoas que conheço não votaram em você. Não votariam jamais.  São pessoas que, contra ou a favor do PT, do Ciro, são a favor das liberdades, do "amar ao próximo como a si mesmo". A favor da democracia, da igualdade e da tolerância. São pessoas mansas, nada rancorosas.

Sim, pessoas que não votaram nele, mesmo aqui na minha cidade onde seus votos somaram mais de 60%.

Contudo, não dá pra tapar o sol com peneiras.  Diante de vários candidatos e diversos projetos, nosso povo, nossa gente, optou mesmo pelo dele. Por esse conteúdo. Ora, então eu preciso entender. engolir resignadamente. Democracia tem dessas coisas.  Aceitar derrotas é uma virtude para quem foi vencido em uma batalha.

Que Deus me dê forças e pronto.  Vida que segue.

Só que sou do tipo que não consegue fingir. Me assusta um pouco tudo em torno dele.

Tenho em casa o livro Mein Kampf.  Como apaixonado por política, leio de tudo um pouco.  Foi ali que vi que o nazismo não começou com as câmeras de gás.  Não começou com o holocausto, com a perseguição aos judeus, aos negros.  Começou com o discurso bonito e apaixonante. Contra a corrupção, contra a miséria.  Aqui, o próprio lema da sua campanha repete o slogan alemão. Lá o chamavam "führer" (guia, condutor).  Aqui o chamam de mito.

É apavorante. Como um filme cujo final conhecemos.

Quem nunca se abalou ao ver as cenas dos campos de concentração, as atrocidades da Segunda Guerra, a história da Alemanha? Quem nunca ficou de coração partido ao ver como foram tratados os contrários ao Reich?

Sempre que vejo isso nos filmes, fico imaginando como se chegou naquele cenário.  Quem teria permitido aquilo?

E então, hoje olho para o lado e vejo vizinhos, colegas de trabalho e mesmo familiares pavimentando a estrada, exatamente, para que aquilo tudo seja possível também aqui, algum dia.

Me resta orar.  Lutar até o último instante com ética, verdade e principalmente amor no coração.

E se depois tudo der errado, torcer ardentemente para que os instrumentos de democracia nacional, que aliás andam meio falhos por aqui, estejam firmes e vigilantes para exercer, caso necessário, sua tarefa de barrar loucuras e desmandos de um alucinado qualquer.

Penso que seus seguidores mais afoitos talvez não consigam aguardar o dia 28.  Temo também pela retaliação ao povo nordestino que votou como acreditava ser melhor pra ele.  Já se veem, como em 2014, agressões nas redes sociais. Povo sofrido que esperou mais de 500 anos pra alguém lembrar que existia e quando esse alguém surgiu, não se demorou.

Por toda parte ouve-se um separatista bradando.  Será que além de voltarmos para os tempos da Segunda Guerra, querem que voltemos para os instantes da Guerra da Secessão? Quem sairá perdendo?  Acho que quem votou em Tiririca, Frota e Kataguiri, Janaina e Mamãe Falei, não devia comentar escolhas.

Não, não vale cobrar que essa gente nordestina seja ingrata.  Eles sabem bem o que passaram por longos anos. Também não vale "bater" no contrário, só porque é contrário.  Se eu tenho que aceitar com resignação, o outro lado não tem?  Vou repetir o que já disse lá em cima.  Democracia tem dessas coisas.

A bem da verdade, meus irmãos, o que eu esperava é que outros cidadãos fizessem o mesmo que os nordestinos. Que o negro que votou hoje, se lembrasse das brincadeiras feitas com sua raça pelo candidato em mais de uma oportunidade.  Que não se esquecesse das oportunidades que não tinha antes da política de cotas, da inclusão.

Que a mulher que votou hoje pensasse que é considerada uma fraquejada e que, segundo defendem os integrantes dessa ala, ela merece menos salário do que um homem, mesmo na mesma função. "Eu não contrataria", disse ele em um programa de TV.  Logo a mulher que demorou tanto tempo para ter direitos "quase" iguais, que ainda não tem.

E o que dizer do LGBT que tem mais raiva do PT e do Ciro do que amor por si mesmo e por sua preferência?

Trabalhador que vota contra si mesmo, eu já tinha visto.  Vejo desde muito tempo.  Sempre há um tanto deles disposto a rifar um pouco mais dos seus direitos em prol do patrão, talvez por conta da síndrome de estocolmo.

Recentemente vimos um empresário obrigando os funcionários a declarar apoio e votar nesse candidato.  Será que os empregados, por toda parte, não entenderam por que ele fez isso?

Sim.  É difícil convencer trabalhador que é trabalhador.  Um falso pertencimento de classes lhe domina.  É o que ele vê nas novelas, filmes e séries.  Sonha tanto estar noutra posição, que se esquece da posição em que realmente se encontra.

Como um velho tio sempre fala.  Eu devia ficar quieto.
Sou branco, homem, hétero, patrão, devia estar tranquilo com tudo isso.  Não sou eu quem deveria estar preocupado.

Mas não dá.  Ser cristão não é pensar só em si.  Sem ser santo ou perfeito, sem pretender qualquer tipo de prêmio, acredito na obrigação que todos temos de transformar o mundo. Se Deus descansou no sétimo dia, como afirma a Bíblia, então é porque nós devemos terminar o que ele começou.  Caso esquecêssemos, aidna mandou seu filho pra nos ensinar.  Não é isso que acreditam, ou deviam crer os fiéis?

"E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".

" Ame seus inimigos. Faça o bem para aqueles que te odeiam.  Abençoe quem te amaldiçoa e reze por aqueles que te maltratam.  E se alguém lhe bater no rosto, ofereça a outra face".

" A boca fala do que está cheio o seu coração".

" Nunca faça aos outros o que não querem que vos façam".

Ou as pregações dos pastores e padres que afirmam o contrário estão mais certas do que as bases nas quais sua fé foi fundada?

E só pra terminar, mais uma citação do Cristo: " Cuidado com os falsos profetas.  Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores".

Então pare de usar Deus como desculpa para sua escolha.  O Deus acima de tudo é o Deus do amor, da concórdia, da paz, do bem.

Pra mim já ficou claro como a luz do sol.

A partir de agora sei exatamente quem é quem nas minhas relações pessoais. Nas minhas redes sociais. O que pensam, o que comem e como vivem. E peço que esses não fiquem chocados, bravos por eu decidir desfazer esse terrível mal entendido, qual seja o de enganá-los com uma suposta relação diária.  Facebook e visitas, a gente faz a quem gosta.  A convivência diária deve ser com quem nos dá alegrias e com quem possamos, de algum modo, nos alegrar.

Não vou falar em fim de amizade.  Jamais. Nunca misturei os canais e não seria agora.  Mas é um momento do chamado "espaço".  Por isso quero deixar a todos muito a vontade. Se falarmos, não faço questão que falemos sobre isso. Que partilhemos nosso dia a dia.  Vamos apenas nos ater ao que nos une.  Sem estressar e sem nos atacarmos.

Eu achei que tinha deixado claro o como eu penso. Sim, temos uma inconciliável incompatibilidade. Nossa pregação é quase oposta.  Precisamos então, cada um de nós, estarmos juntos com aqueles com quem concordamos e comungamos afim de brigar pelos sonhos de futuro que desejamos ver realizados.  Só assim lograremos êxito. Cada um de nós.

Assim fica mais justo.  Sempre me expus.  Esses contrários aos meus pressupostos de vida, felicidade e existência humana, sempre souberam como eu pensava e o que eu defendia e ainda defendo. Mas nunca haviam me dito, de forma tão clara, o que pensavam ou defendiam.  Foi preciso que alguém surgisse, de repente, com discurso sedutor, para que eles então se revelassem pra mim.

Tá certo, enfim.  Conheço a maioria pelo nome. Continuarei lhes querendo muito bem, no fundo do meu coração.  De minha parte, não há ódio, rancor. Cada um defenda o que acha justo, correto.

A única coisa que peço é que quem optou por esse lado da história usufrua, de maneira coerente, todas as consequências e resultados da opção que conscientemente fez hoje ao votar.

Um comentário:

  1. Bolsonaro serviu como espelho de modo a que uma parte desta nação se revelasse a si mesmo. Agora sabemos quem somos e porque fomos a última nação a abolir a escravidão. Por detrás do país cristão está a verdadeira face do explorar e do animal vil que odeia seu semelhante.

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