sexta-feira, 27 de abril de 2018

Sobre Culpa.

Lula menino, aos 4 anos, venceu a longa viagem como retirante nordestino até Santos, no sudeste brasileiro.
Venceu a miséria.  Bem moleque ainda, foi para São Paulo. Trabalhou como ambulante, engraxate e office-boy.  Com 15 anos já era aprendiz de torneiro mecânico, profissão que o acompanharia até se tornar líder sindical da categoria.
Lula venceu a primeira viuvez após perder a mulher grávida de seu filho.
Passou a dedicar-se então mais fervorosamente ao sindicato e venceu a eleição que o conduziu à presidência do mesmo.
Liderou com vigor a primeira greve de metalúrgicos do ABC em pleno Regime Militar.  Foi preso e venceu sua primeira estadia na prisão quando só atraiu simpatias.
Com apoio de intelectuais, líderes sindicais e comunitários e parte da Igreja Católica avançada, fundou o PT - Partido dos Trabalhadores no início da década de 80.  Tinha entre seus aliados Franco Montoro e Leonel Brizola, importantes e respeitáveis lideranças respectivamente do PMDB e PDT.
Vencendo mais barreiras, ajudou a fundar a Central Única dos Trabalhadores e mais tarde participou ativamente da formação do bloco Pró Eleições Diretas onde atuou com maestria.
Em 1986 venceu a eleição para Deputado Federal Constituinte tendo a maior votação do país.
Concorreu por três vezes à presidência da república.  Na primeira passou para o segundo turno contra Fernando Collor.  Não foi eleito, mas podemos dizer que venceu um golpe contra sua candidatura arquitetado com auxilio da Rede Globo, atitude mais tarde confessada por um dos executivos da emissora.
As duas outras eleições foram contra Fernando Henrique Cardoso.  O privatista e representante sem igual do neoliberalismo no Brasil.
Em 2002 venceu sua primeira eleição para presidente do Brasil com uma votação recorde.  Depois da posse venceu várias tentativas frustradas dos opositores em derrubá-lo, que culminaram com a degola de diversos líderes do partido de Lula e possíveis substitutos de seu mandato.
Venceu novamente no pleito seguinte indo para o segundo mandato com uma condução inigualável do executivo nacional que fortaleceu o bordão "nunca antes na história deste país".
Colecionou a maior popularidade de um governante brasileiro.
Fez bonito no exterior, angariou simpatias sem precedentes e venceu desafios centenários.
Sem substitutos, elegeu sua sucessora a presidenta Dilma Roussef, uma mulher, reeleita depois apesar de diversas tentativas frustradas de opositores de impedir sua vitória.
O PSDB nunca se recuperou desta derrota e após recorrer na justiça contra o resultado, prometeu "sangrar o país" e "parar o Congresso", o que cumpriu com vontade.
Um golpe foi engendrado com maestria e a sucessora de Lula sofreu um discutível processo de impeachment.
Mas não foi suficiente.  Era preciso aos seus opositores barrarem Lula.  Não podiam torná-lo um mártir, então era necessário desacreditá-lo.
Parte da imprensa e do judiciário, foram afiados nesta tentativa.  A mídia trabalhou incansavelmente dias na destruição da imagem de Lula, mas a popularidade do ex-presidente só fez crescer.
Lula venceu infinitas sessões de massacre midiático contra si e sua família, delações de adversários e amigos e venceu sua segunda viuvez ao perder a grande companheira de sua vida, dona Marisa Letícia.
Acusado sem provas e diante do grito de "crucifica-o" de parte das ruas, esta "convencida" de que toda a mazela do país (fruto da sangria promovida pelos tucanos e aliados) seria culpa de Lula, foi finalmente preso e conduzido ao isolamento onde deverá ficar até o final do pleito.
Populares, intelectuais, artistas, juristas respeitados e líderes de diversas outras nações, tentam forçar a liberdade de Lula com campanhas, declarações e outras formas de apoio.  Mas sequer conseguem visitá-lo.
Na internet, para sossegar seus apoiadores mais distantes da corte partidária, chovem boatos de que haverá revisão do processo contra Lula, pelo Supremo, ou que em breve Lula terá que ser solto por falta de provas ou abuso do juiz que o condenou.  Falácia que tenta minimizar a resistência daqueles que estão em contundente luta, postando-se vigilantes ao lado do cárcere.
Mas o fato é que não haverá trégua.  Nem de um lado, nem de outro.  Quem patrocinou, financiou e comandou este estelionato na democracia brasileira e sobretudo, quem está sendo beneficiado com o entreguismo e desmonte do país, não jogou pra perder e não irá afrouxar agora.
Muitos já gastaram inclusive a própria reputação na tentativa de "provar" os crimes de Lula, só lhes restando agora a vergonhosa posição de protagonistas do atraso, da traição e da conduta sub reptícia.
Lula só sai da prisão após a eleição, ou então em um saco plástico ou maca de hospital.
Mas tem que ficar bem claro.  Se algo acontecer e Lula não vencer esta batalha como vem vencendo todas as grandes lutas de sua vida... Como venceu os grandes desafios de governar este país, mitigando a fome, abrindo espaço para os pobres estudarem e comerem melhor, viajarem, consumirem e trabalharem com mais dignidade, seu sangue então manchará para sempre o solo brasileiro e recairá sobre seus algozes.
E a responsabilidade por esta mácula histórica terá nomes e sobrenomes que ficarão para sempre cravados nos anais e registros do Brasil.
O país nunca mais será o mesmo e veremos o tempo aqui dividido entre o pré e pós Lula.
Os sinais já são visíveis.  Ainda hoje, dezenas de ônibus rumam para Curitiba, onde Lula está preso.  Cada show, peça teatral ou festinha de aniversário, começa com um grito de Lula Livre.
Os simpatizantes da direita cairam no conto do vigário.  Lula não é comunista. Pelo contrário. Infelizmente não é.  Mas Lula está longe de ser um inimigo da esquerda.  Sua condução no governo do país, sua história de vida e sua militância atraíram a atenção do que há de melhor no pensamento político das pessoas.
Crianças, jovens e velhos com ideais verdadeiros não se calarão.  Eles não querem carregar o fardo da indiferença e terem confundidas suas mãos com as daqueles que as terão sujas de sangue.
O tiro dos que queriam o fim de Lula, então terá saído pela culatra.
Pode ser que quem hoje sorri "aliviado" por ver Lula preso e até agora fora das eleições não tenha se apercebido que teria sido melhor ele ganhar e quem sabe, fazer um mal governo.  Talvez não conseguir consolidar alianças necessárias e não controlar as coisas.  E isso teria sido culpa dele.  Responsabilidade dele.
Mas agora, com ele fora, a culpa é de cada um dos que atiraram pedras, fustigaram e apoiaram sua saída do cenário.
E isso lhes custará imensamente caro e os perseguirá pela eternidade.



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