sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

A tecnologia e o Homem.

Quando menino eu já esperava por grandes mudanças no mundo conhecido de então.
Sou de 68, o que fazia de mim um adolescente no início dos anos 80.
Imaginava, talvez incentivado pelos filmes de ficção ou desenhos animados, carros flutuando, objetos se movendo por conta própria e mesmo autômatos limpando a casa sem a intervenção humana.
Aliás, eu pensava na época que tudo isso aconteceria a partir do ano 2000.  Bem antes, portanto, do ano em que já estamos.  2017 parecia um lugar tão distante que eu sequer conseguia me ver vivendo-o.
Talvez George Lucas tenha tido um pouco de culpa nisso, posto que ampliou tanto minha visão, no primeiro filme da saga Star Wars, em final da década de 70, que praticamente foi impossível me surpreender a partir dele com os grandes lançamentos que se seguiram no Mercado de consumo.
Usei e abusei, mesmo sendo filho de classe média, dos incríveis walkman, do telejogo (precursor dos vídeo games), do pocket game, do Atari e outros brinquedos "modernos".
Então surgiram o vidro elétrico em algumas marcas de carro, o interfone, a secretária eletrônica e por aí vai.  Em menos de uma década depois, já podíamos encontrar coisas como fax, vídeo cassete, microondas e CDs rodando nas lojas e em alguns lares.
Mas nada disso se compararia aos grandes avanços tecnológicos que aconteceriam mais rápido ainda. O nascimento dos PCs (computadores pessoais) e em seguida da Internet trariam ao mundo um universo inimaginável e ao alcance de todos.
E o que dizer dos primeiros "tijolões", aqueles celulares que vieram para substituir os pagers? Rapidamente, os telefones móveis foram diminuindo em tamanho e ganhando diversas funções adicionais até chegarem no moderno Iphone ou S7.
Carros avançados, aeronaves fantásticas, TVs surpreendentes e equipamentos médicos precisos, não foram menos produzidos que poderosos armamentos de destruição individual ou coletiva.
As ilimitadas capacidades e alcances dos satélites, dentre tantas maravilhas que eles proporcionam como GPS e outras criações que se sucedem e se substituem hoje em dia, são meio que esperadas a todo instante.
O que nos causa espanto, nem é tanto o dinamismo dos novos lançamentos, mas a sua similaridade com modelos anteriores.
Pois é.  E a mim, nada parecia espantar neste campo.  Como ainda hoje, falar com um robô ao ligar para a Sky ou deixar o aspirador limpar sozinho a piscina de casa, não me surpreende em nada.
O que eu não pensava que aconteceria e portanto me surpreendeu assustadoramente, foi a dependência monstruosa que acompanhou a tecnologia vigente.
Com três filhos em casa, a comunicação está bastante rara.  Ter deles alguma atenção é tarefa hercúlea.  Fazer com que se interessem por qualquer outra coisa que não as conversas pelo WhatsApp com amigos ou estranhos, ou então youtubers gritando palavrões é tipo compor um TCC para o curso de mecânica quântica.
E a postura física?  Estou praticamente convencido que as futuras gerações serão curvadas, míopes e meio surdas.
Se falo de meus filhos, que eu não lhes seja injusto. Nas empresas não é diferente.  Funcionários e clientes, se digladiam diariamente, quase sempre defendendo a mesma coisa, mas incapazes de se falar, ficam no perigoso jogo da interpretação de textos mal escritos e mal digeridos.  Se substituíssem o Skype, o e-mail, o WhatsApp por uma bela, rápida e precisa ligação, tudo se resolveria.  Mas aceitam essa sugestão?
Viciadas e dependentes dos equipamentos eletrônicos, pessoas se esbarram nos coletivos, atrapalham filmes no cinema e cultos religiosos nas igrejas.  Gravam e fotografam os pratos de comida e fazem questão de iniciar o dia enviando centenas de correntes, vídeos e mensagens sem sequer perceber o conteúdo completo ou o gosto do destinatário.
Claro que eu não vou ficar amaldiçoando o progresso.  Este desfraldar de invenções facilitadoras e promotoras da emancipação são essenciais para o desempenho real e objetivo da humanidade neste mundo.  Num ambiente que vislumbre justiça social, a elevação do ser no desempenho de atividades mais sensíveis, deixando às máquinas o trabalho pesado e repetitivo seria um sonho.
Mas assim como o Homem teve que aprender a utilizar o fogo, que mudou a história, precisa se educar para utilizar estes instrumentos de apoio tão incandescentes quanto.
Acredito que o grande desafio que nos cerca no momento é este.  Ajudar meus filhos a dominarem e não serem dominados por seus equipamentos é tudo o que espero das escolas e dos meios de comunicação.  Será que chegaremos a isso?
Talvez assim, definitivamente, eu então me surpreenda.



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