segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Meus 33 Motivos

O "olho que tudo vê"
Em 15 de dezembro de 2016 eu vou completar 27 anos desde minha iniciação na Maçonaria.
Estou, como dizem meus irmãos, "adormecido" desde 2003, mas sem descansar na minha busca constante pelo "desbaste da pedra bruta".
Estar adormecido, na linguagem maçônica, significa estar com a regularidade suspensa, ou seja, sem a obrigatoriedade da frequência às reuniões e o cumprimento de outras obrigações inerentes aos membros ativos.
Antes de ser iniciado numa das mais antigas fraternidades do mundo, eu fui iniciado na Ordem DeMolay e também na Rosacruz.  Logo mais vou detalhar um pouco cada uma destas "agremiações".
Acho pertinente fazer alguns comentários aqui até para me auto convencer dos verdadeiros motivos que me levaram a me filiar a estas "escolas herméticas".
O fato é que algumas coisas nos são natas e simplesmente não sabemos explicar como.
Eu vivi uma infância conturbada, com problemas para dormir e um terror que me visitava durante a noite.  Por conta disso, tornei a vida de meus pais e de meu irmão mais novo, um verdadeiro inferno, até perto dos 14 anos, acordando com gritos e muito pânico.
Isso me fazia enrolar o máximo para dormir e também a levantar, depois que todos se recolhiam para ficar acordado, com luz acesa, impedindo desta forma as surpresas horríveis de sempre.
Brasão do Clube do Fogo 
De positivo disso tudo, tiro minha paixão pela leitura, nascida em decorrência desta fuga.  Aos 12 anos, já tinha lido toda a coleção de Monteiro Lobato e muitos dos tomos da enciclopédia Trópico, que meu pai guardava em casa como troféu de sua antiga atuação como vendedor de livros.
Não foram raras as vezes que terminei as leituras, tomei banho e fui direto para a escola sem que ninguém em minha casa percebesse.
Uma outra estratégia que eu mantinha para combater o medo de dormir era convidar muitos amigos para pernoitarem em minha casa, costume que me acompanhou até a adolescência.  Com o quarto cheio de gente "viva", eu já não me assustava com minhas visões bizarras.
Desta feita, eu tinha muitos amigos e constantes em minha casa.
Aos 11 anos, eu e um deles, Alexandre Vítolo (não sei se ele me permite esta exposição tão grande), resolvemos criar um "clubinho" de crianças.
Juntando nossos demais amigos, o que incluía nossos irmãos, estabelecemos toda uma estrutura para o funcionamento do clube.  Ela era composta por uma certa ritualística.  Acendíamos uma vela, orávamos e abríamos os trabalhos.  A pauta era quase sempre a discussão de formas de aprender coisas novas conjuntamente, enfatizar em nós a prática de esportes e arrecadar fundos.  O clubinho, batizado de "clube do fogo", permaneceu ativo até por volta de nossos 14 anos.
Já nesta idade, a necessidade de arrumar trabalho, foi o ponto chave para o fim desta linda e saudável brincadeira de crianças que povoava nosso imaginário e arrebanhou muitos garotos nas diversas tarefas e eventos que realizamos.
Tínhamos um jornalzinho, uma tesouraria, uma secretaria, uma biblioteca e uma olimpíada (disputas esportivas) em todas as férias.  Trocávamos dicas literárias e nos ajudávamos mutuamente.
Jamais ouvira, até então, falar em maçonaria, rosacruz, demolay ou qualquer outra coisa parecida.
Anos mais tarde, esta necessidade de interagir me levou a participar ativamente em um grupo de jovens na Igreja Católica.  Esta foi uma experiência que recomendo a todos os jovens.  A vivência dentro de uma instituição religiosa com objetivos concretos ajuda muito na construção do caráter. Tive muita sorte, é verdade, pois a paróquia que frequentava era dirigida por missionários combonianos, bastante progressistas e de pensamento avançado. Foi lá que o "esquerdismo" começou a ser construído em mim e embora sofresse alguns baques no futuro, jamais perdi o princípio norteador do pensamento humanista que me é caro e precioso até hoje.
Jovem DeMolay realizando a cerimônia das luzes
Desencantado, mais adiante, pelas limitações da militância católica, fiquei sabendo, por um amigo, da existência da Ordem DeMolay.  Instituição paramaçônica para jovens, constituía-se em um grupo de estudos e alguma prática com vistas na formação do caráter.  Após me informar bem sobre ela, fui aceito e iniciado.  Pronto, misteriosamente, embora adolescente, eu estava agora envolto a um "clube do fogo" bastante melhorado.  As reuniões (cerimônias) ocorriam dentro de templos maçônicos, que eu jamais conhecera no passado, mas que incrivelmente me eram familiares.
Entre os meus irmãos DeMolay, aprendi a cultivar as 7 virtudes cardeais, compostas pelas luzes do Amor Filial, Reverência pelas Coisas Sagradas, Cortesia, Companheirismo, Fidelidade, Pureza e Patriotismo.  Éramos cobrados na manutenção de um comportamento que exaltasse estes "bons modos".  Fui o único a ser iniciado sem o consentimento da mãe, regra "sine qua non" para ser aceito.
Eu com vestimenta DeMolay
Exerci ali, nesta irmandade, o máximo que pude em termos de serviços, vindo a ocupar inclusive o cargo de Mestre Conselheiro (um tipo de dirigente) no meu capítulo (nome dado a um grupo determinado).  Mais tarde, a convite de outro amigo, Gláucio Sancho, uma autoridade na Ordem, passei a ser o primeiro secretário estadual para o Estado de São Paulo, cargo recém criado naquela altura.
Fiquei espantado ao ver o tamanho desta fraternidade e sua abrangência por todo o globo.  Ligada à maçonaria, meu interesse começou a pender para lá.  Era preciso, contudo, ter 21 anos completos, o que não era meu caso.
Porém, em uma viagem ao Rio de Janeiro, a serviço da ordem DeMolay, fui apresentado ao mundo rosacruz por alguns meninos do capítulo da Capital Carioca.  A AMORC - Antiga e Mística Ordem Rosacruz era ainda mais intrigante.  Estudos mais profundos me fizeram aprender estranhas meditações, que mudaram, de certo modo, minha conduta com relação a visão de mundo.  Algo novo passou a me chamar a atenção: o universo das dimensões, do alcance da mente e da física em suas manifestações diversas.  Minha iniciação nesta Ordem mística se deu, a princípio, na condição de praticar "em casa" os ensinamentos.  Escondido de minha mãe, que jamais aprovara minha iniciação ao DeMolay, muitas vezes exagerei nas experiências, algumas das quais fantásticas.  Mas, jamais me arrependi do que aprendi nas monografias que recebia pelos correios.
Rosacruz - AMORC
Se a forma como conheci o DeMolay e a Rosacruz foram estranhamente coincidentes com minha "brincadeira de criança", o Clube do Fogo, as coincidências não parariam por aí.  Mais tarde eu abriria uma empresa, ativa até hoje, chamada de San Martin, de certa forma uma alusão a Luois-Claude de Saint-Martin que fundou, no século 18, a Tradicional Ordem Martinista (TOM), baseada no misticismo judaico-cristão.  Os martinistas são um braço forte da Rosacruz e estudam a relação entre o Homem, Deus e o Universo.  A finalidade deste grupo é a realização pessoal do seu membro e o transbordo desta realização para a humanidade.  A maneira e os motivos pelos quais escolhi o nome da empresa, o que relutei muito, surpreende. Mas esta é outra história.
Paralelamente ao tempo em que estive ativo na Rosacruz, fui iniciado na Loja Simbólica Doze de Novembro, afiliada à Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo.  Meu padrinho (aquele que nos apresenta e se compromete com nosso desenvolvimento na maçonaria) era um grande amigo, advogado e político cujo filho mais novo havia sido membro do Clube do Fogo durante a infância. Detalhe, jamais eu e ele falamos sobre maçonaria antes que eu o convidasse também a ser um DeMolay.  Até me tornar DeMolay eu não tinha ideia do que se fazia na maçonaria, ou sequer como era por dentro e por fora.
Templo Maçônico
Enquanto maçom, cursando a faculdade de direito e pagando-a com dificuldade, a frequência em loja (nome dado ao local onde os maçons se reúnem) estava impossível e após alcançar o grau de Mestre Maçom, pedi meu desligamento (quite placet) revertido em 1998 quando com alguns irmãos fundamos a loja Aprendizes do Terceiro Milênio, na mesma cidade.
Minha conduta em loja sempre foi muito polêmica, pois valorizava a discussão de assuntos que julgava pertinentes ao maçom, como protestar pelos testes nucleares da França no Atol Moruroa em 1996 além de discutir sobre os desmandos praticados por governantes federais, estaduais e municipais.  Militante político, eu era o terror nos instantes em que a palavra me era franqueada.
Hoje estou mais comedido, por acreditar que estes debates precisam ter foros mais qualificados.
Explicar a Maçonaria não é tão fácil, pois suas origens são discutíveis.  Há quem defenda seu surgimento entre os hebreus que mais tarde chegaram ao povo que participou da construção do Templo de Salomão.  Outros afirmam sem dúvidas o seu surgimento na Idade Média, como uma forma de auxiliar a instrução dos pedreiros, cuja filosofia, astronomia e outras artes eram inalcançáveis.  Independente de qual seja a verdade, o nome, pelo menos, proveio desta época. Mason é o termo inglês utilizado para o operário que trabalha na "masonry" (alvenaria) que envolve tijolos e argamassa.
Esquadro e Compasso - Simbolo Maçônico
Subdividida em potências e ritos, esta "escola exotérica" está espalhada por todo o planeta.  É dividida em graus, nos quais se medem as instruções dos seus membros nos conhecimentos ali partilhados. Os simbólicos são 3 e os filosóficos são 30.  Na soma, pode-se dizer que o final da escada é o grau 33.  Pelo menos no Rito Escocês, do qual minhas duas lojas fazem parte.
Seus símbolos servem para fixar os ensinamentos contidos em seu ritual, envolto em muita sabedoria e tradição.  O principal é a junção do esquadro e compasso que lembram o maçom de seu dever de controlar as paixões humanas, mantendo-as nos seus limites.
A maçonaria não é uma religião, tampouco eu a definiria como uma seita.  Mas é fundamental a crença num ser criador, que originou todas as coisas, chamado de GADU (Grande Arquiteto do Universo).
A todo instante, o maçom é lembrado da sua condição de mortal, ao mesmo tempo que exalta a imortalidade da alma.
A simbologia ainda está na arquitetura de seus templos, vestimentas de trabalho e outras alegorias utilizadas durante as reuniões secretas.
Ao mesmo tempo que se reputa aos maçons a defesa ardorosa das liberdades (principais artífices do fim da escravatura e das lutas pela independência de algumas nações), há quem acuse os maçons de satanistas, ou praticantes das artes das trevas.
O misticismo que a envolve foi o ponto alto de minha atenção que ali encontrou explicações e algum aconchego para o terror da infância insone.



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