terça-feira, 7 de outubro de 2014

Emocional ou racional?

Eu sabia que não seria tarefa fácil, defender a reeleição de Dilma.  
Primeiro porque eleição carrega consigo, aquele desejo de todos de uma “renovação”.
É tipo ano novo em que, por melhor que o ano tenha sido, todo mundo deposita novas esperanças, em sonhos que ainda não se realizaram.
Mas eu também não imaginava que estaria presente tanto ódio.  Gratuito, inexplicável, sem sentido.
No último domingo, enquanto acompanhava os primeiros números da apuração e de quebra, olhava as postagens nas redes sociais, que hoje refletem muito bem o que pensa cada um sem “máscaras”, remontei na mente a imagem de um certo domingo em família, quando alguns membros da minha, que é um tanto extensa, discutiam sob uma frondosa árvore em casa de meus pais. 
Falávamos de futebol.  Em pouco tempo a plateia já estava dividida entre não corinthianos (torcedores de outros times e pessoas que odeiam futebol) e os corinthianos (eu e meu pai).   Quer dizer, havia gente que não torcia para nenhum time, mas por um destes fatores sem nenhuma justificativa, não gostava do Corinthians de jeito nenhum.
Tentei argumentar e perguntar qual a razão desta aversão infundada.  E mesmo assim não chegava a nenhum tipo de conclusão.  Não há um fato concreto para ser anti-corinthiano.  A paixão dos torcedores pelo clube irrita os que não partilham dela.   É assim e pronto.
Pensei em um comparativo meio bobo, mas que de certa maneira me fez compreender.  Quando não estamos em uma festa, na casa do vizinho, o barulho alto nos incomoda.  Mas se estamos lá, nem percebemos que estamos também incomodando os demais que não foram convidados.
Fiquei feliz por ser corinthiano. 
Não tardou e a conversa migrou para a política, tema quase obrigatório entre nós.  Pronto.  Nova aversão.  Desta vez ao PT.  
Quase todo mundo defendeu o governo Lula e as mudanças que ele proporcionou.  Não houve quem não concordasse com as melhoras visíveis.  Mas ouvi por mais de uma vez que “o PT isso, o PT aquilo” etc.
Havia professores na roda.  E deles mesmo ouvi: “Até gosto da Dilma, mas o PT...”
Pronto.  Já entendi.  Assim como existem anti-corinthianos, existem anti-petistas.
Era a melhor visão que eu podia ter para não ficar emburrado.  Pois assim como havia gente que sequer ligava para futebol e falava ardorosamente mal do Corinthians, também havia aquele ou aquela que nunca sequer se deteve, por um segundo, a entender política e “descia a lenha no PT”.
Sei lá... Talvez fruto de um tempo, não muito distante, em que o vermelho causava mal estar na classe média.  Ou então fruto de um tempo em que as pessoas gostavam mais de Kennedy do que de Juscelino.  Fruto, quem sabe, de um tempo em que era chique, parecer chique.
Hoje se vai ao shopping e a empregada do casal está fazendo compras na mesma loja.  Quem sabe, comendo no mesmo restaurante.  Funcionários se encontram no aeroporto, no final de semana.  Ah, isso os "nobres" não podem aceitar.  Uma afronta.
Não vale pra mim vir com esta de corrupção.  Afinal, ela existe aqui desde as caravelas.  Sem querer justificá-la, basta afirmar que pela primeira vez estão sendo acusados, presos, demitidos, os que dela são suspeitos.  
Não vale vir com esta de que o PT traiu os trabalhadores.  
Ao longo de minha história de vida, só vi trabalhadores serem “chifrados” pelos sindicatos, partidos e religiões a que pertencem.  
Não vale vir com esta de que o PT está instituindo uma ditadura de esquerda no país.  Este é, sem dúvidas, o argumento mais ignorante que alguém possa lançar.  Já vi esta gente antes defendendo ardorosamente o Collor, porque Lula ia acabar com a poupança. Lula era "comunista".  Conta outra.
Pare todo mundo.  Simplesmente são anti-petistas e pronto.
Votariam na Marina, no Aécio, no Pastor Everaldo ou no capeta, para não deixar Dilma voltar ao Planalto.
Isso não vale.  Este sentimento não tem nada de patriota.  Nada de racional.  Não é responsável.
Sabe, eu adoro debater.  Gosto de escutar contra argumentos para mudar se estiver errado, ou para afiar minhas convicções.  Por isso montei no facebook um grupo chamado de “autocrítica” para tentar fazer a minha.  Mas o debate tem que ser forrado de argumentos, não de paixões cegas.
E está difícil.
As pessoas insistem em reproduzir este rancor irrefletido, difundido pela mídia, assim como foi difundido pela mídia esportiva o estranho rancor entre brasileiros e argentinos.  Dois povos irmãos, muito parecidos e que se amam, mas cuja mídia insiste em colocar como inimigos nas piadas, nos bordões, hoje tão repetidos nos botequins, barbearias e trens urbanos.
É preciso, quem sabe, uma sessão coletiva de psicanálise para entender este problema que faz do brasileiro em geral um ressonante das TVs, das revistas de quinta, um adorador dos EUA, um bajulador de ricos, um amante de patrões.
Complexo de Estocolmo?  Herança de ter sido colônia?  Descendência escravista?  Síndrome de vira-latas?
Amigos mais próximos e tolerantes, ainda acham válido manter comigo um bom relacionamento, então tentam me explicar suas escolhas.  “Quero mudança”. 
Eu só digo que seria justo se seu voto fosse para Luciana Genro, o antídoto do capitalismo presente também no PT.  Seria justo se fosse em Eduardo Jorge, um homem sincero que segue à risca os preceitos de seu partido Verde em prol da visão ecológica e não consumista.  Mas ao defender a mudança, voltando alguns anos atrás, não cola.
Pra mim, continuará sendo, sempre, o velho e injustificável antipetismo.
Que pena. 
Eu poderia pedir que todos lessem a verdadeira história do Plano Real, para ver quem é o pai do Real no lugar de FHC.  Este parece ser o único benefício que reputam a este "carinha" sem merecimentos outros.  
Queria pedir que lessem a Privataria Tucana ou o Príncipe da Privataria para entenderem o maior escândalo da história deste país em artimanhas e valores envolvidos.  Mas penso que não acreditariam nos jornalistas que os escreveram.  Não são a Veja, nem a Isto é.  Não são a Folha, nem O Globo. Queria pedir que acompanhassem a imagem do Brasil lá fora.  Repito, lá fora.  Não em Miami.
Mas não vou pedir mais nada.  Não adianta argumentar.
O ódio inexplicável é mais forte.
Eu gostaria de poder juntar alguns que a quem respeito e dizer-lhes que eu estou tranquilo.  Em paz.  Afinal, eu lutei pelo que acho justo.  
Além disso, eu tenho emprego, escola particular para os filhos, plano de saúde, pago previdência privada.  Não me orgulho de nada disso, mas me garanto.  
Ainda, tenho primos nascidos e que moram em Portugal insistindo para  eu me mudar para lá com toda família. Em há como fazer isso, pois meus negócios vão bem por aqui e não conhecemos nenhuma crise, nem conosco e menos ainda com os franqueados que estão indo bem, com raríssimas exceções.    
Enfim, estou bem.  Não precisava brigar tanto e com todos como tenho feito.
Só que gostaria de informar que a classe C tem crescido.  Consumido mais.  É com ela que eu lido de perto.  Ouço, encontro, vejo ascendendo cada novo dia.
Gostaria de informar, sobretudo aos mais jovens, que pouco tempo antes do PT assumir, as taxas de juros eram maiores, o desemprego era maior, a inflação era maior.  
Que a Petrobrás valia infinitamente menos.  Que nossa imagem no exterior era a de “lambe botas”.  Que as micro empresas não passavam de 2 anos de vida.  Que os desvios do governo eram assombrosos e que ninguém ficava sabendo porque a mídia era altamente paga por contratos milionários.
E mesmo assim nada disso iria adiantar.  Simplesmente porque ódio é ódio. Não precisa ter maiores razões. 
Que pena.  Que trágico.
“Mas Carlos, ainda não acabou... Ainda tem o 2º turno.” - poderia dizer um companheiro.
No entanto eu digo: É mesmo?  Sem em 12 anos não se conseguiu provar o óbvio, não será em 20 dias que alguém o fará.

Lamento muito.

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