terça-feira, 23 de julho de 2013

De Marx a Francisco I


Quem sou eu para falar da teoria de Marx ou para defender o socialismo e a revolução, único modo de alcança-lo.

Sou da Classe Média, dono de empresa, sou cristão (tento ser até praticante).  Gosto de passear em shoppings, vejo televisão, por vezes até a Globo.  Leio revistas, não chego a ler Veja, mas leio Super Interessante e outras da Ed. Abril.  Não tenho uma formação acadêmica invejável, não sou operário, nem camponês.  Já fui filiado a alguns partidos, sendo boa parte destes, de centro, mas quase todos, reformistas.  Voto em Lula e Dilma, com certeza.  Minha veia revolucionária é a de simpatizante. 

No entanto, penso que de quando em quando, um palpitezinho aqui, uma conversinha ali, até ajudam a causa revolucionária.  Na pior das hipóteses, defendo-os perante amigos, parentes.  Reproduzo boas matérias, bons e-mails, já criei grupos de debates, gosto de ler livros sobre Materialismo Dialético, sempre admirei muito mais o vermelho que o verde e amarelo.  Faria Ciências Sociais se tivesse possibilidade de me dedicar aos estudos.  Consigo aglutinar e mobilizar pessoas quando se precisa.  Leio Galeano, admiro Fidel, Chavez, emprestaria minha casa, minhas roupas e meu tempo pela defesa da liberdade de expressão, de pensamento, de culto etc.

Enfim, penso que, se não represento grande risco à direita, por outro lado adoraria ver a esquerda verdadeira no poder.  Entendo que a Social Democracia só atrasa o processo e que o Socialismo é, sem dúvidas, a mais perfeita Relação Social.  Entendo que ainda não houve no mundo um socialismo real, que representasse na íntegra a proposta original.  A proposta da grande pátria mundial, sem amos, sem exploração.  Afirmo sem medo que o Capitalismo está caindo de podre, mas graças a ele será possível o atingimento do próximo degrau da evolução humana, representado no socialismo.

Tanto sei disso e de tal forma o sei, que também sei que o atingimento do Socialismo depende de três colunas mestras a compor as condições objetivas de seu alcance: teoria revolucionária, sujeito revolucionário e situação revolucionária.

Vivemos nos dias presentes, condições muito especiais.  Hoje é possível substituir no trabalho, seres humanos em condições subumanas, por máquinas.  É possível diminuirmos o tempo de serviço (redução de jornada) sem prejudicar a produção ou o atendimento das necessidades básicas da humanidade.  As mobilizações e níveis de consciência, em que pese muita coisa estar ainda desordenada, nunca foram tão propícios, oferecendo um momento histórico valioso para mudanças.

No entanto, o sujeito revolucionário, que hoje se mistura inclusive em massa, na Classe Média, precisa ser ligado à teoria revolucionária.  Pois só assim completa-se o círculo, o tríduo necessário que compõe as condições objetivas.

E a teoria revolucionária existe.  Fortemente impregnada de grandes verdades e capaz de mudar realmente o rumo das coisas. 

No entanto, verifico dois graves problemas e se quem me lê não estiver nem aí, tudo bem.  Mas devo dizer, pois como simpatizante da “causa”, aquilo que me atinge de leve, tem o efeito de uma bala de canhão em tantos outros não tão simpáticos como eu.

O primeiro tem a ver com a didática, a linguagem desta teoria.  Quase sempre formulada por grandes intelectuais, estudantes dedicados e outros que tiveram a possibilidade de estudar ou viver em um ambiente propício a estas idéias, são inaudíveis, incompreensíveis e inatingíveis a tantos outros componentes das massas que se quer compreendem o básico, quanto mais abstrair a informação em sua essência.  Enquanto não houver uma adaptação desta linguagem, ela continuará sendo privilégio de poucos.  Não abraçará as massas, não atrairá mais adeptos e prosseguirá sendo rechaçada por tantos.

Não bastasse, boa parte dos defensores da teoria revolucionária, são incapazes de ter a sensibilidade necessária para lidar com o senso comum (que os aborrece profundamente), com a religiosidade das pessoas e com o apego a padrões de educação e comportamento que foram ministrados ao longo de uma vida inteira e que perpassou diversas gerações de uma mesma casa.

Vejo consternado discursos agressivos de defensores do socialismo contra a fé, contra equívocos cometidos ou discursos (não maldosos) oriundos da formação distorcida das massas.  Isso, ao contrário de aglutinar, afasta.  Ao contrário de conquistar, causa repúdio.  Ao contrário de contaminar, gera vacinas.

Combater veementemente a figura e a visita do Papa e negar as mudanças sensíveis que ele já propõe no seu início de mandato, tendo convocado uma comissão para investigar o Banco do Vaticano, a Imobiliária mais poderosa do planeta e criado inclusive um corpo de Cardeais para reavaliar a Teologia da Libertação é descartar logo de cara a simpatia dos milhões de católicos brasileiros.

Da mesma forma, apoiar a deposição de Dilma, criando de forma inconsequente e factual o avanço do "tucanato", afasta os componentes de uma base considerável da massa trabalhadora.

E se estes agentes da revolução não estão preocupados com isso, então os verdadeiros inimigos da revolução não são a classe média, a mídia corrupta e deformadora, mas eles próprios que envoltos na redoma da “perfeição”, não conseguem descer ao nível daqueles que serão (em número) os sujeitos responsáveis pela grande mudança.

Traduzindo na minha modesta linguagem nada acadêmica, pouco teórica e menos ainda “esquerdista”, gostaria que a revolução se desse em espírito, em verdade, numa luta que atrai, une, transforma.

Pois o grande Marx, com certeza, defendeu sempre o socialismo como sendo a sociedade mais justa, mais humana e mais igual.

E se é igual, não tem castas, não só de magnatas e ricos em contrário a pobres e miseráveis, mas também de mentes iluminadas em contrário a meros instrumentos.

Esta é minha opinião.


3 comentários:

  1. Li, admirado com a sua visão limpa, enxuta e verdadeira dos fatos que nos dias de hoje povoam as mentes da esquerda e da direita. A sua colocação não é absolutamente de quem "está em cima do muro", pois não acredita na direita e faz críticas reais aos movimentos mais radicais da esquerda. Faz isso convicto porque vive intensamente dentro do contexto. Faz com precisão a leitura da Teoria Revolucionária, do Sujeito e da Situação Revolucionária. Respeita as opiniões divergentes abrindo mão para uma análise mais sensata e coerente e expõe com clareza e sem radicalismo a sua posição política.
    Parabéns Carlinhos, fiz questão de passar adiante a sua escrita.
    José Antônio D'Ângelo

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  2. Pois bem, vamos por pontos (e tentar usar um linguajar bem simples, já que pelo visto para o autor e para este país é um insulto ter alguma cultura que fuja do simplismo)

    1) É verdade que o marxismo é herdeiro da mais alta filosofia, ciência política e economia (dentre outros campos das humanidades). Mas não é verdade que o movimento comunista não tem seus manuais e linguagem acessível. Para quem quiser, existe até os "quadrinhos do capital". Um HQ que coloca de forma bem vulgar conceitos básicos de exploração. E digo mais, somente quem nunca foi militante comunista e nunca pisou num assentamento ou num núcleo operário pode falar tamanho vitupério.
    2) Mas é engraçado, pois quando simplificamos os conceitos, aí é a direita que nos acusa de simplismo e utopismo...
    3) É verdade que parte da intelectualidade é ateia e de esquerda (o que vejo com satisfação e demonstração conspícua de que tal posicionamento religioso e político seja o resultado do uso da razão), mas não é verdade que fica aí confinada, exigindo iniciação canônica. Ao contrário, para se partilhar dos escondidos arcanos, é a Igreja e a Maçonaria que exigem tais iniciações. Mas alguns acadêmicos compreendem muito bem o que é esta síndrome de usar a própria régua para mensurar o corpo alheio.
    4) E para concluir, vou citar o autor: " Entendo que a Social Democracia só atrasa o processo"...
    Ora ora... Após admitir isso, o autor deveria ser o primeiro a atacar então este cancro que se vale do discurso da transformação para deixar tudo como está. Isso vale para o PT e a Dilma e vale também para o Papado. Pois são estes que iludem o povo com a falsa promessa de mudança que deixa tudo no mesmo lugar. Ou pior, alicia a consciência para que a exploração seja legitimada (ou, para falar de forma como o autor deseja: unta nosso orifícios com vaselina para que a dor seja menor)

    Ass: o confinado na torre de marfim que fala uma língua estrangeira (apenas segundo o autor, é claro)... Embora já devem saber de quem se trata.

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