domingo, 6 de fevereiro de 2011

O ser humano e seus anjos

Do amigo Antônio Caprio
Tanabi-SP

O ser humano não pode ficar sozinho, em nenhuma circunstância, seja ela qual for. A solidão absoluta só existe na ficção. Mesmo nos conventos mais fechados a solidão não está presente, visto que as freiras reclusas têm Jesus, seus santos, anjos e superiores. A solidão pessoal é quebrada pela presença concreta, palpável e indiscutível de figuras denominadas anjos, que se apresentam em forma de seres humanos, na grande maioria alados, com vistosas e alvas asas. Cristãos, muçulmanos e judeus têm seus exércitos de anjos, com suas hierarquias, poderes e funções específicas.


Segundo um conjunto enorme de escritos, religiosos ou não, o nome mais usado para os seres guardiães que nos acompanham desde o nascimento até a morte, e depois dela nos auxiliam nas vidas posteriores, se resume em ‘anjo da guarda’. A expressão anjo vem do latim ângelus e do grego ággelos significando basicamente mensageiro. Na tradição judaico-cristã, que predomina em praticamente todo o planeta, o anjo é uma criatura celestial, portador de vistosas asas (alguns com duas outros com quatro) e a indispensável auréola em torno e sobre a cabeça, emitindo continuamente uma luz penetrante e vinculadora. A forma como o anjo se apresenta ao homem é variada, podendo ser uma criança ou um adulto, sem características sexuais e sempre com beleza ímpar. Os espíritas já dão ao anjo uma característica física assemelhada ao homem e mulher comum, chamados de espíritos de luz , sendo pertencentes a planos superiores de evolução humana, mas sempre inferiores aos anjos, que não experimentam processos reencarnatórios.

Como não poderia deixar de ser, há anjos bons, maus e os dotados de certo grau de ambigüidade, conforme a ação de seu ‘protegido’. Os anjos estão em uma vasta coleção de livros e citações humanas. No Cristianismo é figura presente e constante na Bíblia desde Abrão até o Cristo. Os Evangelhos mantêm tais figuras unipresentes. São inúmeras as divisões de categorias dos anjos, mostrando uma hierarquia natural e bem próxima da própria humanidade. Em geral se classificam em Serafins, Querubins, Éons, Hostes, Potestades, Autoridades, Principados, Tronos, Arcanjos, Anjos e Dominações. Esta é a mais antiga e chamada de classificação de São Clemente e a mais moderna é a de Dante Alighieri, registrada em seu livro Divina Comédia, que indica: Serafins, Querubins, Tronos, Dominações, Virtudes, Potestades, Arcanjos, Principados e Anjos. Em todas as classificações conhecidas se inicia com Serafim, que são os anjos mais próximos a Deus e se termina com anjos, indicando que anjo é a menor categoria de tais entidades e, portanto, mais próxima do homem. Estas categorias divinas, obviamente, não usam alimentos, como faz o homem.

O Budismo e o Hinduísmo têm seus anjos sob a denominação de devas (brilhante) e, alguns, usam alimentos como os humanos. O Islamismo divide seus anjos em bons, fiéis a Deus e os maus, que são privados da graça divina por terem recusado a prestar suas homenagens a Adão, o ‘top’ da criação divina e motivo de ciúmes entre estes anjos e a criatura humana maior, o Homem. Na visão teosófica, a existência dos seres angélicos torna rica a literatura religiosa mundial. Entende que a categoria angélica foi criada por Deus para assessorá-Lo. Teólogos como Charles Leadbeater (A Ciência dos Sacramentos) e Geoffrey Hodson (O Reino dos Deuses), tratam do assunto e até dão detalhes do sistema que rege tais entidades.

Nada escapa à tutela angelical. Também a Astrologia enfoca o assunto, indicando responsáveis por cada planeta do zodíaco, sendo o reitor do Sol Miguel; da Lua Gabriel; de Mercúrio Rafael; de Vênus Uriel/Anael; de Marte Camael/Samuel, de Júpiter Zacariel/Sadkiel/Zeus/Zacarias e de Saturno Orifiel/Cassiel. Os demais planetas não eram conhecidos na antiguidade.

Os anjos mais conhecidos e invocados são os chamados ‘anjos da guarda, os quais têm invocação especial e própria, como por exemplo: “ Santo anjo do Senhor, meu zeloso guardador, já que a ti me confiou a piedade Divina, sempre me rege, me guarda, me governe e ilumina. Amém.” ( Igreja católica e espíritas)

É bastante conhecida a ação do anjo mensageiro, chamados também de Anjo do Senhor. Esta categoria de anjo está presente nas mensagens que Deus enviou a determinadas pessoas da antiguidade bíblica e de outros livros considerados sagrados. Notável a presença deste anjo com relação a Abraão, a Hagar, Gideão, à Virgem Maria e nos momentos cruciais de Sodoma e Gomorra e do próprio dilúvio. Há aqueles que classificam o episódio da sarsa ardente a este tipo de anjo, representando a própria figura divina, bem como a entrega das taboas da lei a Moises.

Interessante a participação de anjos dos conflitos celestiais, onde a inveja, a disputa pelo olhar de Deus e de lugar de mais destaque em torno do Trono Divino se torna na tônica humana. Lúcifer, o anjo mais próximo de Deus, acabou sendo expulso da presença divina por não se sujeitar às homenagens que todos deveriam fazer a Adão, a criação maior de Deus. A concessão do livre arbítrio ao homem o que é vedado aos anjos em todas as suas categorias, acabou sendo a pedra fundamental da discórdia. Lançado aquém do céu, Lúcifer busca até hoje demonstrar que sua tese não era errada, e que Deus jamais deveria ter criado o homem à imagem e semelhança do Criador. Vendo nisto uma humilhação a todos os anjos,e em todos os níveis.

Outra figura angelical na teologia cristã é o Anjo da Presença. Esta figura não tem vida própria e sim uma forma-pensamento, representando o Cristo no sacramento da Eucaristia, onde o Deus Cristão está vivo, latente, presente e transubstanciado na própria hóstia eucarística. O espiritismo transubstancia este anjo na figura dos mentores espirituais que, indo e vindo nas escalas evolutivas, pode auxiliar os de círculos menores na ascensão a círculos mais elevados. Os umbandistas atuam através do ‘nego véio’, de seus guias, seus cantos e ritos, onde os ‘anjos’ atuam na missão de resolver e ou minimizar os problemas dos encarnados no cumprimento de seus ‘carmas’ ou destino.

Cidinha D’Agostino, terapeuta holística, entende que cada um dos seres humanos tem um anjo guia protetor, jamais interferindo na vida de seu protegido, em seu livre arbítrio, mas, buscando evitar que determinados acontecimentos não se registrem, sem contudo, ingerir sob nenhuma forma no destino daquele.

Enfim, o homem precisa de seus anjos para cumprir sua missão neste eterno vale de lágrimas. Esta ‘ necessidade’ humana vem de encontro com a própria instabilidade do espírito humano, sua inconstância, seus medos e suas fraquezas frente ao desconhecido, visto que o homem é o único entre os demais animais que conhece a força do tempo nas suas escravagistas divisões: passado, presente e futuro.

O anjo é a força complementar que o homem usa como a uma muleta indispensável para a travessia dos anos da existência e que lhe auxilia na superação de seus obstáculos e ansiedades, desde o momento do nascimento até seu último momento enquanto matéria.

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