terça-feira, 13 de abril de 2010

A injustiça Social e o Novo Milagre Econômico



Texto do amigo Professor Felipe

“Eu perguntei a Deus do céu porque tamanha judiação...” (Lula, o Rei do Baião)

Felizmente não estamos vivendo os tempos das manipulações de dados estatísticos, este período foi superado pelo avanço da democracia. Lembro que Eduardo Suplicy, professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, escreveu um artigo que demonstrava a correlação entre o achatamento salarial e o crescimento da mortalidade infantil. Os ministros da Ditadura Militar, alguns ainda no poder, não gostaram muito das revelações do professor. O saudoso mestre Maurício Tragtenberg havia demonstrado os fundamentos do “Milagre Econômico”, altas taxas de exploração do trabalho, mais-valia relativa e absoluta andavam juntas na nossa Pátria. Afirmei em texto anterior (20/03/10) o seguinte: há quem defenda a tese de que a cultura popular é aquela produzida pelo o povo pobre. Se esta tese for verdadeira em breve não mais existirá cultura popular no Brasil, pois segundo as recentes estatísticas que os pobres estão em extinção, são somente 4% da população. Seria o segundo “Milagre Econômico?”. Relendo texto do pesquisador Marcio Pochmann (O desajuste social no Brasil, Fórum, abril 2009) encontrou dados preocupantes. “Entre 1980 e 2003, por exemplo, o salário mínimo nacional perdeu cerca 60% do seu poder de compra, enquanto o volume de desempregado cresceu quase cinco vezes. No mesmo período, a renda do trabalho perdeu cinco pontos percentuais na sua participação relativa à renda nacional, a renda do capital permaneceu estável. Já o pagamento com juros consumiu uma quantia equivalente a mais quatro pontos percentuais na sua participação relativa na renda nacional. Em valores reais acumulados no ano de 2004, a renda de trabalho perdeu R$ 1, 52 trilhão, ao passo que os donos dos títulos da dívida pública apropriaram-se do total de R$ 841 bilhões na forma de recebimento de juros. {...} a dívida social brasileira alcançou, em 2004, a somatória de R$ 7, 2 trilhões (habitação, infraestrutura, saúde, educação, cultura, reforma agrária, previdência, e emprego)”. Não fizemos de fato uma Reforma Urbana e, muito menos, a Reforma Agrária. Há democracia, mas os assalariados urbanos não escolhem morar em situação de alto risco. A classe obreira precisa de algum lugar para assentar a vida, mesmo que seja nos lixões. É óbvio que nas tragédias a caridade ajuda, mas pagamos altos impostos e o Estado deve cumprir com seu dever, solidariedade social sistêmica. Investir nas Olimpíadas anima as pessoas, o turismo etc., mas não atende as prioridades sociais, não resolve a dívida social que se acumula desde a libertação dos escravos e a proclamação da Republica. Vale à pena reler Afonso H. Lima Barreto, negro que lia Kant, Descartes sem perder a visão crítica da sociedade injusta que se estruturava no Brasil da “Ordem e Progresso”. Portanto, a grande culpa das repetidas tragédias brasileiras não está no “nervosismo do homem de lá de cima que faz chover e a solução não está na oração” como quer o presidente da República. Lembremos que o PAC ameaça povos indígenas, quilombolas, caboclos. Uma vez excluídos para onde irão? Em que favelas viverão? Ora pinóia! Não há mistérios.

Felipe Luiz Gomes e Silva

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