quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Salada de Partidos


Afirma o dito popular: “Pau que nasce torto, morre torto”. Outro também apregoa: “Quem foi rei, nunca perde a majestade”. Tudo isso para, de certa forma, estabelecer que as pessoas e as coisas não mudam.
Eu espero, sinceramente, que estes ditados estejam errados. Aliás, sou prova viva disso e preciso acreditar a cada dia, que tenho me tornado uma pessoa melhor com o passar do tempo.
A tendência, acredito, é que todos melhorem.
Há outros ditados que ajudam a expressar isso: “Quanto mais velho, melhor o vinho”. Ou então: “Feio não é mudar de opinião. Ruim é não ter opinião.”
Se em parte, tudo isso é verdade, também é verdade que às vezes não mudamos, mas muda-se o cenário, o ambiente no qual estamos inseridos.
É o caso por exemplo de minha postura política.
Este fim de semana, um amigo me interpelou. Queria saber o que fizera com que eu mudasse de partido, como mudei. Senti até um certo “tiro” de ironia.
“Como você justifica ficar mudando de partido?”
Minha resposta, antes de mais nada, foi corrigir o gerúndio. “Ficar mudando”, pode parecer algo constante, deliberado, indeterminado e freqüente.
Não é essa a forma como as coisas ocorreram e preciso deixar claro.
Em 1988, já militante “sem filiação partidária” nas fileiras da juventude do PMDB, fui convidado a participar da fundação em Rio Preto do PSDB por Feitosa, Dr. Waldemar dos Santos e outros tantos. Vale lembrar que a abertura acabara de acontecer (1985) e todos os grandes militantes democratas se encontravam abarcados no grande PMDB de então. Existiam partidos em recente formação e outros que saíam da clandestinidade se recompondo. Parecia-nos então, que o que havia de melhor no PMDB, migrava agora para esta sigla, enquanto seu pior, cerrava fileiras no PFL com aliados e oriundos da antiga ARENA. Deste grupo, faziam parte pessoas de pensamento avançado e que prometiam instituir as sonhadas mudanças.
Na verdade, no início da caminhada do partido dos “Tucanos”, símbolo escolhido pela maioria de nós, bons debates se produziram. Lembro-me bem de um dos fins de semana mais produtivos de minha vida no qual passei encerrado em um hotel de São Paulo ao lado de gente como Fernando Henrique, Covas e principalmente alguém de quem não me esquecerei tão cedo: Franco Montoro.
Em Rio Preto, lançamos uma candidatura própria para combater o “bom combate” disputando contra Adail Vetorazzo e Toninho Figueiredo. Valeu e em pouco tempo, o partido era referência na cidade.
Mas, na democracia, as portas estão sempre abertas e com o tempo, surgem figuras das mais diversas tonalidades e em âmbito nacional, estadual e municipal, o quadro começa a se desfigurar e a Social Democracia, instrumento de um possível socialismo, se torna uma finalidade concreta. Aos poucos, o partido de centro esquerda, se revela de centro-centro até sua atual posição.
Alguns dos velhos aliados, tentamos e esperneamos enquanto pudemos, até que em determinado processo eleitoral, cometi o primeiro ato de infidelidade partidária. Defendendo uma candidatura própria, encabeçada pelo arquiteto Lima Bueno, rompemos com a direção local que fora tomada e decidira apoiar uma chapa composta por outro partido. Eu, decidido, votei e fiz uma campanha firme pelo então eleito prefeito Liberato Caboclo (PDT). A infidelidade daria prosseguimento nas eleições presidenciais nas quais eu votaria constantemente em Lula.
Daí pra frente, foram só enfrentamentos até que em 1995, aproximadamente, migrei a convite de Feitosa para o PPS, que até onde me constava, fora fruto de uma metamorfose do antigo “partidão”.
Ajudei na direção e porque não dizer construção do partido na cidade ao lado de Cláudio Leme e outros valorosos companheiros de então. Mas o quadro novamente se repetira. Com a chegada ao partido da “estrela” Ciro Gomes, um discurso pragmático demais do então presidente nacional Roberto Freire, o partido começa a demonstrar suas verdadeiras intenções: Participar do poder, custe o que custar.
Diante de diversos embates, filia-se em Rio Preto o então Deputado Estadual Edinho Araújo que em 2000, candidata-se a Prefeito pelo partido, conduzindo-o ao poder no município.
No começo, prosseguimos bem até que questões internas do partido nos obrigaram a lançar uma outra chapa concorrente ao diretório. Acreditando o diretório estar todo tomado por pessoas obedientes ao “governo municipal” e não aos propósitos do partido, lançamos o nome de Pedro Roberto, então vereador.
Apoiado pelo prefeito, o diretório da “situação” venceu e com a derrocada, morreram as esperanças de uma reconstrução do projeto coletivo do partido.
Inspirado pela história próxima do amigo Roberto Vasconcelos (PCB), ajudei e iniciei em Rio Preto com apoio fantástico a reconstrução do partido na cidade. Em agosto de 2002, o “partidão” volta com tudo ao cenário político riopretense.
Ainda no PCB, permaneci composto com o governo do PPS até final de 2003 quando saí em virtude das discussões da “privatização do esgoto municipal e a propositura de uma terceira via, abraçada meio a contra-gosto”.
Mas a firme decisão do PCB pela construção “revolucionária”, era um tanto diferente de minha formação “reformista” e após bater de frente com camaradas verdadeiros, foi melhor afastar-me, o que ocorreu em 2005.
Nunca havia participado das fileiras do PT, muito embora desde 1988, os laços de fraternidade com aqueles companheiros teria início para não mais se romper. Porém as atitudes do já “governo” petista, tanto em relação à aposentadoria, o envolvimento com o mensalão e outras posições questionáveis em nome da governabilidade me impuseram uma seta reversa e fui impelido a seguir petistas revoltosos, juntando-me em 2007 aos companheiros do PSOL, com quem estou até hoje, diga-se de passagem, sem muita ação por conta de minha atual situação.
Se é que interessa a alguém esta narrativa pessoal de “inconsistência” ideológica, vale apenas dizer que há nela um processo, um contexto e uma caminhada direcionada para o real sonho de um socialismo (meio) que conduz a uma sociedade justa, igual e verdadeiramente nova.
Esta história não está terminada aqui. Há enfrentamentos ainda, como o mais recente que se compõe da decisão da ex-senadora Heloísa Helena em não disputar a eleição como candidata a presidência, abrindo guarida para saídas nada honrosas. Há a necessidade de se impedir este ou aquele de alcançarem o poder e um quadro nacional a ser avaliado. Há o fato e a probabilidade de se cometer novas infidelidades partidárias...
Enfim, quem avalia de fora e não participa da dinâmica política, muito provavelmente não interpreta ou aceita estas variações constantes de comportamento e bandeiras.
Mas em tudo isso fica uma certeza: sair do PSDB quando este está no poder, sair do PPS quando este está no poder, rejeitar o ingresso ao PT quando este está no poder... não parece ser atitudes de alguém cujos objetivos seja se “beneficiar” da política, não é?

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