segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

"Paz através do Comércio"


Meu amigo Airton Bueno enviou-me a mensagem abaixo para publicação no blog. Segundo ele é oriunda de uma palestra que assistiu em São Paulo dia desses. Este blog é um espaço aberto e as opiniões de meus amigos encontrarão sempre, por aqui, o direito de serem expressas. Ficam no entanto sujeitas ao comentário dos visitantes e provocadores da boa discussão. Bueno, ao lado do Prof. Nilson, de José Antônio e do Prof. Messias é o quarto companheiro que nos envia um artigo. Espero que o próximo seja o seu. Segue o artigo de Bueno para seus comentários de aprovação ou reprovação...

Paz através do Comércio

A globalização chegou a Paraisópolis. Ao som de muito pagode e acompanhado do prefeito Gilberto Kassab, Michael Klein cortou o cordão umbilical da inauguração da primeira Casas Bahia das Favelas Brasileiras.

A favela de Paraisópolis fica no bairro do Morumbi em São Paulo, um dos mais chiques da cidade. Esse acontecimento inédito mostra exatamente a realidade do país em que vivemos, onde milhares de brasileiros da classe AAA vivem lado-a-lado de milhões de brasileiros da classe ZZZ e se conclui que uma maneira de provocar a PAZ no mundo é através do sucesso do comércio.

O exemplo mais famoso do mundo é a Irlanda do Norte. Durante décadas, a violência dos terroristas do IRA matou milhares de pessoas até que a economia começou a melhorar. Em 1990, a República da Irlanda era um dos países mais pobres da Europa. Hoje é um dos países mais ricos e globalizados de todo o continente.

Como conseqüência do desenvolvimento da economia da Irlanda, o desemprego entre os jovens caiu de 30% no final dos anos 80 para menos de 3% hoje.

Ainda que alguém diga que o desemprego não gera violência, fica muito claro que o ódio encontra casa na mente vazia de jovens que não tem nenhuma oportunidade pela frente.

O cientista político da Columbia University Erik Gartzke aponta que a liberdade econômica é 50 vezes mais poderosa que a própria democracia para diminuir a violência no mundo. As suas pesquisas incluem a redução do número de guerras civis como conseqüência do aumento da liberdade econômica. Além disso, o comércio bilateral é uma excelente maneira de reduzir conflitos - quando duas nações estão fazendo negócios entre si, dificilmente entram em guerra.

Pela primeira vez desde o início do Capitalismo, ativistas sociais consideram o comércio como a melhor ferramenta para acabar com a miséria e violência no mundo. A paz baseada no comércio é uma realidade e isso não muda só porque uma tal de crise ronda o mundo nesse momento.

O cientista político Adam Przeworski examinou a experiência de 139 países durante quatro décadas... a probabilidade de uma democracia cair nas mãos de um regime ditatorial é 4 vezes maior se o PIB do país estiver decrescendo ao invés de evoluindo. O seu estudo mostra que toda vez que a renda per capita dobra em um país, o risco do país experimentar golpes de estado ou algo do gênero reduz entre 50% e 70%.

Hitler chegou ao poder na Alemanha porque o país estava na miséria. A Alemanha estava na miséria porque os EUA havia entrado em depressão em 1929. Os EUA entraram em depressão em 1929 porque os intelectuais da época não acreditavam no Capitalismo como força propulsora do mundo, e pressionaram o governo americano para aprovar o Ato da Tarifa Smoot-Hawley que aumentou os impostos de cerca de 20 mil produtos no país, e levou os EUA a depressão. Ou seja, se os intelectuais, jornalistas, professores, artistas e educadores da época tivessem promovido o comércio como fundação para a paz mundial, o Holocausto não teria acontecido.

Nunca é tarde para mudar o mundo. O Capitalismo pisou em Paraisópolis.

"Às 9h30 da última quarta, simultaneamente, as onze portas da loja foram erguidas ao som do Tema da Vitória, aquela musiquinha que embalava as vitórias do Senna na F1. Uma queima de fogos toma o céu. Em seguida, no palco improvisado na entrada da loja, os integrantes do grupo Exaltasamba surgem em cena, levando a platéia ao delírio. O show dos pagodeiros foi o desfecho de uma operação iniciada há um ano para instalar em Paraisópolis a primeira das 550 lojas da rede dentro de uma favela. Após adquirir o terreno de 1 500 metros quadrados na Rua Ernest Renan, principal via comercial da região, a diretoria das Casas Bahia procurou a prefeitura e conseguiu antecipar obras de saneamento ali. Outra negociação resultou em uma espécie de "caminhão do Michael Klein". A União dos Moradores de Paraisópolis recebeu mais de 100 produtos. "Perguntamos o que poderíamos fazer para melhorar a vida deles", conta Klein. "Pediram alguns eletrodomésticos e nós doamos."

A catadora de lixo Conceição Santos Pereira, de 29 anos, ganhou TV, geladeira, armário e panelas. "Um incêndio destruiu minha casa há dois meses", lembra. Em busca de ajuda, procurou a associação e foi atendida. Segundo o presidente da União dos Moradores, Gilson Rodrigues, cada uma das quinze salas de aula do projeto de alfabetização mantido pela entidade ganhou um rack, uma TV, um DVD e um computador. Os demais produtos da lista foram distribuídos "apenas aos mais necessitados", como era o caso de Conceição.

Além da despesa com os presentes, cujo valor não foi divulgado, a empresa gastou mais 2 milhões de reais para pôr em funcionamento a nova unidade. A expectativa da rede é faturar 1,5 milhão de reais por mês com as vendas em Paraisópolis - número semelhante ao das filiais de Pinheiros e Santo Amaro. Cercada por edifícios residenciais de luxo, a favela se estende por 800 000 metros quadrados e reúne 60 000 habitantes com renda familiar de 1.245 reais. Estima-se que existam ali 2 000 endereços comerciais, entre salões de beleza, locadoras, casas de materiais de construção e mercados. Mas não há uma só loja de departamentos. Justamente por isso, a novidade assustou algumas pessoas. "Chegamos a achar que poderia atrapalhar o comércio local", diz Rodrigues. Após um encontro com a diretoria da rede, ele - que garante não ter ficado com nenhum dos presentes - percebeu os benefícios relacionados à vinda do concorrente de peso. Entre janeiro e agosto, a prefeitura recuperou o asfalto no trecho próximo à loja. Instalou também novas tubulações de água e esgoto na Rua Ernest Renan, beneficiando as Casas Bahia e 300 residências. Apenas 30% dos 18 000 domicílios da favela, no entanto, estão conectados ao sistema de água e esgoto. Fonte: Veja SP."

Pelo jeito, vamos precisar de mais uma dúzia de Casas Bahia para conseguir que a prefeitura se mobilize para instalar tubulações de água e esgoto para 100% de todos os moradores.

Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz em 2006, fundador do Grameen Bank de Bangladesh, não está afim de esperar nada. Ele esteve em São Paulo na semana passada e durante a sua palestra disse:

“Tudo o que fazemos é por convicção. Existe uma massa muito grande de pessoas que não têm oportunidades. O crédito tem que ser um direito universal. Eu gostaria de poder chegar a um futuro em que as pessoas só conhecessem pobres como uma peça de museu”, sintetiza Yunus.

Criando um Mundo sem Pobreza é o seu sonho, e as lições que você pode aprender com a experiência de Yunus em confiar nos pobres são:

1. Os pobres são capazes de resolver os seus próprios problemas - a necessidade de sobrevivência lapidou suas habilidades.
2. Os pobres geralmente precisam de poucos recursos para sair da pobreza. Eles estão acostumados a fazer mais com menos, e irão expandir os seus negócios com muita frugalidade.
3. Muitos pobres são pobres porque são explorados por aqueles que emprestam dinheiro a juros proibitivos. Ao fornecer crédito barato, você pode ajudar os pobres a sair da pobreza.
4. Ao ajudar uma família inteira a sair da pobreza, você pode ajudar essa família a sair da miséria permanentemente através de mais dinheiro, economias, capital, melhores condições de vida, e educação.
5. Ao focar os esforços em ajudar as mulheres pobres, os recursos são usados de maneira mais efetiva. 98% dos clientes do banco de Yunus são mulheres.
6. Mulheres pobres são excelentes pagadoras.
7. Algumas necessidades não podem ser atendidas sem adicionar habilidades que os pobres não possuem (tais como desenvolver alimentos nutritivos).
8. Alguns líderes de empresas bem sucedidas estão investindo tempo e dinheiro para fazer a diferença para os pobres criando novas empresas para resolver problemas importantes que matam os pobres (doenças crônicas, mal nutrição, e falta de comunicação).
9. Os negócios sociais usam menos recursos do que uma instituição de caridade ou um órgão do governo e trazem muito mais resultados.

Bangladesh testemunhou o seu nível de pobreza despencar nos últimos anos com essa iniciativa da Yunus. A taxa de pobreza caiu de 74% em 1974-75 para 40% em 2005. A taxa ainda é muito alta, mas o avanço é grande, se você considerar que o país não tem qualquer vantagem natural além da ingenuidade e trabalho duro do seu povo.

O banco de Yunus não é uma ONG, é uma empresa social. Yunus não distribui esmola, ele dá oportunidades para as pessoas se virarem sozinhas. Yunus não é um economista de teorias falidas, mas um pragmático pé no chão que resolve problemas. Como resultado, milhões saíram da pobreza através do comércio.

Não é ficção científica, é a Paz através do Comércio.

Forte Abraço,
BUENO

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